O 13 de dezembro ficará tatuado na memória do senador Sérgio Moro (União Brasil). Não pelo desespero do aliado Deltan Dallagnol. Não pela aprovação do nome de Flávio Dino ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Os episódios, os gestos, as atitudes e a mortal imagem da fotojornalista Gabriela Biló, da Folha de S.Paulo, do abraço em Flávio Dino, desencadearam uma reação explosiva contra o ex-juiz nas redes sociais.
O eleitor de centro direita parece não ter perdoado o abraço civilizado, seguido pelo sorriso sem graça e pela publicação bombástica da captura de tela do IPhone de Moro. Até as 16h desta quinta-feira, eram mais de 40 mil posts falando sobre Moro, muitos o chamando de traidor. Ele já era um dos assuntos mais comentados no X, antigo twitter. A bem da verdade é que num cenário demasiadamente polarizado, Moro conseguiu a antipatia de lulistas e bolsonaristas.
No WhatsApp, a conversa com Rafael Magalhães, funcionário comissionado do gabinete de Moro no Senado Federal, revela uma estratégia sobre o voto em Flávio Dino. Analistas políticos acreditam que a situação deve ainda piorar, nesta quinta-feira (14), com a repercussão dos fatos e a revelação da identidade de “Mestrão”.
“Mestrão” é o apelido de Rafael Travassos Magalhães, que trabalha no gabinete de Moro e, anteriormente, era funcionário do deputado estadual do Paraná Ricardo Arruda. Rafael ou “Mestrão”, que até a publicação desta reportagem já tinha mais de 13,8 mil postagens no X, é mencionado numa investigação do Ministério Público do Paraná por suspeita de crime de “rachadinha”.
Reportagem do colunista Lauro Jardim, do O Globo, cita que “Mestrão” é citado pelo MP numa lista de “operações financeiras suspeitas” na equipe de Arruda, e que ele teria feito, de acordo com dados do Coaf, saques em espécie, correspondentes a 70% do rendimento que tinha quando estava lotado na Corregedoria da Assembleia Legislativa do Paraná, na época chefiada pelo deputado bolsonarista.
As movimentações teriam envolvido valores repetitivos, com indícios de fracionamento, sempre em datas próximas ao final de cada mês — uma das características do crime de “rachadianha”.
Moro responde — No mesmo twitter, quer dizer X, o senador se defendeu. “Não me surpreende o intensivo ataque daqueles que desejam ocupar o cargo que legitimamente conquistei nas urnas, com o apoio do povo paranaense. Aos meus eleitores e apoiadores, digo: não divulgar o voto na indicação de autoridades é uma prerrogativa do parlamentar”.
Em seguida, a constatação de que Moro conseguiu despertar agora a ira tanto de seguidores de Lula quanto de Bolsonaro. “O intenso ataque que tenho sofrido do atual governo Lula, de parte do próprio PL paranaense, além das ameaças do PCC, fazem-me agir, nesse momento, com cautela e no exercício efetivo de uma prerrogativa que tenho, tudo de forma a preservar minha independência. Nada disso, porém, contradiz a minha lisura e as bandeiras que sempre defendi e continuarei defendendo no Senado. Nessa linha, hoje, com meu voto, derrotamos o Governo e restabelecemos a desoneração da folha de salários e o Marco Temporal, além de termos conseguido derrubar outros vetos de Lula. Sou oposição e seguirei lutando contra esse Governo. Outras vitórias virão e serão crescentes”.