Se a eleição geral de 2026 fosse hoje e dependesse tão somente do eleitor de Curitiba, a disputa pelo governo do Estado estaria polarizada entre o senador Sergio Moro (União Brasil) e o ex-prefeito de Curitiba, Rafael Greca (PSD) — com vantagem numérica para o pré-candidato do partido do governador Ratinho Junior, dentro do cenário que os dois aparecem tecnicamente empatados dentro da margem de erro. Os dados são da pesquisa IRG.
Já na corrida pelas duas vagas ao Senado Federal, que estarão em jogo no ano que vem, Cristina Graeml (Podemos) e Luciano Ducci (PSB) pularam na frente — muito em função do rebote da eleição para a prefeitura de Curitiba em 2024.
Na concorrência pela sucessão de Ratinho Junior pelo Palácio Iguaçu, Rafael Greca é quem lidera, numericamente, a corrida eleitoral. O ex-prefeito aparece com 26,8% contra 25,9% de Moro. Em seguida, vem uma série de “surpresas” eleitorais: Requião Filho (10,8%), Paulo Martins (9,8%), Delegado Francischini com 6,2%, Ênio Verri com 5% e fechando o primeiro cenário, tem Guto Silva com 3,4%. Não sabem ou não responderam somam 4,1% e branco/nulo 8,1%.
O IRG trouxe um segundo panorama — sem Rafael Greca. Neste caso, Moro lidera com 40,4% bem à frente dos demais: Requião Filho (14,5%), Alexandre Curi (8,2%), Ênio Verri (6%), Guto Silva (4,5%) e Cida Borghetti (4,3%).

Os números são um retrato da realidade em 2025, mas, acima de tudo, sinalizam movimentos políticos que, para alguns, precisam ser corrigidos e para outros impulsionados. A presença de Greca no topo da lista de preferência do eleitor curitibano, em um dos cenários, é perfeitamente compreendido depois de oito anos de gestão no Palácio 29 de Março. Rafael Greca conseguiu, como numa simbiose, vincular a imagem dele com a de Curitiba.
O desafio, porém, é expandir este prestígio político para os paranaenses. Para isso, o ex-prefeito vai rodar o estado, dentro das limitações físicas, como secretário de Desenvolvimento Urbano. Outro obstáculo será viabilizar a candidatura dentro do PSD. Greca está bem atrás na lista de preferências do governador para sucedê-lo no Iguaçu.
A dificuldade no PSD é inversamente proporcional ao cenário dentro do PP de Ricardo Barros. O tapete vermelho já foi para lavanderia e será estendido ao ex-prefeito da capital no caso de uma, cada vez mais provável, filiação no progressistas. Barros sonha ter Greca como cabeça de chapa e acredita ser perfeitamente viável enfrentar o candidato do governo.
Moro segue surfando a onda do trabalho como juiz da Lava Jato — que o levou ao Senado Federal, desbancando o candidato de Ratinho e Bolsonaro em 22. A onda, é bem verdade, tende a se tornar cada vez mais uma marola, mas até lá, o senador paranaense segue bem nas pesquisas de intenção de voto. A popularidade nacional deixa o nome Sergio Moro vivo na cabeça do eleitor. A dúvida é se o lavajatista começa a disputa no teto de intenção de voto.
O problema para o senador em 26 é a articulação política. Escolhas erradas no pleito municipal do ano passado exacerbou a dificuldade. Moro tem que torcer para a federação União/PP sair e contar com a benevolência de Ricardo Barros para construir um grupo político de sustentação. É preciso também contar, pelo menos, com a simpatia do bolsonarismo, para não sofrer desgaste dos apoiadores de Jair Bolsonaro — já que dos simpatizantes de Lula a repulsa é uma certeza.
Mudar o mindset é outra necessidade urgente de Moro para 26 — o combate à corrupção é um dos temas, não o único numa disputa de quem quer governar o Estado.
Surpresas eleitorais
Algumas surpresas apareceram no levantamento do IRG. O desempenho de Requião Filho chama a atenção — muito em função da grife do sobrenome, presente há mais de 20 anos em disputas eleitorais. Paulo Martins, recém-eleito vice-prefeito de Curitiba, também surpreendeu — já que, mesmo tendo participado da eleição de 24, ficou “escondido” durante todo o 1º turno por uma decisão errada do time que comandou a Prefs até dezembro de 24.
