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Requião aposta no legado político para sensibilizar o eleitor em 2024

A grande aposta de Roberto Requião (Mobiliza) para as eleição de Curitiba é o seu legado político — prefeito de Curitiba de 1986 a 1989 e governador do Estado por três vezes (1991-1994/2003-2010). Apesar da vasta experiência política eleitoral, Requião debuta em 2024 numa situação inusitada: não está acostumado a participar de campanha sem tempo de rádio e TV e sem recursos. Disputando o Palácio 29 de Março pelo nanico Mobiliza, que detêm um fundo partidário de R$ 3,4 milhões para custear candidaturas em todo o país, e sem representatividade no Congresso Nacional, Requião, quem diria, investe nas redes sociais para contar aos curitibanos seus feitos como prefeito de Curitiba e governador do Estado.

Por isso, toda e qualquer debate, sabatina e entrevista em que é convidado, Requião veste a tradicional camisa jeans azul, sua marca registrada, e vai apresentar suas propostas para administrar Curitiba — uma capital bem diferente que ele encontrou no final da década de 80. “Eles têm medo de debater comigo. Eles não querem o confronto. Um é prefeito hoje (sic), o Eduardo Pimentel Slaviero e outro (Luciano Ducci) já foi prefeito. Não fizeram rigorosamente nada na prefeitura. E eu entrei nisso por causa deste vazio”, disse.

Requião foi o segundo candidato a prefeito de Curitiba sabatinado Rádio e Portal Banda B em conjunto com o Blog Politicamente. Para a série de entrevistas, foram convidados seis dos dez concorrentes que obtiveram o mínimo de 5% das intenções de votos na pesquisa Radar, contratada pela Banda B, registrada sob o número 03410/2024 no Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Nesta quarta-feira (10), a sabatina será com a candidata Maria Victoria (PP), das 13h15 às 14h.

Num determinado momento da entrevista, Requião reafirmou que não é candidato nem do presidente Lula, nem do ex-presidente Bolsonaro tampouco do lavajatismo. E disse acreditar que, assim como ele, o eleitor curitibano que votou em Lula em 2022 está decepcionado com a gestão petista e criticou a Frente da Esperança, formada por PT, PV e PCdoB, que escolheu Luciano Ducci (PSB) como candidato a prefeito de Curitiba. “É a frente da desesperança”.

Requião: ativo e antenado

Com 83 anos e bastante ativo, Requião se mostra antenado com a vida digital. Muitas de suas propostas do plano de governo preveem a implantação de Inteligência Artificial como soluções de problemas nas mais diversas áreas: desde serviços públicos passando pela saúde, gestão de resíduos sólidos e na mobilidade urbana.

Chama a atenção, por exemplo, o projeto que cria um aplicativo de transporte de passageiros público — nos mesmos moldes do Uber, com a diferença que os pagamentos seriam feitos ao município e não para uma empresa privada. “O Uber gera lucros fantásticos para a Arábia Saudita e para os Estados Unidos, o motorista ganha uma miséria. É uma vergonha isso”, afirmou Requião. Ele explica que o percentual de lucro da gestão pública seja apenas para custear a manutenção do aplicativo, enquanto que o restante seria destinado tanto para uma maior remuneração do motorista, quanto para a redução da tarifa para o usuário.

Falando em transporte público, Requião propõe uma mudança na forma de cobrança da tarifa de ônibus. Ao invés de pagar pelo número de passageiros, como atualmente é feito, o candidato do Mobiliza quer mudar, pagar por quilometro rodado. “Eu fiz isso quanto fui prefeito. Eu já fiz e faço de novo. Assumo e coloco uma frota pública e pago por quilometro e não por passageiro”, compara. Caso seja eleito, Requião não pensa em novos modais, pensa sim nos moradores dos bairros.

“Eu e o [Jaime] Lerner somos planejadores urbanos. E nós não fizemos o metrô. É um custo fantástico e desnecessário. O metrô de superfície é genial, mas hoje nos bairros as pessoas andam em ônibus lotados”.

Mas não descartou, por exemplo, o VLT que vem sendo pensado pelo Governo do Estado para ligar o Centro Cívico ao aeroporto Afonso Pena — desde que não seja com recurso público. “Só se for privado. Quem vai para o aeroporto de táxi ou de carro tem como pagar a tarifa do VLT, mas minha prioridade são as pessoas que andam em ônibus lotados nos bairros”, repetiu Requião.

O ex-prefeito e ex-governador também comentou a questão dos radares e multas em Curitiba — tema recorrente nas últimas eleições. Requião criticou a falta de padronização da velocidade e chegou a classificar a atuação dos radares como “pegadinha”. “Multa e radar podem existir para disciplinar o transito e não para achacar o motorista e fazer lucro para iniciativa privada e a prefeitura”, criticou.

Requião aposta no conceito de Polícia Comunitária

Outro tema muito presente nas eleições em Curitiba é a segurança pública. Há décadas Requião aposta no conceito de Polícia Comunitária, dos agentes de segurança mais perto das pessoas na qual autoridade e população se conhecem pelo nome. Na avaliação do candidato do Mobiliza, ela estaria presente nos bairros onde há uma incidência maior de ocorrências. “Nos bairros mais afastados, você vai viabilizar o policiamento comunitário, porque a violência é maior”, disse. Garantiu que, se eleito, vai determinar que os guardas de Curitiba utilizem as bodycam, câmeras corporais que registram a atuação deles numa ocorrência.

Ele citou como exemplo a Vila Zumbi dos Palmares, em Colombo, na região metropolitana. “Era a região mais violenta do Paraná”, recordou Requião. A comunidade surgiu em 1991 e passou por uma transformação com a organização da comunidade com projetos nas áreas de saneamento, saúde e segurança. “Pus a polícia lá dentro. Evidente que ainda sobrou algum marginal naquele processo, que acabou se retirando sem que a polícia precisasse agir, porque a comunidade estava organizada”. Sobre a ideia de dar poder de polícia à Guarda Municipal, Requião apenas afirmou que “não quer dar nem não dar” e que “quem resolve poder da polícia é o Congresso Nacional”.

Requião pretende se debruçar inicialmente na formação da equipe de secretariado e no transporte coletivo, caso seja eleito em outubro. “Fazer com que seja o melhor e mais barato do Brasil”, afirmou. E em caso de revés nas urnas, não pensa em aposentadoria. Falando nisso… com relação à aposentadoria especial de ex-governador, direito que ele busca no Supremo Tribunal Federal, Requião lembrou, por exemplo, que seus dois vices, Mário Pereira e Orlando Pessuti, recebem atualmente o benefício e ele não.

Do alto dos 83 anos ele não pensa em parar de fazer política. Pelo contrário. Espera viver “ao menos mais 30 e poucos anos”, todos eles na política.

“Acho isso fundamental. Discutir ideias e levantar o nível de consciência do povo. O Brasil só muda quando o nível de consciência popular tiver numa altura de entendimento sobre o que acontece.”

 

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