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Cientistas políticos e marqueteiros costumam dizer que a disputa do segundo turno é uma nova eleição e o debate da TV Band, na noite desta segunda-feira (14), não só reafirmou esta máxima como parece ter trazido dois “novos personagens” ao pleito de Curitiba.
Cristina Graeml (PMB), que ao longo do primeiro turno, não tinha tempo de rádio e TV e só participou de um debate na RPC, teve a oportunidade de falar ao eleitor curitibano, com regras mais flexíveis — permitindo ao eleitor conhecer mais a candidata, seus posicionamentos políticos e seus projetos para a cidade. Do outro lado, Eduardo Pimentel (PSD) mostrou um novo lado. Se na primeira etapa da eleição ele “aguentou firme” as pancadas dos adversários, nesta etapa o candidato está muito mais reativo. Parecia mais leve, sem algumas amarras.
O primeiro debate na TV no segundo turno foi marcado pela intensa troca de ataques entre os candidatos. O confronto era inevitável e esperado. Para se ter uma ideia da “animosidade”, Cristina fez sete pedidos de direito de resposta — todos negados pelo jurídico da emissora. Tanto ela quanto Eduardo pareciam nervosos no início do debate. Desde o primeiro bloco, os dois abriram a caixa de ferramentas e ofereceram aos telespectadores um leque de acusações, gerando ótimos cortes para as redes sociais.
A estratégia de ambos foi de se posicionar como candidato da direita e tentar colocar no adversário algumas pechas. Cristina, por exemplo, tentou marcar em Eduardo a imagem de candidato do sistema político e ligado à esquerda. E ainda relembrou o assédio eleitoral dentro da prefeitura de Curitiba no caso do jantar do PSD. Eduardo rebateu dizendo que o PMB de Cristina Graeml apoia Guilherme Boulos (Psol) no pleito de São Paulo.
Na verdade, este carimbo da esquerda não se aplica nem a um, nem a outro. Eduardo apostou, estrategicamente, em alguns pontos: a falta de experiência e propostas da adversária e a questão do plano de governo de Cristina ter sido feito por inteligência artificial. As acusações que pesam sobre o vice, Jairo Aparecido Ferreira Filho, novamente vieram à tona.
Temas importantes, que permearam o primeiro turno, ficaram praticamente de fora do debate. Segurança Pública, que é um dos maiores males dos curitibanos, foi discutido de forma bastante genérica. Assim como a questão da população em situação de rua, cada vez mais presente nas regiões centrais de Curitiba. A questão do transporte público até veio à tona durante o debate, mas com um novo viés. E
Eduardo questionou a proposta da adversária que prevê “implementar a cobrança de passagens proporcionais ao uso do transporte público, incentivando o uso racional e garantindo maior justiça tarifária” — citando que privilegiaria passageiros em viagens curtas, barateando a tarifa, enquanto quem faz longas viagens pagaria mais caro.
Cristina explicou a proposta que consta no plano de governo e disse que pretende reduzir a atual tarifa, que é de R$ 6: “Moradores que moram mais distante vão ser estimulados a empreender e trabalhar mais próximos de suas casas. O que a gente quer implantar é um sistema justo para aquele idoso que sai ali do Centro da cidade, que insiste em morar no Centro, que vai até o Juvevê, o Alto da XV, ele paga a mesma passagem de quem vem da região metropolitana. Não é justo. Nós vamos implementar a cobrança pelo km rodado. Isso é simples e já existe no interior. É eficaz e mais honesto”, disse ela — lembrando que a população idosa de 65 anos ou mais tem 65 anos tem direito ao cartão-transporte isento, ou seja, não paga tarifa.
O assunto acabou virando comercial que já está sendo disseminado pelas redes sociais e deve ganhar a TV nas próximas horas. Cristina explicou que seria uma forma de deixar o sistema viário “mais justo”, pessoas que se deslocam num trecho menor pagariam menos do que passageiros com viagens longas. Isso causaria o problema da integração do sistema de transporte público que conecta Curitiba a municípios da região metropolitana.
A longínqua obra da Linha Verde voltou aos holofotes, também com outra roupagem. Cristina Graeml alertou para o risco da prefeitura ter de arcar mais de R$ 200 milhões, caso a Justiça do Paraná dê razão a uma das empresas que tiveram o contrato rescindido e agora requer uma multa por quebra unilateral do contrato. “O TCU (Tribunal de Contas da União) deu parecer dizendo que a prefeitura precisaria corrigir as deficiências e desatualizações do projeto antes de contratar a empresa”. Eduardo rebateu: “Nós rescindimos o contrato porque a empresa não deu conta, contratamos outra que entregou a obra da Linha Verde”.
A vacina da Covid-19 também foi alvo de confronto entre Cristina e Eduardo e arrancou gargalhadas da plateia, que assistia ao debate na sede da emissora, quando ela, após dizer que tomou todas as vacinas, afirmou que enquanto as pessoas estavam em casa, o candidato do PSD estava “todo serelepe pela cidade” durante a pandemia. Eduardo disse que, enquanto a adversária estava na segurança de casa produzindo vídeos para a internet, ele estava trabalhando conseguindo leitos de UTI para atendimento dos curitibanos.
Como já era esperado, o debate apresentou mais confronto que propostas. Para o próximo sábado (19), está prevista a divulgação de três pesquisas sobre o cenário da corrida eleitoral em Curitiba. Serão as primeiras sondagens no segundo turno e que vão sinalizar a reação dos curitibanos aos programas eleitorais de Cristina e Eduardo, também ao tom mais bélico adotado por ambos na reta final da eleição de 2024 na capital paranaense.