E o que falar do ressurgimento do Delegado Francischini — com 6,2% de intenção de voto ao Iguaçu? Cassado em 2018, após votação inédita para a Assembleia Legislativa, Francischini está pronto para encarar novamente as urnas.
Depois de oito anos no ostracismo político, como consequência da perda do mandato, o delegado não deve arriscar uma candidatura ao governo — pelo receio de ficar mais quatro anos fora da vida política. A tendência é que ele concorra a uma das 30 cadeiras na Câmara Federal — mesmo que isso ameace a reeleição do filho, Felipe Francischini. Questão que terá de ser dirimida dentro de casa.
Ênio Verri do PT parece ser a única opção da esquerda — dentro da ideia de candidatura raiz, puro sangue do PT. A ideia de formar uma frente ampla com outras legendas canhotas não vingou no pleito municipal de 24, mas pode ser adotada novamente. O PT precisa de um palanque forte para o processo de reeleição de Lula no Paraná — estado refratário ao presidente — mesmo que este palaque seja erguido com palafitas. Ênio, no entanto, torce para permanecer comandando da poderosa usina de Itaipu.

No fim da fila de preferência do eleitor de Curitiba está ninguém menos que Guto Silva — que foi alçado à poderosa secretaria das Cidades na reforma feita por Ratinho. Um palaciano com experiência em corrida eleitoral diz que o desempenho na pesquisa IRG não preocupa — pelo menos não agora. A tendência é que o governador dê holofote para o mais novo secretário das Cidades em anúncios de obras populares por todo o Estado. E assim começar, quem sabe, um arranque nas pesquisas.
Alexandre Curi, presidente da Assembleia Legislativa, já engoliu seco a nomeação de Guto, colega de PSD, para a pasta das Cidades. Ele entendeu o recado de Ratinho, mas vai concentrar forças para viabilizar a candidatura ao governo e esperar uma decisão do governador sobre a sucessão. O desempenho no levantamento do IRG, com 8,2%, não preocupa o neto do Buda, embora outras sondagens tenham lhe dado números mais otimistas.
Com mais de duas centenas de prefeitos prontos para trabalhar como cabos eleitorais, a equipe de Curi agora mapeia as regiões do Paraná para testar a fidelidade da prefeitada, que até agora andou unida e lhe deu títulos sucessivos de campeão de votos da Alep, diante de saborosos convites que virão, com promessas de recursos e obras, para trocar de trincheira.
Senado Federal
A corrida pelas duas vagas promete ser emocionante, com um roteiro recheado de traição, caneladas e dedo no olho — num vale-tudo eleitoral. Dentre os curitibanos, os nomes preferidos são Cristina Graeml (32,1%), Luciano Ducci (24,9%) e Ney Leprevost (24,8%) — no melhor cenário para os três. Não por acaso, o trio disputou a prefeitura de Curitiba em 24 — sinal de que o desempenho guarda relação direta com o recall eleitoral.
Dos três, Cristina Graeml é quem deve se manter na disputa — caso não apareça obstáculos partidários. Ducci e Leprevost devem buscar a reeleição no legislativo, o primeiro em Brasília e o outro no Paraná.
Requião Filho, novamente, aparece bem pontuado com 16,4% — no melhor dos cenários. Flávio Arns, que deve buscar a reeleição, também aparece bem ranqueado, com 23,7%. Beto Preto, secretário de Saúde, teve 18,1% no melhor dos panoramas testados.
Quem torceu o nariz para o levantamento foi o deputado federal Filipe Barros — que na última semana trouxe Bolsonaro para o Paraná e conseguiu do Capitão o apoio público e formal para chegar à Câmara Alta.
É bem verdade que quando a pesquisa estava em campo, coletando os dados, o ex-presidente não tinha declarado o voto em Filipe Barros. A aposta do deputado federal são os votos do interior, em especial de Londrina, mas o desempenho em Curitiba acendeu uma luz amarela.