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Menos Greca, mais Eduardo: veja estratégia, análise e recados da 1ª propaganda de TV do PSD

Passada a ressaca eleitoral, o segundo turno da disputa pela prefeitura de Curitiba entre Cristina Graeml (PMB) e Eduardo Pimentel (PSD) já começou. Mas, a partir do início da tarde desta sexta-feira (11), chega aos curitibanos por meio da propaganda eleitoral na televisão — considerado por muitos uma poderosa arma de marketing político, que aos poucos dá sinais de esgotamento, dando espaço às redes sociais.

Esta mudança de comportamento explica a chegada da jornalista nesta fase da eleição municipal. Pela manhã, o curitibano conseguiu ouvir as primeiras propostas pelo programa no rádio — aliás, conseguiu na verdade ouvir só Eduardo, já que o programa da candidata do PMB não foi disponibilizado para as emissoras de rádio.

Trecho da campanha de Eduardo Pimentel (Foto: Reprodução)

 

O Blog Politicamente procurou as duas campanhas para ter acesso ao primeiro programa eleitoral de ambos — mas a equipe de Cristina Graeml preferiu não adiantar o comercial.

Então, passemos ao filme de Eduardo Pimentel, que está sob nova direção. O marqueteiro Jorge Gerez, que fez as campanhas do governador Ratinho Junior, e algumas outras pela América Latina, como no México em 2018, é quem assina a propaganda, que passa a ser produzida pela Lys Filmes. É um claro sinal de que no segundo turno quem vai comandar a campanha é o time do Palácio Iguaçu — obviamente que com alguns reforços de profissionais da prefs de Curitiba. A secretária de Comunicação, Cinthia Genguini, por exemplo, foi exonerada nesta quinta-feira (10) para se dedicar à campanha de Eduardo.

Repetidamente, o comercial fala numa Curitiba unida, em paz e para frente — em referência à boa relação com Ratinho e à certeza de que não haverá briga política entre prefs e governo do Estado, como foi vista quando Gustavo Fruet (PDT) surpreendeu à todos e venceu a eleição de 2012, mas travou uma queda de braço com o então governador Beto Richa (PSDB) — que apoiava o vice Luciano Ducci (PSB).

Eduardo assume o protagonismo. Sai Greca entra Paulo Martins

O primeiro programa eleitoral de Eduardo confirma a máxima de que segundo turno é uma nova campanha. Zera-se tudo e recomeça. Mais do que a troca dos marqueteiros, todo o conceito foi revisto: do layout às cores, do mote de campanha aos protagonistas. Se, na largada da eleição, em 30 de agosto, Eduardo dividia a atenção dos curitibanos com o prefeito Rafael Greca, que era uma onipresença nos comerciais, e o governador Ratinho Junior, desta vez é o candidato do PSD a estrela principal. O vice Paulo Martins, que sequer foi mencionado no final de agosto, agora aparece com destaque — num claro sinal ao público da direita, ele que é do PL de Jair Bolsonaro.

 

Aliás, o protagonismo de Eduardo é um dos primeiros recados que o marqueteiro argentino Jorge Gerez dá no filme: “Esta eleição não se trata de Greca, Ratinho Junior e nem do Bolsonaro. Se trata de você”. Ou seja, os padrinhos políticos que tanto foram exaltados na primeira etapa do processo eleitoral saem de cena para dar luz a Eduardo Pimentel. E esse protagonismo do candidato fica bastante claro em cenas dele liderando reuniões com a presença de Mariza Dias, que reassumiu a secretaria de Meio Ambiente de Curitiba, e Paulo Martins.

“Vou apresentar a minha visão de futuro, as minhas ideias, as minhas soluções e a minha equipe” — com reforço do pronome que indica posse — passando a ideia que Eduardo é o detentor da campanha e não mais o prefeito Rafael Greca.

Para se ter uma ideia da mudança, não há sequer uma fala de Greca — apenas poucas fotos que não duram nem dez segundos no ar durante os cinco minutos de propaganda. É um recado bastante claro do tom que o argentino deve dar na campanha de Eduardo — muito mais sintonizado com o Palácio Iguaçu do que com a prefs. Aliás, essa completa perda de protagonismo de Rafael Greca deve incomodar alguns no Palácio 29 de Março e também nos arredores do shopping Muller, que, no primeiro turno, tinha as rédeas da comunicação quando quem dava as cartas era o “Juquinha” — o experiente publicitário Juca Pacheco da Gpac.

