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Eduardo Pimentel é o principal alvo em debate morno marcado por esquivas

Por Karlos Kohlbach

A menos de dois meses da eleição de Curitiba, o pioneirismo da TV Band na promoção de debate eleitoral colocou o curitibano em contato com as propostas eleitorais de oito pré-candidatos, que estão na disputa pelo Palácio 29 de Março. Eram para ser nove, mas horas antes do início da transmissão, a emissora “desconvidou” Cristina Graeml (PMB) diante do “atual cenário de dúvida e polêmica, somada a judicialização da pré-candidatura” da jornalista — que sofreu uma derrota depois que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em decisão provisória, não restituiu o comando dos diretórios estadual e de Curitiba do PMB.

Eleições: debate em Curitiba teve participação de oito candidatos (Foto: Karlos Kohlbach)

Mal comparando ao momento olímpico, quem esperava jabs e diretos entre os pré-candidatos, como numa luta de boxe, viu pouca combatividade e muito jogo de esquiva. No primeiro dos três blocos, o debate se assemelhou muito a uma partida de xadrez, na qual os competidores estudavam as jogadas dos adversários. Um pico de luz na sede da TV Band, que interrompeu a transmissão por alguns minutos no início do segundo bloco, parece ter mudado um pouco o cenário. O clima deu uma esquentada depois que Roberto Requião (Mobiliza) alfinetou Luciano Ducci (PSB).

Ainda com sinais de mágoas com o PT, Requião se disse estupefato com a mudança de postura política do candidato do presidente Lula. “Nada pessoal”, pontuou o ex-governador, ao citar que Ducci votou pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff e em pautas que contrariavam os interesses do Palácio do Planalto e do PT — como a votação do marco temporal.

A estratégia foi tentar “empurrar” Ducci para a Centro Direita e se colocar como o nome da esquerda na disputa em Curitiba — apesar de todas as criticas na condução da política econômica do governo federal. “Ducci representa a frente da desesperança” — fazendo uma alusão irônica à Federação Brasil da Esperança capitaneada pelo PT.

Ducci respondeu que sempre votou seguindo orientação do PSB e nunca mudou de partido, numa alfinetada ao ex-governador, que, por muitos anos, militou no velho MDB de guerra, mas recentemente migrou para outras siglas como o próprio PT e agora o nanico Mobiliza. Se os candidatos mais alinhados com a esquerda se alfinetaram, os do campo da direita evitaram o confronto direto como forma de estratégia.

Candidatos da Direita evitam o confronto direto em debate

Com as regras permitindo perguntar para qualquer um dos candidatos, independentemente do tema, Ney Leprevost e Eduardo Pimentel, candidato dos palácios Iguaçu e 29 de Março, se evitaram. Apenas no terceiro e derradeiro bloco o pré-candidato do União Brasil questionou o atual vice-prefeito, ao perguntar o que é cultura, mas sem antes dizer que foi o ex-governador Beto Richa quem nomeou Eduardo Pimentel diretor da Fundação Cultural de Curitiba. Sem citar o tucano, o vice-prefeito enalteceu projetos da atual administração na área da cultura.

Na réplica, Ney disse que o adversário não respondeu à pergunta e começou a elencar personagens culturais da cidade. Na tréplica, Eduardo afirmou ter entendido sim o questionamento e que focou a resposta nos projetos da prefeitura que leva a cultura até o curitibano. O único “embate” entre eles foi bem aquém do esperado e esquentou minutos depois nas redes sociais. Ney postou dizendo que teve que explicar a um candidato o que era cultura — sem citar Eduardo Pimentel. Já o vice-prefeito, na rede social, “acusou um candidato” de tentar “lacrar” no fim do debate.

Desde o início, Ney adotou a estratégia de se aproximar de Jaime Lerner e do governador Ratinho Junior — dizendo ter sido secretário de ambos. Maria Victoria, do PP, também se vinculou ao governador, mas também ao prefeito Rafael Greca e ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Como na política nada é coincidência, durante o intervalo do debate, a equipe de Eduardo Pimentel fez uma postagem na rede social com uma foto ao lado de Greca e Ratinho dizendo, em letras garrafais, que é o único com apoio do prefeito e do governador.

