Julgamento de Jocelito no STF pode bagunçar a eleição em Ponta Grossa

A eleição para a prefeitura de Ponta Grossa, que já tem todos os ingredientes para ser eletrizante, pode ganhar novos contornos capazes de atrair os holofotes e desviar a atenção da disputa em Curitiba. Jocelito Canto (PSDB), que já foi prefeito da cidade, vive dias de tensão com o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) que pode lhe devolver a elegibilidade — mais de 20 anos depois.

Na semana de 2 a 9 de agosto, logo após o retorno do Judiciário do recesso de julho, o processo envolvendo o tucano será apreciado pelos ministros da Suprema Corte. O caso é antigo. Remete à uma condenação sofrida em 2002 numa ação civil pública por improbidade administrativa — que lhe tirou a cadeira de deputado federal em 2022, apesar de ter vencido nas urnas. Ganhou, mas não levou. Caiu no colo de outro tucano: Beto Richa.

A defesa de Jocelito não quer discutir o passado e o foco não é a vaga na Câmara Federal. O objetivo é restituir a elegibilidade do tucano para que ele possa disputar a eleição que se avizinha. Jocelito foi condenado em 2002 à ressarcir ao erário, pagamento de multa e à suspensão dos direitos políticos por três anos por ter obtido vantagem indevida pela utilização de um policial militar para sua segurança pessoal quando era prefeito de Ponta Grossa.

Tese jurídica — A esse período de três anos ainda se somariam outros oito da chamada Lei da Ficha Limpa. Mesmo 22 anos depois, a ação de improbidade persegue o tucano. Isso porque o TSE entendeu que prazo de inelegibilidade de oito anos só se inicia depois do cumprimento de todas as sanções impostas, o que só ocorreu de fato em outubro de 2022, quando o ex-prefeito pagou a multa. Portanto, ele só estaria apto à concorrer a um cargo público a partir de 2030.

A tese jurídica da defesa de Jocelito é a seguinte: os oito anos de inelegibilidade começam a contar a partir do término dos três anos de suspensão dos direitos políticos e não do pagamento da multa. Assim, acreditam os defensores, como o ex-prefeito cumpriu os três anos de junho de 2013 até junho de 2016, os oito anos da Lei do Ficha Limpa acabaram em junho de 2024. Portanto, Jocelito estaria liberado para concorrer nas eleições de outubro deste ano. Caso permaneça impedido, a estratégia é lançar a filha, a deputada Mabel Canto.

Contra o tempo — Além da tese prosperar, Jocelito Canto precisa ainda contar com a sorte. O tempo agora é seu inimigo. Por conta do recesso do Judiciário, do mês de julho, o julgamento foi marcado para a primeira semana de agosto. E o prazo das convenções partidárias termina dia 5 de agosto com a apresentação da ata à Justiça Eleitoral 24 horas depois. Mas a defesa acredita na possibilidade de convalidação da ata.

Assim como Jocelito, a classe política pontagrossense também acompanha com cautela o julgamento no STF — porque sabe que a entrada do tucano vai bagunçar o tabuleiro. Imediatamente, o PSDB entra no jogo e cai a pré-candidatura já posta pelo Progressista de Joce Canto — filha do ex-prefeito. O PP de Ricardo Barros, por sua vez, pula de olhos fechados na barca do PSDB. E podem vir mais marinheiros.

Uma fonte do PT não descarta dar as mãos para Jocelito — apostaria no ex-prefeito para garantir um palanque forte para o presidente Lula em 2026. Aliel Machado, que é deputado federal do PV e faz parte da Federação Brasil da Esperança, seria o entrave. Mas no ninho petista já se discute os argumentos para convencê-lo a abrir mão da disputa — agora andar com Jocelito talvez seja pedir muito, já que o tucano é adversário político do parlamentar do PV.

Rápido no gatilho — Diante desta conjuntura, Ricardo Barros, que não dorme no ponto, madrugou nesta sexta-feira (28). Sem qualquer preocupação com as indiretas e até diretas emanadas pelo Palácio Iguaçu, o grande timoneiro do Progressistas estava às 7 da matina em ação em Ponta Grossa.

Habilidoso, Barros conseguiu reunir os times de Jocelito e da atual prefeita Elizabeth Schimidt (União Brasil) para uma produtiva e pragmática conversa. O interesse em comum das duas forças políticas é derrotar os irmãos Marcelo Rangel (PSD) e Sandro Alex, deputado estadual e secretário de Infraestrutura — ambos “da cozinha” do governador Ratinho Junior.

Uma boa e atenta fonte que estava no evento da Federação das Indústrias percebeu, ao escutar de canto de ouvido, que a conversa entre Barros, Jocelito e Elizabeth tem tudo para causar frouxos intestinais no bunker da rua Coronel Dulcídio, o posto de comando da candidatura de Rangel.

 

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