Luciano Ducci (PSB) falou em alto e bom som, escancarou, que quer ser o candidato do presidente Lula a prefeito de Curitiba nesta eleição de 2024. E assim será. Na convenção marcada para este sábado, o PT vai anunciar oficialmente apoio ao ex-prefeito — numa estratégia macro que tem como foco não só o pleito de outubro, como o projeto de reeleição do presidente da República em 2026. A declaração foi dada durante a sabatina feita nesta sexta-feira (19) pelo jornal Folha de São Paulo e o Portal Uol.
“Quero ser candidato do presidente Lula a prefeito de Curitiba, porque o apoio do governo federal é fundamental para você fazer uma grande gestão”, disse.”Somente um prefeito que fosse incompetente, que não tivesse noção do que é o cargo de prefeito, não gostaria de ter apoio do governo federal e do presidente da República”, complementou, alfinetando os adversários da direita.
Se alguém ainda tinha alguma dúvida de como seria o posicionamento de Ducci, talvez pelo receio da baixa popularidade do presidente em Curitiba refletir nas urnas, a sabatina deixou o cenário bastante claro. Foi um aceno bastante explícito à militância do PT — que tem nacos de resistência ao nome do ex-prefeito do PSB. Ducci fez um aceno em nome da unidade do campo da esquerda.
Falou que a presença de Lula no palanque em Curitiba traz soluções, não problemas, porque “é a garantia e a certeza que os projetos que nós temos para a cidade, que são projetos audaciosos, de infraestrutura, urbana importantes de mudança de modelo, de investimento na área social, a presença do governo federal vai dar suporte a estas propostas que vamos apresentar para a cidade de Curitiba”.
Ducci enfrentou justamente temas que o afastam de uma certa ala do PT de Curitiba — o principal deles, o voto favorável, enquanto deputado federal, ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. Um assunto caro ao petismo. O pré-candidato e deputado federal jogou a responsabilidade para o PSB que, na época, orientou a bancada na hora de votar. “Eu disputei sete eleições, todas pelo PSB. Eu sigo orientações do meu partido, foi assim contra a reforma trabalhista, por exemplo. 29 dos 32 deputados do PSB votaram a favor do impeachment da presidente Dilma. Eu tenho seguido as orientações partidárias”, explicou.
O deputado justificou que o contexto político da época era outro, que incluía uma mobilização da sociedade e falhas de articulação política do Palácio da Alvorada com o Congresso Nacional. “Eu, hoje, não votaria pelo impeachment da presidente Dilma naquela circunstância anterior”, disse. Para em seguida afirmar que não se arrepende do voto. “Eu votei numa circunstância de 2014, e votei de forma muito clara, muito transparente”.
Numa estratégia já esperada, Ducci destacou os avanços do governo Lula e criticou a administração do governador Ratinho Junior ao classificar a gestão como privativista. A estratégia é clara. Tentar desgastar Ratinho, para respingar em Eduardo Pimentel, pré-candidato do PSD, que tem o apoio do governador e do prefeito Rafael Greca. “O governo Lula tem avançado bastante, só pegar os indicadores do país. Temos em um ano e meio, 2,5 milhões de carteiras assinadas novas, pleno emprego, inflação estabilizada e o país esta avançado bem e de forma segura”.
Ducci fala em gestão privativista de Ratinho
Ao avaliar o governo do Paraná, Ducci disse discordar do processo de privatização. “Privatização da Copel Telecom, privatização da Copel, maior companhia de energia elétrica do Brasil, uma companhia robusta, lucrativa, que foi privatizada a preço de banana e hoje estamos enfrentando uma situação nova. O governo federal propôs a redução de mais de 3% do preço da energia elétrica do país e aqui, a Copel entrou com ação para que não haja uma diminuição da tarifa aqui no Paraná e, em especial, aqui em Curitiba”, disse.
