Ainda é cedo, de fato, para qualquer definição partidária sobre a disputa pela presidência da República em 2026. Mas, ao mesmo tempo, pode ser tarde para buscar a viabilidade política de uma eventual candidatura. Por isso, o governador do Paraná, Ratinho Junior, tem colocado em curso a estratégia para chegar em 2026 com musculatura para encarar de forma competitiva a disputa pelo Palácio do Planalto.
Nos bastidores é nítida a percepção que Ratinho tem feito o dever de casa. Sempre com a cautela para não queimar etapas. Primeiro tratou sobre a possibilidade presidencial dentro do PSD com Gilberto Kassab — o principal cacique. Recebeu o aval para buscar a viabilidade político eleitoral. Buscou interlocutores para chegar e se apresentar aos principais players do mercado financeiro, apresentando os cases da gestão no governo do Paraná e ideias de futuro para o país.
Ciceroneado pelo secretário estadual de Comunição, Cleber Mata, Ratinho rodou por mais de uma vez as redações dos principais jornais e portais de notícias do Brasil com o objetivo único: nacionalizar o nome Ratinho Junior. Foi também em busca de aliados não só dentro do PSD que avalizassem a pré-candidatura.
A candidatura presidencial não depende só de Ratinho Junior. Pelo contrário. É necessária uma conjuntura política favorável. E nesta equação estão, por exemplo, a elegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro e a decisão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) de renovar ou não o mandato no Palácio Bandeirantes. Mas o governador do Paraná está bem posicionado — e as sondagens eleitorais feitas país à fora já lhe dão dois dígitos — descolando dos demais governadores que vislumbram a eleição presidencial.
Agenda de pré-candidato
No fim de semana que passou, Ratinho deixou o jato do governo taxiado no aeroporto do Bacacheri e embarcou na aeronave da família rumo ao Estado do Pará — com a preocupação de não misturar a agenda de governador com a de pré-candidato. É uma linha tênue. Existe, por exemplo, o cuidado da equipe de Ratinho com os gastos nesta fase de pré-campanha — que foi evidenciado em 2022 com Sergio Moro no Podemos e que quase custou o mandato de senador.
No Pará, Ratinho além de discursar, exibiu um comercial, assinado pelo marqueteiro argentino Jorge Gerez, típico de candidato. O vídeo já começou a circular nas redes sociais e foi postado na manhã desta quarta-feira (18) no perfil pessoal de Ratinho Junior.
O comercial já de cara escancara o objetivo: apresentar Ratinho Junior. Ou melhor, Carlos Massa Ratinho Junior. O material conexão com o apresentador Ratinho, pai do governador, e não é por acaso. O comunicador, dono de um programa bastante popular e com penetração, principalmente, no Nordeste, é conhecido e reconhecido em praticamente todo o país.
O governador do Paraná tem na figura do pai uma importante ferramenta eleitoral capaz de dialogar com as regiões Norte e Nordeste — reduto historicamente comandado pelo PT, onde a direita tem dificuldade de acessar.
O comercial
O comercial de 2min e 50 seg, ao apresentar Ratinho Junior, relembra suas origens e a trajetória difícil e vitoriosa desde a saída de Jandaia do Sul, com a família, até ganhar a capital Curitiba — alicerçada no trabalho. Passa pela questão dos estudos e do empreendedorismo até desaguar na vida política. “Sempre vi os mesmos sobrenomes prometendo as mesmas coisas e nada saia do papel”, diz o governador num trecho do vídeo, citando a eleição para deputado estadual, federal até a conquista do governo do Paraná.
A partir daí, o marqueteiro argentino despeja imagens sobrepostas com lettering mostrando e ressaltando as conquistas da gestão de Ratinho — destacando o trabalho, a visão e o planejamento. A peça publicitária discorre sobre o fato do Paraná ter se tornado a 4ª maior economia do país, ultrapassando o Rio Grande do Sul, sobre a geração de emprego, o fato do estado ter o maior salário regional do Brasil e o que mais investe em infraestrutura.
Imagens aéreas e projeções em 3d trazem a Ponte de Guaratuba e algumas obras rodoviárias que estão saindo da prancheta. Pontua o desempenho da educação do Paraná, saltando da 7ª posição para a liderança no IDEB, passa pela segurança pública ao comentar que o Paraná tem os menores índices de criminalidade da história, e se encaminha para o fim citando a saúde, com a liderança na doação de órgãos, nas ações de governo voltadas aos idosos e “no maior programa de construção de moradia do país”.
O comercial fecha com a clara sinalização às pautas identificadas com a Direita. “Acredito na defesa da família, na vida, na propriedade privada, na força do trabalho e na liberdade das pessoas” — num claro recado também aos eleitores e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, que apesar da elegibilidade e da coleção de processos na Justiça, continua sendo o maior nome da direita no país.
“É hora de virar uma página. Uma página de um Brasil moderno e inovador. Um Brasil sem brigas ideológicas, com uma visão clara de futuro, um Brasil onde avançamos unidos e em paz. Esse Brasil é possível e é nele que eu acredito. Eu sou Carlos Massa Ratinho Junior”.
A frase que encerra o vídeo, ao mesmo tempo, captura o sentimento de parte do eleitorado que já não quer nem Bolsonaro nem o atual presidente Lula no comando do país — interrompendo, talvez, uma polarização política que vem desde 2018. Esse comportamento dos brasileiros já é visto nitidamente nas sondagens eleitorais feitas nos quatro cantos do Brasil.
No entanto, a equipe de Ratinho já destacada para pensar em presidência da República em 2026 sabe da importância do apoio de Bolsonaro na eleição — independentemente do futuro político do “Capitão”. É uma linha tênue, acenar para Bolsonaro, para seus aliados e apoiadores, sem “comprar as brigas” travadas pelo ex-presidente, principalmente em relação ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Tudo esta sendo devidamente monitorado pela equipe montada por Ratinho. Cada passo do governador. Já existe até um grupo de whatsapp com as pessoas destacadas para cuidar de cada área nevrálgica de uma campanha eleitoral. Ratinho só pensa em 2026 e, tendo ainda um ano de administração no Palácio Iguaçu, não pode errar ou permitir qualquer desgaste no governo que pode e será usado numa eventual disputa presidencial.
E ainda tem uma última missão a ser cumprida no Paraná: fazer o sucessor — de preferência sem romper o grupo político que o conduziu e o sustentou até aqui.