Sem confronto direto entre candidatos, debate morno entrega mais do mesmo ao eleitor

Quem esperava um embate mais acalorado nesta reta final da campanha eleitoral em Curitiba se decepcionou. O debate da RIC/Jovem Pan News, na noite de sábado (28), que reuniu 6 dos 10 concorrentes ao Palácio 29 de Março foi morno. Muito morno. O formato do debate focou mais nas perguntas dos jornalistas do Grupo RIC, com comentários dos adversários, deixando de lado o embate direto entre os concorrentes. Uma ou outra tentativa de provocação que não foi correspondida. Os curitibanos que optaram por assistir, ao invés de curtir a noite quente de sábado, viram mais do mesmo.

Foto: Igor Correa/RIC

Com base na última pesquisa divulgada pelo Instituto Radar, a expectativa, em especial, era em torno do desempenho e das estratégias de três candidatos: Eduardo Pimentel (PSD), que lidera a corrida eleitoral, Luciano Ducci (PSB) que aparece consolidado na segunda posição, e Ney Leprevost (União) que vem em terceiro. Eduardo já sabia o que o esperava: todos os concorrentes iriam fazer críticas à gestão da Prefs e tentariam, de alguma forma, desestabilizá-lo para que ele cometesse um erro. A estratégia era responder tudo e todos apresentando suas propostas, mas explicitando, aos indecisos, que Curitiba estava melhor do que antes e que precisava seguir no caminho trilhado pelo prefeito Rafael Greca. Para quem sabe liquidar a fatura no 6 de outubro.

Ducci, por sua vez, sabia que também poderia ser alvo daqueles que buscam chegar ao segundo turno. Com Eduardo à frente, um dos focos seria desidratar o ex-prefeito, principalmente colando a imagem dele à esquerda e ao presidente Lula. Portanto, não seria nada mal se ele quase “passasse desapercebido” e assim se garantir num eventual segundo turno.

Ney entrou, em tese, “mais pressionado” precisando tirar votos dos adversários, e conquistar os indecisos, para chegar ao segundo turno. O foco, portanto, estava tanto em Eduardo quanto em Ducci e não foi nem uma ou duas vezes que ele mirou em ambos. Mas a mira principal era o candidato do PSD, já que ele disputa o voto da direita e dificilmente herdaria eleitores da esquerda. O objetivo era carimbar o PT em Ducci para que o curitibano tirasse a possibilidade da esquerda chegar num eventual segundo turno. E, ao mesmo tempo, desgastar Eduardo para atrair os indecisos — que segundo pesquisa espontânea da Radar são 47,7%.

Desde o início, é bem verdade, Ney e Luizão Goulart (Solidariedade) pareciam mais afiados e dispostos a “emparedar” o candidato da situação. Já na primeira participação, o candidato do União citou en passant, sem explicar, uma compra de estátua superfaturada por parte dos atuais gestores, mas o vice-prefeito não reagiu. Aliás, está foi uma tônica do debate, tanto é que, nas considerações finais o candidato do PSD afirmou que ele parece pão, quanto mais bate, mais cresce — num recado aos concorrentes.

Radar ganha destaque no debate

Os assuntos debatidos na RIC foram os mesmos que permeiam os programas eleitorais, as sabatinas e entrevistas com os candidatos: saúde, segurança, transporte público, preço da tarifa de ônibus, falta de creche, fila de exames com especialistas, morador de rua, corte das árvores na Arthur Bernardes, dentre outros. Mas talvez o mais comentado tenha sido os radares — preocupação que está bem longe das prioridades dos curitibanos.

No segundo bloco, o momento que gerou mais expectativa foi quando Eduardo foi questionado sobre os radares de Curitiba e Maria Victoria foi escalada para comentar. A progressista tem dedicado um grande tempo da campanha de rádio e TV para tratar sobre os radares, inclusive travou uma briga judicial com a campanha de Eduardo que tentou impedir que ela abordasse o tema nos comerciais — alegando desinformação. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE), no entanto, não deu guarida e permitiu que a candidata continuasse tratando do assunto.

Expectativa… e realidade… Os dois expuseram seus posicionamentos antagônicos: ela dizia ser possível o prefeito fazer advertência antes da multa e ele sustentando que o assunto é regido pelo Código Brasileiro de Trânsito. Na tréplica, afirmou que o vice-prefeito estava enganado “porque é prerrogativa do prefeito”.

Ratinho Junior, Lula e Bolsonaro “apareceram” nas considerações finais. Sergio Moro nem citado foi no debate. Luciano Ducci (PSB), que é o candidato de Lula em Curitiba, só citou o presidente da República para minimizar o apoio dos padrinhos políticos. Disse que não é o prefeito Greca, o governador Ratinho, nem Bolsonaro e Lula que vão se sentar na cadeira de prefeito. Luizão apostou na experiência, dizendo ter saído da prefeitura de Pinhais com uma taxa de 94% de aprovação.

Ney Leprevost usou seus 90 segundos finais do debate para rotular seus dois principais adversários: afirmou que Ducci é o candidato do PT, do partido comunista e socialista do Brasil. E se referiu a Eduardo como candidato que representa a velha política, da indústria da multa dos radares, da tarifa de ônibus mais cara do país, das 200 mil consultas e exames em atraso na saúde e da gestão que aumentou em 300% o IPTU. E ao final dialogou pediu votos aos indecisos.

Eduardo, por sua vez, se afastou das provocações e nas considerações finais citou seus cabos eleitorais: Greca, Ratinho e Bolsonaro. E num recado aos adversários afirmou que “quem bate está desesperado, está mal na pesquisa”, para depois comentar que, assim como pão, quanto mais batem, mas ele cresce na pesquisa.

Debate dos excluídos nas redes sociais

Foto: Reprodução Youtube

Mas as críticas apresentadas a Eduardo na RIC pareciam carinho quando comparado ao que foi dito no “debate dos excluídos” feito nas redes sociais e que reuniu Cristina Graeml (PMB), Felipe Bombardelli (PCO), Roberto Requião (Mobiliza) e Samuel de Mattos (Pstu).

Os quatro não foram convidados para o debate na RIC porque seus partidos não têm representatividade no Congresso Nacional. Optaram então, por fazer uma live nas redes sociais no mesmo horário do debate da RIC.

A audiência, no entanto, decepcionou — assim como a expectativa em torno do debate da RIC.

Metodologia: O instituto Radar Inteligência entrevistou 816 pessoas entre os dias 21 e 23 de setembro. A pesquisa, registrada sob o número 03407/2024, tem grau de confiança de 95% e uma margem de erro é de 3,5% para mais ou para menos.

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