Era para ser um jantar no Madalosso de confraternização com mais de uma centena de prefeitos de todas as regiões do Paraná. O objetivo era alavancar a candidatura de Paulo Martins (PL) ao Senado Federal que ainda patina na casa dos 10%* nas pesquisas de intenção de voto.
Na teoria, estratégia perfeita. Mas deu tudo errado. Na prática, foi um desastre político.
A começar pela organização do evento polenta + frango frito. Além dos prefeitos, deputados estaduais, federais foram convidados dirigentes partidários que compõem a chapa de reeleição do governador Ratinho Junior (PSD), além do prefeito de Curitiba Rafael Greca (PSD).
Os caciques partidários que têm candidato ao Senado levaram os seus e aí veio a saia-justa. Paulo Martins que esperava reinar sozinho no palco ao lado do padrinho político se viu ladeado por Sergio Moro (União Brasil) e Orlando Pessuti (MDB). Poderia ser pior, caso Aline Sleutjes (Pros), desse o ar da presença.
Discursos — Os três candidatos ao Senado discursaram. Moro foi o mais assertivo. Adotou a estratégia de rasgar elogios ao governador Ratinho e arrancou aplausos da plateia. Finalizou dizendo que tem o mesmo inimigo que Ratinho: “Requião e o PT, inimigos históricos”.
O deputado federal Ricardo Barros e a filha, a estadual Maria Victória, deixaram o salão do Madalosso quando deram a palavra ao ex-juiz federal. Assim sem a menor cerimônia.
Paulo Martins pegou o microfone e falou sobre a reforma no pacto federativo, a separação de poderes e a necessária segurança jurídica.
Lava Jato — Outro fato que chamou a atenção foi o momento pós-discurso. Moro foi de mesa em mesa cumprimentando os prefeitos — que ficaram numa área reservada. Ele só não esperava se deparar com uma prefeita da região metropolitana de Curitiba que perguntou: “o senhor acha que foi imparcial no julgamento da Lava Jato?”, questionou ela.
Moro respondeu que sim, “com certeza”. A prefeita relembrou o discurso do ex-juiz e mandou: “mas como se o senhor disse que o PT era seu inimigo histórico. Então o senhor julgou um inimigo”. Moro ouviu, saiu e foi para outra mesa.
Ausente se deu bem — Apesar de não ter sido convidado, Alvaro Dias (Podemos) se deu bem no evento. Ao discursar, o prefeito Rafael Greca cumprimentou os três candidatos — Moro, Paulo Martins e Pessuti –, mas declarou seu apoio a Alvaro Dias.
Diante de tantas gafes, o jantar de polenta e o frango frito causou congestão em Paulo Martins que viu seus principais adversários na corrida pelo Senado se saírem melhor diante da plateia convidada para, em tese, apoiá-lo nas duas semanas que faltam para a eleição.
Moro conseguiu colar sua imagem ao governador Ratinho Junior e neutralizar Paulo Martins. Alvaro sequer foi, mas contou com o apoio de peso de Rafael Greca.
Ao governador, estrela principal do evento, coube o discurso conciliador — diante dos olhares e ouvidos atentos de Moro e Pessuti. Elogiou todos e disse que “o povo paranaense é sábio e cada eleitor escolhe seu candidato ao senado, e todos têm nosso respeito e admiração”. Não era o que estava planejado, mas diante de tantos engasgos durante o jantar, Ratinho fez o que deu.
*Levantamento feito pelo Instituto Paraná Pesquisa. 1.410 entrevistas em 62 municípios do Paraná e foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o nº PR09990/2022.