“Morderam a isca”, disse Ricardo Barros a um dos coordenadores da campanha da filha. O mandachuva do PP chegou na sede da TV depois de um imprevisto — o mau tempo impediu que o avião chegasse em Maringá.

Eduardo Pimentel, como já era esperado, foi o mais acionado no debate. O representante da atual gestão sempre é a vidraça que recebe as pedradas dos adversários. De forma mais sutil, fez questão de repetir que ele e Greca herdaram uma prefeitura “quebrada, com R$ 2 bilhões de dívidas”. Poucos entenderam, nos bastidores do debate, o destinatário da alfinetada: o PDT de Goura, vice de Ducci, já que o antecessor da atual gestão foi Gustavo Fruet.

Chamou a atenção, no desempenho de Eduardo Pimentel, que ele não mencionou nenhuma vez, durante todo o debate, o nome de Jair Bolsonaro — que deve se somar ao seu time de padrinhos.

As estratégias

O candidato de Lula foi quem mais transpareceu a estratégia adotada para o debate da TV Band. Ducci mirou em Eduardo Pimentel e o procurou sempre que possível abordando temas como transporte público, saúde, educação infantil e segurança — temas, aliás, que mais permearam o debate. Ele chegou a propor um comparativo de dois anos da gestão dele contra os oito de Greca/Pimentel.

O antagonismo entre eles foi evidente na questão da mobilidade urbana, quando Ducci defendeu a implementação do metrô em Curitiba e prometeu ir até Brasília buscar recursos com Lula para custear o novo modal — proposta rechaçada pelo atual vice-prefeito, que prôpos o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) do Centro Cívico ao aeroporto Afonso Pena.

Em outra ofensiva, questionou Eduardo Pimentel sobre qual projeto da prefeitura teria sua digital. O candidato do PSD citou, entre outras coisas, a conclusão de obras, o bairro da Caximba e a ampliação da linha do Inter 2. Era tudo que Ducci queria ouvir. “Esse projeto do Inter 2 é meu, estava no meu plano de governo em 2012, na página 155”, retrucou de supetão.

Ducci só “escorregou” quando foi informado sobre um direito de resposta concedido pelo departamento jurídico da TV Band. O candidato não sabia do que se tratava e abriu mão de preciosos segundos para dialogar diretamente com o eleitor curitibano.

Terceiro e último bloco do debate foi o mais animado

Mais soltos, o terceiro e último bloco do debate foi mais animado, mas nada que possa mudar a avaliação de um debate morno. Andrea Caldas (Psol) tabelou com desenvoltura com Requião e Luizão Goulart (Solidariedade) — principalmente quando o tema era educação. Com formação no magistério, a candidata disse temer que o projeto de terceirização da gestão administrativa das escolas públicas, iniciada no governo estadual, seja replicado em âmbito municipal em caso de vitória do candidato dos palácios.

Samuel de Mattos, durante todo o debate, defendeu a classe trabalhadora contra ofensivas do governo estadual e federal e chegou a sugerir um desafio a Eduardo Pimentel para que prefeito, vice e secretários tenham o mesmo salário dos professores municipais e que façam uso dos serviços ofertados pela prefeitura.

No momento das despedidas, Luizão foi quem inovou dizendo que o debate reunia candidatos que apontavam para três caminhos: o do vale a pena ver de novo, a aposta na incerteza ou optar pela experiência de quem já fez e sabe fazer. Sem citar nomes, o vale a pena ver de novo seria um recado a quem já administrou a cidade: no caso de Requião, Ducci e o próprio Eduardo Pimentel. A incerteza seriam os marinheiros de primeira viagem e a última opção seria o próprio candidato do Solidariedade.

Debate foi parar, sem regras, nas redes sociais

Encerrada a transmissão da TV Band, os candidatos começaram um outro debate — nas rede sociais. Num ambiente sem regras em que cada um, e seu time de marqueteiro, avalia quem “venceu” o debate e propagada para sua bolha de seguidores. Zapeando as redes dos candidatos percebe-se que todos venceram.

Mas num debate morno, sem grandes surpresas, quem ganhou mesmo foi o eleitor curitibano que teve acesso, um primeiro contato, com os pré-candidatos que iniciam a partir de 16 de agosto a disputa pela prefeitura de Curitiba.

 

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