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Eduardo Requião e o filho, Thiago, são dois dos alvos da operação Serendipitia deflagrada na manhã desta quinta-feira (9) pela Polícia Federal nas cidades de Curitiba e no Rio de Janeiro. Eles são alvos de mandados de busca e apreensão. Ao todo a PF cumpre 13 ordens de busca e 13 mandados de sequestro de bens determinados pela 14ª Vara Federal de Curitiba.
Eduardo Requião, que foi superintendente do Porto de Paranaguá entre 2003 e 2008, começa a entrar no radar da PF em 2021, meio que “sem querer”. Naquele ano os federais fizeram uma operação cujo alvo era Cláudio José de Oliveira, conhecido como “Rei do Bitcoin”.
O elo entre o “Rei do Bitcoin” e Eduardo Requião é o empresário Valmor Felipetto, dono da Harbor Operadora Portuária Ltda, empresa com grande atuação no Porto de Paranaguá. A PF identificou, na época, repasses que totalizaram pouco mais de R$ 530 mil do empresário para o “Rei do Bitcoin”.
O Blog Politicamente teve acesso com exclusividade, em 2021, ao depoimento em vídeo de Valmor Felipetto, que narra uma transação milionária com Eduardo Requião usando contas no exterior. A partir deste relato, a PF abriu um inquérito para apurar o envolvimento de Eduardo Requião em possíveis crimes de evasão de divisa e lavagem de dinheiro numa transação milionária — que culminou com a operação desta quinta-feira.
Eduardo Requião ganha foco da PF justamente depois que Valmor Felipetto diz em depoimento que possuía dívidas após a venda de uma empresa ao “Rei do Bitcoin”. Instado a detalhar estes débitos, Felipetto disse inicialmente que pegou recursos com amigos e conhecidos, sem declinar nomes. Mas, questionado novamente, abriu o bico: “Dr. Eduardo Requião, ele me emprestou dinheiro”. Perguntado então sobre o valor da dívida, respondeu que era na ordem de R$ 3 milhões — e que o principal credor era o irmão de Roberto Requião. “O Eduardo era a grande fração”.
A PF foi além, para entender a possível participação de Eduardo Requião. Valmor Felipetto disse que Eduardo teria repassado estes recursos em função de um empréstimo e afirmou: “eu recebi numa conta no exterior”. Quando perguntado em que país, revelou: “na Áustria”.
E qual seria a origem deste dinheiro emprestado por Eduardo Requião? Indagado sobre a origem dos valores na conta da Áustria, respondeu que “quem mandou creditar foi o Dr. Eduardo e eu não, eu não… uma empresa eu me lembro o nome, mas as outras empresas eu não lembro… foram duas empresas que depositaram”.
Conta na Áustria — A ideia de depositar numa conta no exterior teria partido de Eduardo Requião. “Ele (Eduardo) pediu se eu tinha conta no exterior. Falei, Eduardo, tenho uma continha no exterior”. E o ex-superintendente teria dito: “Posso mandar um dinheiro para lá?”.
O Blog Politicamente apurou que a PF pediu e a Justiça Federal do Paraná autorizou a quebra do sigilo desta conta na Áustria. A intenção era saber quais as empresas que, por ordem de Eduardo Requião, depositaram valores milionários para Valmor Felipetto. E quais relações estas empresas mantêm com o ex-superintendente do Porto de Paranaguá, na gestão do então governador Roberto Requião.
Para pagar a dívida com Eduardo, Valmor Felipetto teria pedido ajuda ao “Rei do Bitcoin”. Cláudio Oliveira então, segundo depoimento, chegou a emitir um cheque para uma conta lá fora em nome de Thiago Duarte Mello e Silva, que morava nos Estados Unidos. Thiago é filho de Eduardo Requião. Mas o cheque não teria sido compensado porque a conta de Thiago estava encerrada. Por conta disso, Thiago também foi alvo de mandado de busca da Polícia Federal.
A investigação da PF descobriu que o empresário teria recebido e mantido oculto, de 2009 a 2017, junto à instituição financeira da Áustria, valores que ultrapassavam R$ 5 milhões e que pertenciam, de fato, ao ex-agente público.
A PF, através de cooperação jurídica internacional, obteve provas junto a bancos da Áustria e dos Estados Unidos da América. “Documentos recebidos de instituição financeira austríaca revelaram que, em 2009, uma companhia holandesa realizou três pagamentos em favor da conta administrada pelo empresário. No total, os depósitos somavam quase R$ 3 milhões e tinham como destinatário o ex-superintendente dos portos do Paraná. Apurou-se, na sequência, que a empresa estrangeira havia recém celebrado contrato público e aditivos com a estatal administradora dos portos, em valor superior a R$ 30 milhões, para execução de serviços de dragagem no Canal da Galheta, em Paranaguá”, diz a PF.
Outro lado — O Blog Politicamente está tentando contato com Eduardo e Thiago Requião e Valmor Felipetto para comentar a ação da PF.