O anúncio de Marco Brasil (PP) para a secretaria da Indústria, Comércio e Serviços e do deputado estadual Do Carmo (União Brasil) para a pasta do Trabalho, Qualificação e Renda encerra a reformulação no 1º escalão e, ao mesmo tempo, dá o tom das mexidas pontuais promovidas por Ratinho Junior.
Marco Brasil e Do Carmo simbolizam, na essência, o caráter político que o governador adotou nesta que deve ser a última reforma no time de secretários de Estado — corroborada com a chegada dos ex-prefeitos Rafael Greca (Curitiba), Leonaldo Paranhos (Cascavel) e Ulisses Maia (Maringá) ao Palácio Iguaçu. Marco Brasil, que é um locutor de rodeios, é quem vai comandar a secretaria cujo um dos focos é “criar um ambiente de negócios favorável no estado”. E Do Carmo, que é policial militar, será o responsável pelas políticas de geração de emprego no Paraná. Peixes fora d’água.
No frigir dos ovos, só mudam os personagens. Fala mais alto a costura político partidária envolvendo o PP e o União Brasil — que seguirão comandando as secretarias, pelo menos até abril de 2026 quando vão afunilar as decisões sobre o pleito. Em 2025, Ratinho não quer romper laços partidários com nenhum aliado.
O principal recado de Ratinho com a reforma do secretariado, portanto, é de que ele está pensando no projeto presidencial, — nada mais que normal, tendo até escalado uma meia dúzia de aliados que já pensam, planejam e atuam no foco Palácio da Alvorada. Algumas diferenças pessoais e políticas foram deixadas de lado para não perder o protagonismo eleitoral na sucessão no Palácio Iguaçu.
Por isso, tratou de “varrer para dentro” os ex-prefeitos das maiores cidades do Estado que encerraram seus mandatos em 2024 — com exceção de Chico Brasileiro (Foz do Iguaçu) e Marcelo Belinati (Londrina). Nestes municípios, o governador se empenhou pessoalmente para eleger, respectivamente, o General Silva e Luna e Tiago Amaral.
Sinal para sucessão

A indicação de Guto Silva para a secretaria das Cidades foi sim um sinal de predileção em torno da ideia de sucessão, mas houve também um aceno de Ratinho Junior aos demais postulantes ao governo do Estado — leia-se Alexandre Curi e Rafael Greca, os dois do PSD. Ratinho vai deixar o trio correr solto em busca da viabilidade política para 26, pelo menos no discurso, mas não vai admitir jogo sujo — o que poderia, a depender da intensidade da canelada, provocar arranhões na gestão do governo podendo comprometer a imagem nacional.
O dever de casa para Ratinho, a partir de agora, será evitar a desintegração do time interno já que um grupo do Iguaçu não viu com bons olhos a ascensão de Guto Silva e prevê instabilidades ao longo de 2025.
A intenção de não causar qualquer cisão na base de apoio está escancarada justamente na permanência do União Brasil com as pastas do Trabalho e da Justiça — embora o partido tenha o senador Sergio Moro como pré-candidato ao Iguaçu, o que pode atrapalhar os planos do governador quando o assunto é sucessão.
Esperava-se também uma ruptura com o PP, que nas eleições de 2024 fincou candidaturas que ameaçaram o xadrez político desenhado por Ratinho e João Carlos Ortega. Mas como o PP prevaleceu só em Maringá, como já era esperado, os progressistas seguem sob as asas do governador — embora, até as pedras do Centro Cívico sabem que o PP vai em busca de um nome forte para disputar o governo em 26.
A tendência é de uma relação pacífica do PP e União Brasil ao longo de 2025, mas as coisas devem mudar a partir de 26. Em outras palavras, promessa de juras de amor em 25, sem nenhum compromisso para o ano que vem.
Sem brigas
Ao mesmo tempo que Ratinho não quer briga política com nenhum aliado, a recíproca também é verdadeira. Com uma aprovação de gestão na casa de 80%, muitos esperam ter o apoio de Ratinho Junior em 2026 — inclusive Sergio Moro, apesar de palacianos consideraram hoje pouco viável. Mas isso é hoje. Até 26 muita coisa pode acontecer e o pragmatismo político pode falar mais alto no momento das definições partidárias.
Prova disso, foi o silêncio de Sergio Moro quando da indicação de Do Carmo para o Trabalho. Os dois são inimigos políticos e em 2024 protagonizaram uma troca pesada de acusações. O ex-juiz da Lava Jato revelou documentos em que o deputado estadual e agora futuro secretário de Estado teria pedido propina de R$ 40 mil quando era policial militar rodoviário — o que foi na época rechaçado por Do Carmo. O deputado, por sua vez, revidou dizendo que Moro era racista ao defender a neutralidade do União Brasil na eleição de Maringá. Para quem esperava um twett de Moro sobre a indicação, segue aguardando.
A reforma do secretariado mostrou ainda que houve um inchado da máquina pública quando comparado lá com o ano de 2019 — primeiro ano de Ratinho no Iguaçu. Se antes eram 15 secretarias, hoje são 24. Só oito secretários que começaram no governo permanecem como responsáveis por alguma pasta no Executivo, sendo que apenas dois estão na mesma função: Sandro Alex na Infraestrutura e Beto Preto na pasta da Saúde.
Muitas secretarias foram desmembradas em duas e, em alguns casos, até em três. A Secretaria da Família, Justiça e Trabalho que em 2019, por exemplo, era comandada por Ney Leprevost, hoje Rogério Carboni responde pela Família, Santin Roveda pela Justiça e Do Carmo pela pasta do Trabalho. Não há receita diferente para abrigar tantos aliados políticos.
Detran e Fomento
Ratinho mexeu cirurgicamente em oito secretarias e, segundo o governo, não deve mais mudar o time de secretários. Mas não estão descartadas movimentos pontuais — em especial no Detran e na Fomento Paraná. Valdemar Jorge, do Novo, aguarda uma agenda de Ratinho nesta semana para conversar sobre o convite feito por Ortega para assumir o Departamento de Trânsito.
Desde 2019, Valdemar vem ouvindo que seria atendido com a secretaria da Agricultura. Não veio no anúncio do primeiro secretariado nem nas reformas já promovidas ao longo destes anos. E nesta que deve ser a última chamada, a pasta foi para Márcio Nunes.
Alguns palacianos de cabeça branca e com boa memória, lembram da dedicação de Valdemar Jorge em 2018, na época no comando do Republicanos, na costura partidária para tirar Edson Campagnolo (na época presidente da Fiep) do jogo político colocando o então PRB na aliança de Ratinho Junior. Naquele momento, uma jogada política bastante elogiada.
Outra mexida que pode acontecer é na Fomento Paraná. O governo ainda aguarda uma manifestação do Banco Central quanto a indicação de Claudio Stabile para a presidência da instituição. Embora, no Iguaçu há quem diga que já começou a ser desenhado um plano B por conta desta demora do BC e também da investigação em curso do Ministério Público do Paraná e o Tribunal de Contas do Estado sobre os contratos sem licitação de empresas para empréstimos consignados no Paraná — uma vez que todos estes contratos foram firmados pela secretaria de Administração, na época de responsabilidade de Claudio Stabile.