“Eu sou muito contra. Esta privatização da Copel só visa lucro para algumas pessoas. E a privatização das escolas que o Ratinho vem fazendo também aqui no Paraná, que é um absurdo o que acontece quando pensa em privatizar a educação pública. Temos a preocupação que isso venha a acontecer na prefeitura de Curitiba, com a privatização das escolas municipais, das unidades de saúde. Nos preocupa muito esta situação de um governo estadual querer replicar aqui na cidade de Curitiba essa política privativista”, concluiu.
Outro fator que poderia soar como contradição, foi o apoio à Lava Jato — assunto que causa ojeriza ao PT. Ducci contornou a situação ao afirmar que no início da operação a “perspectiva na sociedade era amplamente favorável, mas nos desdobramentos da operação, depois com novas informações, começamos a perceber as várias contradições que ocorreram naquele processo, com combinações entre promotoria e juiz que deixou mais claro a situação de como ela foi construída”, avaliou.
“Hoje vemos que a operação demonstrou muitas fragilidades e esta sendo julgada até hoje. A Lava Jato teve pontos positivos no início, mas no desdobrar dela apareceram questões que estavam implícitas. Teve exageros no seu processo. A Lava Jato deveria ser conduzida num processo mais íntegro e transparente”, complementou Ducci.
Não foi a única aproximação de Ducci ao discurso do PT. Os atos antidemocráticos de 8 de janeiro foram repudiados pelo pré-candidato do PSB. “Houve uma tentativa de golpe de Estado. Foi uma ação bem organizada e orquestrada. Não tenho dúvida que foi uma tentativa de golpe. Frustrada, mas foi uma tentativa de golpe”, asseverou.
Os temas mais ligados à Curitiba foram tratados na segunda meia hora da sabatina. Um dos questionamentos foi em relação ao posto de vice na chapa do PSB, e o pré-candidato se mostrou bastante otimista com a dobradinha com Goura. “O PT confirmou aliança com o PSB e o PDT já aprovou a nível municipal e estadual, resta a decisão da executiva nacional que é quem decide nas capitais. Isso deve se confirmar nos próximos dias”.
Se eleito, Ducci vai rever projeto de metrô em Curitiba
O que chamou a atenção foi a intenção de reativar o projeto de implantação do metrô em Curitiba — único dos pré-candidatos sabatinas pela Folha e o UOL a admitir o novo modal de transporte público. “Em 2012, tínhamos o projeto do metrô pronto em Curitiba para ser licitado e tinha dinheiro para isso. O Governo Federal tinha R$ 1,8 bilhão e o governbo do estado outros R$ 700 milhões garantidos para a prefeitura Eu não consegui licitar porque faltaram dois documentos. Infelizmente, perdi a eleição. Não teve a licitação e perdemos o metrô, mas o projeto está pronto”, comentou. “Eu não vou ter dúvidas se vencer a licitação que vou pegar o projeto do metrô, vou colocar embaixo do braço, e levar ao presidente Lula para ver se ele ajuda a montar o metrô porque eu não consigo pensar Curitiba daqui a 30, 40 anos sem metrô”, completou.
Ducci se posicionou favorável a implantação das câmeras corporais nos guardas municipais e à tarifa zero no transporte público, mas descartou a gratuidade nos ônibus. “Ela não existe. Hoje a tarifa de Curitiba é de aproximadamente R$ 8,50, sendo que a prefeitura arca com R$ 2,50. É possível ter tarifa zero mas é preciso parceira do governo federal, do poder legislativo porque envolve uma alteração grande das leis,um novo arcabouço jurídico”. Por fim, o ex-prefeito prometeu, como uma das primeiras medidas ao adentrar o Palácio 29 de Março em janeiro de 2025, retomar a tarifa domingueira — com custo da passagem a R$ 1 somente aos domingos.
O ex-prefeito afirmou ser necessário dar um frio de arrumação na prefeitura de Curitiba em várias áreas, uma delas na habitação. Ele prometeu criar a secretaria municipal de Habitação e Regularização Fundiária e criticou a gestão Greca/Eduardo Pimentel que, segundo ele, entregou apenas aproximadamente 350 moradias durante 8 anos — num cenário de déficit de cerca de 90 mil habitações. “Quando fui prefeito, em dois anos e pouco, entregamos 12 mil moradias em Curitiba”.
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