O resultado da eleição de 2024 em Curitiba ganha um capítulo especial na história como a mais acirrada disputa desde a redemocratização do Brasil. Eduardo Pimentel (PSD) e Cristina Graeml (PMB) foram para o 2º turno com a menor diferença de voto desde então: 21.824 votos ou 2,34%. Ele obteve 33,51% dos votos válidos (313.347 votos) e Cristina totalizou 31,17% dos votos válidos (291.523 votos). Até então, a eleição mais apertada de 1º turno havia sido registrada em 2004 quando 4,88% dos votos separaram Beto Richa (PSDB) de Angelo Vanhoni (PT). Richa acabou vencendo o pleito no 2º turno.
Do outro lado da ponta, ou seja, dentre as eleições com uma diferença mais alargada, Beto Richa foi o protagonista ao, em 2008, derrotar a petista Gleisi Hoffmann com a maior distância entre dois candidatos. O tucano foi reeleito com 594.487 mil votos a mais que Gleisi Hoffmann — uma diferença de 59,1%.
Se no início da campanha eleitoral estimava-se um bom desempenho de Eduardo, por ser o candidato da prefeitura de Curitiba e do governo do Estado, na última quinzena Cristina surfou uma onda que a levou até o 2º turno — deixando para trás candidatos experientes e com campanhas milionárias, como Luciano Ducci (PSB) e Ney Leprevost (União Brasil). Na reta final, já era perceptível o crescimento acelerado da candidata do PMB.
O crescimento alarmou a coordenação da campanha não só de Ney e Ducci como também os estrategistas de Eduardo. O trio ainda lançou mão de campanhas para tentar conter Cristina, tano na propaganda eleitoral quanto nas redes sociais, mas parecia tarde demais. Teve gente do QG do candidato do PSD temendo que a adversária terminasse a corrida eleitoral na dianteira. Os mais pessimistas temiam até a passagem de Eduardo para o 2º turno.
Para o advogado especialista em direito constitucional e analista político, Frederico Junkert, a explicação para a candidata Cristina Graeml ter disparado na reta final se assemelha ao que ocorreu na capital paulista com o candidato Pablo Marçal (PRTB).
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Junkert aponta que a insatisfação de parte do eleitorado diante da aproximação de seus representantes ao centro do espectro político evidenciou o “descompasso entre o tempo da política e o ritmo das redes sociais”. O analista entende que as redes “amplificam expectativas e demandas que as estruturas políticas convencionais nem sempre conseguem absorver rapidamente. Esse desalinhamento cria espaço para novos personagens que encarnam os anseios manifestados online”.
É fato que Cristina Graeml tem uma penetração muito grande nas redes sociais, principalmente no “X” – o antigo Twitter, recém desbloqueando por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Cristina, que ficou sem o seu principal canal de comunicação durante a campanha e que não tinha espaço no horário eleitoral no rádio e na TV, agora, a partir de sexta-feira (11), terá um espaço gigante para falar com o eleitorado — já que no 2º turno os candidatos têm 10 minutos por dia de propagada eleitoral, 5 minutos pela manhã e outros 5 à noite.
A questão central, aponta Junkert, é se “a força das redes será suficiente não apenas para projetar esses candidatos, mas também para garantir sua vitória em disputas municipais, onde fatores ideológicos coexistem com interesses locais, relações políticas e pragmatismo do eleitor”.
Ele explica que os candidatos precisam harmonizar a mobilização nas redes, o engajamento nas ruas e a articulação política nos gabinetes. Esse será o maior desafio de Eduardo Pimentel e de Cristina Graeml nos próximos dias para “integrar essas dimensões de forma eficaz e coerente, garantindo uma estratégia abrangente.”