O governador Ratinho Junior está disposto a trazer um antigo aliado para compor o novo secretariado. Na bolsa de apostas do Palácio Iguaçu, o nome de Valdemar Jorge, que já foi presidente estadual do Republicanos e hoje está filiado ao Novo, é dado como certo na equipe do 1º escalão do governo. Valdemar já foi secretário de Planejamento e Desenvolvimento Sustentável de Ratinho Junior.
A tendência, diz uma fonte bem informada do Palácio Iguaçu, é que Valdemar deva ocupar a secretaria de Administração e Previdência, mas existe a possibilidade dele comandar o Detran — órgão que detêm um gordo orçamento e, por isso, Ratinho gostaria de colocar alguém de sua plena confiança. Cautela e canja de galinha, às vésperas de uma disputa presidencial, não fazem mal a ninguém. Valdemar Jorge, no entanto, deve ficar até abril de 26 no governo, quando vai se descompatibilizar para disputar uma cadeira na Câmara Federal.
Na pasta do Trabalho, hoje comandada por Mauro Moraes (União Brasil), não há mais dúvidas. O atual titular já foi avisado por João Carlos Ortega, chefe da Casa Civil, da mudança. O deputado Do Carmo, do mesmo partido, é o mais cotado para comandar a secretaria. As reuniões protocolares que antecedem a batida do martelo serão realizadas ao longo da manhã desta segunda-feira (24).
A saída de Mauro Moraes guarda relação direta com a guerra surda instalada nos bastidores do União Brasil em torno do comando partidário no estado. De um lado, o atual presidente, deputado federal Felipe Francischini e do outro o senador Sergio Moro — que é pré-candidato ao governo do Paraná e quer comandar a legenda para evitar qualquer surpresa desagradável no ano eleitoral.
Mauro Moraes é mais próximo do senador e tem defendido a candidatura do ex-juiz da Lava Jato ao governo. E não tem escondido isso — apesar de Ratinho sinalizar que quer construir um sucessor do PSD. Inclusive, numa viagem no avião do governador, o ainda secretário do Trabalho teria externado para Ratinho e alguns deputados presentes, que acredita que Moro será o próximo governador.
Mauro Moraes vai deixar a secretaria com sentimento de gratidão ao governador. “O importante é dizer que saio consciente que cumpri com a missão que o governador me deu de levar o Paraná a ser o maior celeiro de empregabilidade e de qualificação profissional do Brasil”, disse o secretário ao Blog Politicamente.
Um governador em campanha não quer briga com ninguém

Diante da disputa bélica dentro do União Brasil e pensando no xadrez político da eleição presidencial, Ratinho sinaliza que não quer romper com o partido ao manter as secretarias da Justiça e do Trabalho com o partido de Antonio Rueda. Mas resolveu atender ao pedido de Felipe Francischini. A entrada de Do Carmo na secretaria do Trabalho não é bem vista por Sergio Moro — já que os dois trocaram acusações pesadas em agosto do ano passado.
O motivo, na época, foi o posicionamento político e o destino do União Brasil na disputa pela prefeitura de Maringá. Do Carmo se colocava como pré-candidato enquanto Moro defendia uma neutralidade. O deputado acabou saindo da disputa, mas não sem antes dizer que estava sendo vítima de racismo. O senador abriu a caixa de ferramenta e, ao se defender, acusou Do Carmo de corrupção quando era policial militar por ter, supostamente, pedido propina de R$ 40 mil para liberar contrabandistas. O clima azedou de vez.
Essa mexida no Trabalho, portanto, é uma demonstração de força política de Felipe Francischini. Mas Moro não deve passar recibo — até porque ele pensa num improvável apoio de Ratinho em 26. O senador deve escalar Mauro Moraes para ajudar na articulação política no interior. Agora, caso Moro venha a tomar o comando do UB no Paraná, o governador terá de fazer uma nova mexida na pasta do Trabalho.
Uma das apostas de Moro para presidir o União do Paraná é na federação com os Progressistas, mas há quem diga que a junção das siglas subiu no telhado. Outra aposta é que o senador paranaense tem o apoio de ninguém menos que Davi Alcolumbre — presidente do Senado Federal.
Mas Rueda sabe que com Moro no comando do partido, o União Brasil pode desidratar em 26. E se tem uma coisa que cacique partidário prioriza nas eleições gerais é o número de cadeiras na Câmara Federal — que lhe rendem mais fundo partidário e tempo de rádio e tv, moedas importantes numa costura política em ano eleitoral.
As consequências da nomeação de Guto

Enquanto observa o desfecho da guerra interna no União Brasil, Ratinho Junior faz questão de sinalizar a Antonio Rueda, mandachuva do partido, que as relações políticas no Paraná vão muito bem obrigado — apesar da pré-candidatura já posta por Moro. Não é interessante para ninguém um rompimento entre as legendas, já que o governador vai buscar o apoio do União no desenho da disputa nacional, enquanto Moro nutre o desejo de uma composição com Ratinho.
Até 2026, portanto, União e PSD vão falar a mesma língua. Mas, durante este tempo, Ratinho vai tentar vitaminar o seu candidato a sucessor no Palácio Iguaçu — muito provavelmente Guto Silva ao alçá-lo a secretário das Cidades, sem, no entanto, podar as iniciativas de Alexandre Curi e Rafael Greca, ambos do PSD, de viabilizar suas candidaturas ao Iguaçu.
Agora, a nomeação de Guto na pasta das Cidades tem sido vista com extrema cautela e preocupação por palacianos de cabeça branca. O receio é provocar um provável racha no PSD, por conta da predileção do nome de Guto Silva para a eleição de 26, e, não menos temeroso, uma cisão dentro do Palácio Iguaçu — expondo os dois grupos políticos antagônicos: o de Guto e o de Ortega.
Uma saída salomônica, que poderia evitar desgastes internos e externos, seria diminuir a tinta da caneta de Guto Silva na pasta das Cidades — experiência já vivida por Ratinho Junior quando ele comandava a então Secretaria do Desenvolvimento Urbano no governo Beto Richa. Para toda e qualquer liberação de recursos, Ratinho precisava do aval do então chefe da casa civil Valdir Rossoni.
Esta solução, se adotada por Ratinho, seria uma sinalização tanto para os pré-candidatos do PSD quanto para o grupo político de Ortega. Mas se Guto Silva tiver plena autonomia na pasta das Cidades o último entrave seria Norberto Ortigara, secretário da Fazenda, dono da chave do cofre e mais simpático ao grupo de Ortega, a realizar sucessivas suplementações orçamentárias.
Há quem diga que Ratinho, embora esteja muito inclinado a levar Guto Silva para a secretaria das Cidades, teria refletido, por pouco tempo é verdade, em deslocar Ortega para a secretaria das Cidades e Guto Silva assumiria, novamente, a Casa Civil — pasta cujo DNA é a articulação política.
Mas o que fontes do Blog Politicamente garantem é que o governador já decidiu que vai colocar Guto na secretaria das Cidades, apesar de estar ciente das consequências que estão por vir. Até agora, o governador foi muito hábil em conter a ciumeira interna, mas, a praticamente um ano de deixar o cargo para alçar voos maiores, os palacianos de cabeça branca acreditam numa erupção política após o anúncio do novo time de secretários.