O flerte com a direita fica também bastante evidente, assim como algumas estocadas na adversária Cristina Graeml (PMB). Eduardo é novamente apresentado aos eleitores como um homem de família, casado, com três filhos, “defensor da vida, da liberdade, da ciência e da propriedade privada” — valores exaltados pela Direita. E ao dizer que o candidato, se eleito, não pretende deixar ‘ninguém para trás” e que “o ódio e a segregação fiquem longe de nós” é também um aceno para os eleitores dos candidatos que não chegaram ao segundo turno, torcendo, de forma tímida, para que o recado chegue à esquerda. Até porque, a esquerda deu pouco mais de 20% aos candidatos que a representava.

Invariavelmente, o voto da esquerda pode definir a eleição de Curitiba — resta saber quem herdará. Isso tudo de forma muito implícita para não afugentar a Direita.

“Não troque o amor pelo ódio” — é, talvez, o principal mensagem à esquerda, num sinal claro de contrariedade à polarização. O contrapeso é justamente Paulo Martins que milita ao lado de Bolsonaro há alguns anos — foi inclusive o escolhido pelo Capitão para disputar o Senado Federal em 2022. Outra aposta do marqueteiro argentino é contrapor a experiência entre os candidatos — acentuando que Eduardo além de vice-prefeito respondeu pela secretaria de Obras de Curitiba e foi secretário de Cidades do governo Ratinho Junior.

Nas inserções de Eduardo, ataques são de parte a parte

Agora, se este primeiro programa eleitoral de Eduardo Pimentel no segundo turno é propositivo, na linha paz e amor, dialogando com o eleitor de Curitiba, as inserções, que são divulgadas ao longo da programação das emissoras de TV, o tom é outro. Um dos comerciais de 30 segundos que já está sendo veiculado pela campanha do PSD é um petardo contra o advogado Jairo Aparecido Ferreira Filho, que é candidato a vice-prefeito de Cristina Graeml.

O filme fala das acusações contra Jairo Ferreira Filho, que já foram divulgadas pela imprensa, envolvendo processos que correm na Justiça não só do Paraná. A inserção do PSD cita pirâmide financeira. Ao mostrar o rosto de Jairo Filho, fala que o crime é de “alguém que ganha dinheiro enganando um monte de gente honesta”. De fato, o vice responde a uma ação cível, de cobrança, na qual uma senhora cobra a devolução de R$ 400 mil, que teria emprestado ao advogado — dívida esta que não foi adimplida e que estaria em torno de R$ 1 milhão.

 

A campanha de Cristina também partiu para o ataque. Na rede social, a jornalista publicou um vídeo citando a dinastia Pimentel e trazendo a imagem do ex-governador Paulo Pimentel ao lado do neto Eduardo. Ela escreve na legenda da publicação: “oito anos de estagnação e mais um do mesmo se preparando para manter o sistema”. A intenção do vídeo é bastante claro: colocar o adversário como representante do sistema, da velha política. E para isso ela traz à tona um velho conhecido dos curitibanos e dos paranaenses: o ex-prefeito e ex-governador Beto Richa.

No vídeo, ela tenta colar no adversário a figura de Beto Richa (PSDB) — que chegou a ser preso por escândalo de corrupção no governo, mas que o Supremo Tribunal Federal (STF) acabou anulando todas as ações e investigações contra o tucano.

Invariavelmente, os ataques de parte a parte serão frequentes no segundo turno — imagina-se que alguns até abaixo da linha da cintura, mas nunca divulgados nas propagandas e mídias sociais oficiais dos candidatos. O trabalho de desconstrução costuma ser uma marca na disputa do segundo turno e não só em Curitiba. Num X1 entre os candidatos, se um perder votos o outro ganha. Mas todo cuidado é pouco, a linha é tênue. Se passar do limite, o feitiço pode se virar contra o feitiçieiro.

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