Eduardo descola, os preferidos nos bairros e as estratégias dos candidatos em Curitiba

Como diria o jogador Didi, inventor do chute folha seca (de três dedos): “Jogo é jogo. Treino é treino!” Adaptando à política: pré-campanha é uma coisa, campanha é outra. A primeira pesquisa eleitoral para a prefeitura de Curitiba, feita pelo Instituto Radar e divulgada pelo Portal Banda B no início da noite desta quinta-feira (22), mostra um cenário diferente. Se antes havia empate técnico de até cinco candidatos, agora Eduardo Pimentel (PSD), o candidato oficial da prefeitura e do Governo do Estado, conseguiu desgarrar dos demais concorrentes. Obviamente que os players mudaram e que as campanhas ainda não engrenaram. É o cenário atual — a 45 dias da eleição.

Fotos: Redes Sociais

O que não mudou da pré-campanha para agora é que a eleição de Curitiba deve ser decidida em dois turnos — até pela quantidade de candidatos. Isso, aliás, dificilmente deve se alterar. O descolamento de Eduardo era previsível e esperado, até por conta da estrutura de campanha em torno do atual vice-prefeito, que conta com o apoio dos palácios 29 de Março e Iguaçu.

A pesquisa espontânea coloca Eduardo com 11%, contra 3,8% de Ney Leprevost (União), Luciano Ducci (PSB) com 3,2%, Roberto Requião (Mobiliza) com 2,7%, Maria Victoria (PP) com 2,7%, Luizão Goulart (SD) com 2,5% e Cristina Graeml (PMB) com 2,2%. Os outros três candidatos Andrea Caldas (PSOL), Felipe Bombardelli (PCO) e Samuel de Mattos (PSTU) não pontuaram na espontânea.

Com uma margem de erro de 3,5% para mais ou para menos, Eduardo lidera a intenção de voto e todos os outros estão empatados tecnicamente. O que chama a atenção é a porcentagem de curitibanos que disseram não saber ainda em quem votar, de 71,9%. Um campo fértil para os marqueteiros trabalharem seus candidatos.

Na estimulada, o candidato dos palácios aparece na dianteira, com 25,1%, e a votação dos demais adversários os coloca em diferentes blocos. Atrás de Eduardo aparecem três candidatos empatados dentro da margem de erro: Ney (15,7%), Ducci (13,8%) e Requião (12,6%). O terceiro pelotão tem Maria Victoria (5,4%), Luizão (5%) e Cristina Graeml (3,7%). E, por fim, Andrea Caldas (1,2%), Felipe Bombardelli (0,5%) e Samuel (0,5%).

A Radar também mediu a rejeição dos candidatos. Requião está no topo, com 27%, Ducci aparece com 14,1%, Ney tem 8%, seguido de Maria Victoria (7,9%), Eduardo (6,7%), Luizão (3,9%), Cristina (2,4%), Andrea Caldas (2,3%), Felipe (2,2%) e Samuel de Mattos é quem tem a menor rejeição (1,9%).

Qual perfil dos eleitores dos candidatos e o desempenho deles nos bairros

Mais do que os números da espontânea e a estimulada, a pesquisa indica o perfil do eleitor de cada candidato. Eduardo tem mais aceitação entre os homens, que recebem mais de cinco salários mínimos e com ensino superior. O candidato de Rafael Greca e Ratinho Junior tem mais votos dos eleitores de 25 a 59 anos — que ocupam três das cinco faixas etárias. Ney é quem tem mais votos entre os jovens, de 16 a 24 anos, com ensino médio e com faixa salarial entre dois e cinco salários — e é mais bem aceito por eleitores homens.

Luciano Ducci tem o eleitorado bastante parecido com o candidato do União Brasil — com índices um pouco menores. Requião é quem melhor “dialoga” com os mais humildes — tanto homens quanto mulheres. O perfil do eleitor do ex-governador, revelado nesta pesquisa, é de pessoas que ganham até dois salários mínimos, com grau de instrução menor e numa faixa etária de 45 a 59 anos. Eleitores de Maria Victoria têm perfil próximo de Requião — a diferença é que o porcentual de mulheres que votam na progressista é o triplo dos homens.

