A indicação do PSB do nome de Geraldo Alckmin nesta sexta-feira (8) para a vice na chapa do ex-presidente Lula e a iminente consolidação desta aliança, aguardando apenas o aceite do PT, colocou um ponto de interrogação na cabeça de muita gente: Alckmin foi para o campo da esquerda ou o PT “endireitou”? Talvez a resposta seja sim para as duas questões. Ou que ambos fizeram movimentos um pouco mais ao centro.
Na prática, desde a redemocratização, foi o movimento mais a direita do Partido dos Trabalhadores. Não de se aliar ao PSB, mas a um dos fundadores do PSDB. Tanto é que existe uma ala mais radical do PT que declaradamente é contra esta aproximação com Alckmin. Unir no mesmo palanque Lula e o ex-tucano parecia impossível até um passado recente.
Vamos tentar entender o movimento de ambos. Mas antes é preciso dizer que o objetivo é único: vencer a eleição. Esqueça o papo furado de convergência ideológica, afinidades. Ambos estão olhando para o final da eleição.
Primeiro Lula. O ex-presidente pode ter pensado que talvez só com as legendas de esquerda, habitualmente na trincheira, a missão de derrotar o presidente Jair Bolsonaro (PL) poderia ser mais árdua. Assim como Lula conta com sua militância, Bolsonaro conseguiu criar a sua nos últimos quatro anos. E o que pensam, como vão votar, aquelas pessoas quem se decepcionaram com o governo do PT e acabaram elegendo o atual presidente, mas também estão descontentes com o governo hoje posto? Esta massa entre o lulismo e o bolsonarismo vai pender para que lado?
Talvez a resposta tenha sido “um pouco mais para o Centro”, mas sem deixar o PT histórico de lado. Movimento que Bolsonaro tentou evitar na campanha e nos primeiros meses da gestão até perceber que dependia do Congresso para governar.
O movimento calculado então foi dar uma mão para a “centro esquerda” sem largar o “petismo raiz”. A grande inovação, portanto, não foi o PSB na vice, mas o nome que está prestes a ser ungido na chapa de Lula.
E o tucano? Geraldo Alckmin nunca flertou com o campo da esquerda. Seu passado, com atuação pelo antigo MDB, depois pelo PMDB até fundar o PSDB e por lá permanecer mais de 30 anos, não dava ideia das fotos registradas nesta sexta-feira. A filiação ao PSB já deixou muita gente de orelha em pé, mas ser vice numa chapa com Lula, deixou, não só a orelha, mas o cabelo de muita gente de pé. Mas obviamente que esta jogada com Lula já estava combinada.
A explicação para esta guinada é mais recente. Começa em 2018, quando Alckmin foi ovacionado candidato à presidência pelo PSDB após desistência do então prefeito de Manaus Arthur Virgílio de disputar as prévias. Tendo o PP na vice, com a senadora Ana Amélia, o tucano não poupou Lula acusando-o de ser responsável pela maior recessão da história do país. E foi além. Disse na época que Lula e Bolsonaro tinham o mesmo DNA.
Era uma estratégia do já desesperado Alckmin que desidratava nas pesquisas. Viu Bolsonaro arrancar de 1% das intenções de voto e disputar o 2 turno com Fernando Haddad do PT. A história é sabida. A abertura das urnas derrubou Alckmin. Ele obteve 5 milhões de votos em todo o país, não chegou a 5%. Resultado pífio. Nem o Estado de São Paulo, que ele governou duas vezes, votou nele — teve 8,79% contra 44,58% de Bolsonaro.
Dede 2018, Alckmin baixou o bico e passou desapercebido. Viu o nascimento de lideranças dentro do próprio ninho tucano, em especial João Dória e Eduardo Leite. Não havia mais espaço para Geraldo Alckmin. Ao invés de se contentar com um posto honroso de fundador do PSDB, Alckmin resolveu arriscar e tentar se reinventar. Não podia migrar diretamente para o lulismo nem o bolsonarismo. A aposta foi na legenda que ficaria próxima ao PT. E agora aqui está, prestes a ser aclamado, quem diria, vice de Lula.
Portanto, a resposta para a pergunta deste artigo — “Alckmin foi para a esquerda ou o PT à direita?” — é sim e sim. Aconteceram as duas coisas. E a consolidação disso virá com a anuência do PT ao nome de Alckmin na vice. Embora haja discordância interna, é Lula quem ainda dá as cartas no PT.