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Independentemente do resultado das urnas no dia 27 de outubro, a jornalista Cristina Graeml, do nanico PMB, entra de forma meteórica no cenário da política de Curitiba — com potencial para, quem sabe, se consolidar em 2026. Ainda não é uma certeza, já que exemplos não faltam de políticos com ascensão meteórica que depois caem, alguns na mesma velocidade, no ostracismo. Cristina começou a corrida eleitoral com 5% de intenções de voto, com taxa de desconhecimento do eleitor de 70%, sem tempo de propaganda política no rádio e na TV, sem fundo eleitoral e, apesar de todos os obstáculos, atropelou experientes adversários e chegou ao 2º turno com Eduardo Pimentel (PSD).
O crescimento vertiginoso se deu na reta final da campanha — no último terço da disputa pelo Palácio 29 de Março. De 16 de agosto até a primeira quinzena de setembro, Cristina Graeml voou abaixo do radar dos adversários — falha grave dos que detinham estrutura robusta. A escalada dela se deu nas redes sociais e a equipe dos concorrentes não monitorou o engajamento dela no ambiente digital.
Em 17 de setembro, a pesquisa Quaest/RPC indicava um alto percentual de indecisos, na casa de 60%. Na reta final, muitos destes desaguaram na campanha da jornalista que a levou ao 2º turno. Fruto de um trabalho muito sólido de mobilização nas redes sociais — típico de candidatos mais conectados com a direita/extrema direita. Quando perceberam o avanço dela junto ao curitibano era tarde demais. Luciano Ducci (PSB) chegou a iniciar uma campanha, tanto nas redes quanto no programa de televisão, mirando o vice de Cristina, advogado Jairo Aparecido Ferreira Filho, que é alvo de uma ação cível de R$ 1 milhão por um suposto golpe numa idosa – o que é rechaçado pela campanha do PMB. Não surtiu efeito.
Mas que eleitor é este que optou por Cristina Graeml no 2º turno? A pesquisa Quaest divulgada na véspera da eleição, e disponível somente nesta quinta-feira (10), revela este perfil. A primeira análise da pesquisa é bastante óbvia: uma considerável parcela do eleitorado que estava com Eduardo migrou para a adversária. Ou seja, ela cresceu em cima do eleitor de Eduardo — ela subia e ele descia. Outra obviedade foi o comportamento do curitibano que votou em Jair Bolsonaro na eleição presidencial de 2022.
Na pesquisa de setembro, da mesma Quaest, 45% dos curitibanos que declararam voto no Capitão há dois anos diziam votar em Eduardo Pimentel. No dia 5 de outubro, este índice caiu para 32%. Cristina Graeml fez o movimento contrário: de 9% ela saltou para 36% — fazendo um X no gráfico que causou arrepios no QG do candidato do PSD.
O perfil do eleitor que abdicou de Eduardo para votar em Cristina é bastante nítido na pesquisa Quaest: homem, evangélico, mais velho (de 60 anos ou mais), com ensino superior completo e com uma renda domiciliar declarada superior a sete salários mínimos. Justamente no perfil que Eduardo detinha nas pesquisas anteriores.
Outro dado que chama a atenção é a consolidação do voto da candidata do PMB: 85% dos eleitores dela disseram que o voto era definitivo e que apenas 15% poderiam mudar na véspera do pleito. Eduardo tinha 75% do eleitorado dizendo que a decisão era definitiva e que 24% poderiam mudar. Apesar desta consolidação, o curitibano acreditava na vitória do candidato do prefeito Rafael Greca e do governador Ratinho Junior. 57% disseram que Eduardo seria o vencedor da eleição e apenas 6% apostavam em Cristina Graeml. Por isso, o sentimento de surpresa de muitos ao ver a candidata do PMB no 2º turno.
Uma das principais missões do novo time de Eduardo Pimentel será conter a adversária nas redes sociais — ou pelo menos diminuir a distância. É lá que está o eleitor de Cristina Graeml reagindo à tudo e à todos — amplificando a voz da candidata do PMB, tal como aconteceu com Bolsonaro em 2018 e tantos outros candidatos mais alinhados a direita/extrema direita.
Já Cristina Graeml, além de tentar ampliar a presença digital, terá de se dedicar aos 10 minutos diários de propaganda eleitoral no rádio e na TV. Uma das críticas já feitas por Eduardo é a falta de propostas da adversária, oportunidade que agora neste 2º turno ela terá de dialogar com o eleitor nos meios de comunicação tradicionais.
Os programas de rádio e televisão serão também importantes, mas não quanto as redes sociais. O comportamento do eleitor está mudando e a direita já enxergou isso — por isso a aposta de Cristina Graeml, de Pablo Marçal no ambiente digital, por isso uma candidata sem propaganda política e sem dinheiro consegue chegar ao 2º turno na eleição de Curitiba deixando para trás campanhas milionárias e candidatos com extensa carreira política.
Outro dado da pesquisa Quaest indica outra mudança no comportamento dos eleitores. Se o debate da Globo, sempre realizado a poucos dias da eleição, historicamente foi tão estratégico para os candidatos, hoje não é tão atrativo assim para os eleitores. Basta ver que 74% dos curitibanos disseram a Quaest que não assistiram ao debate da RPC — afiliada da Rede Globo. É bem verdade que o debate começou as 22h e varou a madrugada terminando próximo de 0h30 de sexta — horário ingrato para quem precisa acordar cedo para trabalhar no dia seguinte.