Quando os dados são estratificados cruzando com os 17 bairros pesquisados pela Radar, o cenário em Curitiba mostra que Eduardo tem melhor votação no Santa Cândida e um desempenho pior no Cajuru. Ney se saiu melhor junto aos eleitores do São Braz e foi menos lembrado no Novo Mundo. Ducci, por sua vez, teve bom desempenho no Novo Mundo e o pior foi no Pilarzinho. Requião também se saiu melhor no Novo Mundo e não tão bem assim no Bairro Alto.

Eduardo foi o mais lembrado em 12 dos 17 bairros pesquisados: Centro, Boqueirão, Xaxim, Pilarzinho, Bairro Alto, Santa Cândida, Santa Felicidade, Água Verde, Portão, Pinheirinho, CIC e Tatuquara. O candidato do PSD perdeu para Requião no Cajuru, Uberaba e Novo Mundo e para Ney Leprevost no São Braz. No Sítio Cercado, o ex-governador e o candidato do União empatam — ambos à frente de Eduardo.

Estratégias apresentadas no início da campanha

Com poucos dias de campanha nas ruas e nas redes sociais, já é possível detectar a estratégia de alguns candidatos. Eduardo Pimentel vai alicerçar sua campanha no prestígio e na boa avaliação da gestão de Rafael Greca e do governador Ratinho Junior. Embora tenha o apoio declarado de Jair Bolsonaro, o ex-presidente ainda não “entrou” na campanha do PSD. Será o candidato da continuidade da gestão de Greca e vai se apresentar ao eleitor como “preparado” para assumir o Palácio 29 de Março — estratégia montada em cima de pesquisas qualitativas bem analisadas e dissecadas por Juca Pacheco e João Debiasi.

Foto: Freepik

Maurício Ramos, que assina o marketing de Luciano Ducci, vai apostar na dobradinha com o vice Goura Nataraj. É a campanha, de longe, que mais “explora” a figura de vice. Apesar da resistência do eleitor de Curitiba com o presidente Lula, a estratégia passa pela vinculação da imagem de Ducci com o presidente da República. A aposta no bunker de Ducci é colocar em prática o planejamento desenhado por Gleisi Hoffmann em Brasília ao atrair os partidos de esquerda. O objetivo é direcionar para Luciano Ducci a votação que Lula teve em Curitiba na eleição de 2022, quando atingiu 35% — porcentual que garante a esquerda no segundo turno.

O marqueteiro Guto Araújo, contratado por Ney Leprevost, “chegou por último” na eleição em Curitiba — até porque o candidato do União Brasil confirmou a presença no pleito de outubro nos últimas dias antes da convenção, após sofrer sucessivas e cada vez mais tentadoras propostas para colocar o pijama e não disputar a eleição de 2024. A primeira medida foi dar um 180º nas redes sociais do candidato. Planejou uma convenção “televisiva” com imagens cuidadosamente captadas que até hoje abastecem as redes sociais. Embora ainda não tenha dado muitas pistas da estratégia, Ney vai apostar na grife Moro para rachar o eleitorado lavajatista que vê Deltan com Eduardo e Moro com Ney. O principal apoiador será o ex-juiz da Lava Jato e nada melhor do que colocar a esposa, Rosangela Moro, para ser candidata a vice-prefeita.

Requião e Cristina Graeml têm em comum o pouco tempo de rádio e TV para dialogar com o eleitorado e a escassez de recursos para bancar uma campanha para fazer frente aos candidatos dos “grandes partidos”. Os dois vão apostar quase todas as suas fichas nas redes sociais. O ex-governador, com 83 anos, convocou uma equipe jovem para tocar o Instagram e o Facebook. O X, ex-twitter, fica sob o comando de Requião. O filho, deputado Requião Filho, será um importante cabo eleitoral.

Já Cristina vai em busca dos eleitores de Direita de Curitiba nas redes sociais e dos apoiadores de Jair Bolsonaro que não coadunam com a presença do PL na chapa do PSD. Leia-se: dos que não concordam com Paulo Martins na vice de Eduardo Pimentel. A estratégia mostrada até agora é se colocar como a única candidata verdadeiramente da Direita que defende os princípios e as pautas conservadoras.

Metodologia: O instituto Radar ouviu 816 eleitores de Curitiba entre os dias 19 e 21 de agosto. A pesquisa, registrada sob o número PR-03410/2024, tem um grau de confiança de 95,5% e uma margem de erro é de 3,5% para mais ou para menos.

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