As chuvas no fim de semana do Carnaval no Litoral de São Paulo representaram os maiores valores acumulados já registrados no Brasil: 682 mm na cidade de Bertioga e 626 mm em São Sebastião. O resultado foi um rastro de morte e destruição nas cidades costeiras do estado vizinho.
E se toda esta chuva castigasse o Estado do Paraná? Não é possível prever as consequências de um temporal, potencializado por mudanças climáticas severas, mas o Blog Politicamente foi atrás da resposta.
Numa sala de situação instalada no 1° andar do Palácio das Araucárias, a Defesa Civil do Paraná mantém 24 horas por dia um sistema de monitoramento de áreas de atenção no Estado. É um BI — sigla de business intelligence que combina análise, mineração e visualização de dados, ferramentas/infraestrutura de dados e práticas recomendadas para ajudar na tomada de decisões.
Áreas de atenção — Este sistema mostra que hoje existem no Paraná 1.465 áreas que exigem atenção da Defesa Civil estadual. São pontos sujeitos a inundação, alagamento e deslizamento. Nestas áreas constam cadastraras 96.328 residências para uma população estimada de 602.453 paranaenses. Ou seja, se toda aquela chuva caísse por aqui, mais de 600 mil pessoas poderiam ser, de alguma forma, impactadas.
São 285 locais no Estado sujeitos a alagamentos. Nestes pontos, foram catalogados 19.684 imóveis que reúnem 128.733 pessoas — segundo o cadastro mais atualizado. Com relação à inundação, as áreas de maior risco totalizam 752 pontos de atenção. Estas áreas abrangem 63.352 imóveis afetáveis podendo trazer transtornos para 388.611 paranaenses.
O risco de deslizamento, como aconteceu no litoral paulista, existe em 428 pontos catalogados pela Defesa Civil em todo o Estado. Nestes pontos de atenção vivem pouco mais de 85 mil paranaenses em 13.292 residências. “Uma das principais área de atenção em que pode ocorrer deslizamento de terra provocada por chuvas no Paraná, e demanda nossa atenção aqui na Defesa Civi, é na Serra do Mar, por causa da geografia do solo”, explica o coordenador estadual da Defesa Civil, coronel Fernando Raimundo Schunig.
Serra do Mar: ponto sensível — A preocupação é reforçada por eventos climáticos graves já registrados no local. O mais recente deles, o deslizamento de terra na BR-376, que provocou a morte de duas pessoas que passavam pelo local. Em 2011, um forte temporal causou a morte de três pessoas nas cidades de Morretes e Antonia, no Litoral do Estado, em decorrência das chuvas, enchentes e deslizamentos de terra.
É justamente nestas cidades, o ponto de mais atenção — onde se concentra a área do Rio Sagrado. Nesta localidade vivem 800 pessoas em aproximadamente 200 imóveis que poderiam ser afetadas em caso de um forte temporal. “Por conta deste risco, é que a Defesa Civil promove simulações com moradores desta região. As pessoas apreendem a prevenir e saber o que fazer em caso de um temporal, como, por exemplo, identificar pontos de encontro”, disse o coronel Adriano de Mello, coordenador executivo da Defesa Civil.
Alertas SMS — Os moradores cadastrados nas 1.465 áreas de atenção do órgão estadual recebem alertas (uma mensagem SMS) no celular sobre risco de deslizamento, inundação, alagamento, enxurrada, granizo e vendaval. “Qualquer pessoa pode se cadastrar, basta enviar SMS com o CEP da sua região para o número 40199“, destaca o capitão Marcos Vidal da Silva Junior, responsável pela comunicação social da Defesa Civil.
Além do serviço de alerta, o órgão estadual mantém ativo o sistema de registro de preços que permite a aquisição quase que imediata de kit de ajuda humanitária. “São cerca de 100 mil cestas básicas, 4 mil colchões, além de telha, lona, kit higiene que podemos adquirir a qualquer momento e atender os paranaenses que venham a sofrer com fenômenos climáticos”, completou Schunig.
Afinal, estamos preparados? Ninguém está preparado para enfrentar um fenômeno meteorológico de proporção inédita como o ocorrido no litoral de São Paulo. Prever um grande temporal é possível. Saber onde e quanto vai chover, também.
Mas mensurar os estragos causados pela chuva forte, impulsionado por mudanças climáticas, é bem mais complicado. E se o volume de água vai causar inundação, alagamento e alterar a sustentação do solo — provocando deslizamentos de terra que podem ser fatais.
O monitoramento da Defesa Civil, através do BI, nos mais de 1.400 pontos de risco não tem o poder de evitar a tragédia climática, mas pode salvar vidas. O trabalho preventivo, promovendo eventos de simulação com moradores destas áreas, é fundamental para orientar a população que vive nestas localidades.