A estratégia de Luizão Goulart, candidato do Solidariedade a prefeito de Curitiba, para assumir o Palácio 29 de Março passa invariavelmente pela gestão dele como prefeito de Pinhais, na região metropolitana. Quando ele disputou a reeleição, em 2012, ele foi eleito com 94% dos votos válidos, sendo o prefeito com a maior votação proporcional do Brasil. Esta experiência é justamente o cartão de visitas dele nesta eleição de 2024. O problema tem sido fazer este cartão de visitas “chegar” ao curitibano. Com “míseros” 20 segundos de propaganda no rádio e na televisão, escassas inserções ao longo da programação e recursos escassos, Luizão vê o copo meio cheio ao analisar a formatação de coligações: “Os acordos não são feitos em cima de propostas, mas de espaços de poder, de secretarias, de cargos. Não tenho fundo partidário generoso para oferecer, mas, por outro lado, a liberdade de montar um governo técnico sem ter que trazer um monte de políticos para a gestão, senão trava a gestão”.
Luizão foi o sexto e último candidato a ser sabatinado pela Rádio e Portal Banda B em conjunto com o Blog Politicamente. Para a série de entrevistas, foram convidados seis dos dez concorrentes que obtiveram o mínimo de 5% das intenções de votos na pesquisa Radar, contratada pela Banda B, registrada sob o número 03410/2024 no Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
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Mesmo ciente do abismo da realidade entre Pinhais e Curitiba, Luizão defende o modelo de gestão respeitando a proporcionalidade entre os municípios. Uma das apostas é governar a capital de forma descentralizada, através das 10 regionais.
“Tenho experiência de administrar uma cidade da região metropolitana com diversos problemas e consegui entregar à população de Pinhais o que havia me comprometido com a cidade. Quero trabalhar Curitiba através das 10 regionais e vejo cada uma delas como se fosse um município, que a população consiga ver na regional uma subprefeitura”.
“As 10 regionais serão 10 subprefeituras”
A partir deste conceito de 10 subprefeituras dentro do Palácio 29 de Março, Luizão promete construir 10 escolas por ano, uma em cada regional, com 400 vagas para os alunos ao custo de 1% do orçamento — proposta que acabaria com o deficit de vagas de creche. Professor por formação e com experiência como diretor de escola, o candidato do Solidariedade disse ter como princípio o ensino público, mas vê com bons olhos o programa “Parceiro da Escola” que está em vias de implantação nos colégios estaduais — tendo recebido críticas de uma parte dos professores. “Terceirizar e vender escola, sou contra. Agora, o projeto do governo do estado vai numa linha de parceria, onde o professor fica responsável pela parte pedagógica e a parte de manutenção da escola, calha, piso, torneira quebrada, fica a cargo de uma empresa, isso facilita muito a vida do diretor também”.
Na área de segurança a ideia também é descentralizar, com a instalação de uma muralha digital em cada subprefeitura. “Temos uma central de monitoramento para Curitiba inteira. Quero levar uma para cada regional”, disse, pontuando a necessidade de aumento do efetivo. Ainda no campo da segurança, afirma que, se eleito, os guardas usarão as câmeras corporais e serão instaladas os equipamentos também nas viaturas.
Com relação à saúde, Luizão aposta na tecnologia e tem ao seu lado, o engenheiro Tiago Francisco da Silva que até pouco tempo trabalhava na área de inovação na gestão do prefeito Rafael Greca como diretor tecnológico da Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação. O candidato do SD conta que “Tiago Chico” é especialista em inovação, tendo criado o app Saúde Já e o Vale do Pinhão — que tornou Curitiba a “cidade das startups” e que ajudou Curitiba a ostentar o título de cidade mais inteligente do mundo.
Luizão considera que Curitiba tem a melhor estrutura de saúde pública das cidades do Paraná, melhores hospitais de referência, filantrópicos. “Não era para gente ter essa grande fila de espera para exames especializados, consultas, cirurgias. Pinhais não tinha hospital, não tinha uma UPA, estruturei de tal forma a saúde que o pessoal do Capão da Imbuia ia buscar atendimento em Pinhais, porque não tinha atendimento adequado na regional deles. Temos que investir mais na prevenção, naquela medicina preventiva, nos agentes comunitários de saúde”.
Luizão fala em caixa preta da URBS e tarifa de ônibus a R$ 4
Com relação ao preço da tarifa do ônibus em Curitiba, atualmente em R$ 6, o candidato do SD promete atuar com ampla transparência em todo o processo licitatório e na execução do contrato, com a ajuda de órgãos de controle como o Tribunal de Contas do Estado e do Ministério Público do Paraná. Sobre o valor da tarifa, Luizão acredita que é possível cobrar R$ 4 ao longo do primeiro ano de governo. A saída seria mudar a forma de cobrança, ao invés de calcular pelo número de passageiros, o candidato acredita que o correto seria a cobrança por km rodado.
“Isso é muito mais justo para a população, porque é uma oportunidade de pagar pelo tempo que usou. Temos mais de um ano para efetivar essa licitação, então é possível fazer todas as exigências do que é bom para a população e para a cidade. A questão da domingueira acredito que devemos ter um valor reduzido da passagem. Não vou chutar aqui um valor mas acredito que 50% do que é cobrado”
Luizão acredita que o atual sistema de transporte público está saturado e que existe um “grande lobby das empresas de transporte coletivo, interesses econômicos na verdade” que travam novos modais. “Curitiba faz muito tempo que não inova em termos de trânsito. Não vejo muita inovação para dar fluidez ao tráfego e outros modais. Porque até hoje não temos um VLT, um metrô?”, questiona, citando o “lobby das empresas”. O candidato é favorável a implantação do metrô em Curitiba. “Pretendo recuperar o estudo do metrô, feito há 15 anos. Metrô não é só subterrâneo, pode ser de superfície, elevado. As principais cidades do mundo têm metrô. Se cada prefeito tivesse feito 5, 10 km de metrô, já teríamos ramais para todo lado”.
O candidato promete abrir a caixa preta da URBS — empresa de economia mista que gerencia o transporte coletivo. “Com certeza [a URBS] não é transparente. Não tem informação do que acontece, dos dados, de quanto arrecada no transporte, do que se paga, dos subsídios”.
Aliás, transparência é um tema recorrente no plano de governo. Para Luizão, Curitiba tem dificuldade de transparência, apesar de ser uma cidade “maravilhosa”, mas como toda grande metrópole tem muitos desafios.