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“Furacão Cristina Graeml” provoca chacoalhão na eleição 2024 em Curitiba

Cristina Graeml ficou em segundo lugas nas eleições de 2024 em Curitiba

Por Carol Nery e Karlos Kohlbach

O resultado das urnas é soberano e Curitiba elegeu Eduardo Pimentel (PSD) que, após oito anos como vice-prefeito, vai assumir o Palácio 29 de Março a partir de 1º de janeiro de 2025. Ponto! Mas precisamos nos render ao fato de que, se for preciso apontar o nome de um grande vencedor nestas eleições municipais, esse nome não deve ser outro se não o de Cristina Graeml, independentemente de simpatia, ideologia ou qualquer outra “ia”.

Cristina Graeml teve 42,69% dos votos válidos nas eleições de Curitiba (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

 

Não se pode negar que esta curitibana de 54 anos, jornalista formada em 1992 pela UFPR e repórter de TV por 26 anos, tendo passado pela afiliada da Rede Globo em Curitiba, além de atuar na emissora no Rio de Janeiro e em São Luís (MA) e, de volta à capital, na Gazeta do Povo, desde 2018 — fez história como personagem de uma das disputas mais acirradas — e polêmicas — na capital paranaense desde a redemocratização do Brasil.

Ela não somente chegou muito perto de ser a primeira mulher eleita prefeita de Curitiba — desde 1834, quando José Borges de Macedo foi eleito primeiro prefeito pela Câmara –, mas, realmente, foi a mulher que chegou mais longe no pleito da capital paranaense. No entanto, essa discussão vai muito além de gênero.

Cristina Graeml ficou em segundo lugar, com 390.254 votos (42,36%), em um pleito ao qual chegou praticamente do zero, dentro do nanico Partido da Mulher Brasileira, com uma candidatura que precisou ser garantida na Justiça, por conta de imbróglios internos entre os diretórios municipal e estadual com a executiva nacional da legenda. Apesar de remar contra a maré, ela conquistou uma parcela do eleitor curitibano com um discurso anti sistema, apoiada em pautas da direita e escorada na imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — que não oficializou apoio a Cristina em nenhum dos turnos, mas sinalizou simpatia no primeiro e se calou, ao menos publicamente, no segundo.

1º turno: Cristina fora de debates e sabatinas

Enfrentada a resistência dentro do próprio partido, Cristina precisou encarar mais uma luta, a de não participar de debates e sabatinas para se apresentar e expor suas ideias ao longo de todo 1º turno. Em um cenário com dez candidatos na disputa de Curitiba, o fraco desempenho nas pesquisas de intenção de voto, com um dígito, e a falta de representação do PMB na Câmara Federal, eram usados como critério para selecionar os prefeituráveis até um limite de participação.

Com isso, a novata e “desconhecida” Cristina Graeml, do nanico PMB e que ainda não aparecia com expressão de votos nas primeiras pesquisas, acabava ficando de fora — o mesmo aconteceu com outros candidatos, como Felipe Bomabardelli (PCO) e Samuel de Mattos (PSTU).

Debate da RPC TV no primeiro turno das eleições (Foto: Reprodução/RPCTV)

 

Furacão Cristina toma corpo na reta final do 1º turno

Fora da propaganda político eleitoral, Cristina Graeml focou a campanha nas redes sociais onde conseguia replicar sua voz através de seguidores mergulhados na bolha da direita que disseminavam o conteúdo. Estratégia já bastante batida por representantes da direita. Cristina Graeml voou abaixo da linha do radar e só foi “percebida” pelos adversários, em especial Eduardo Pimentel e Luciano Ducci, nas duas últimas semanas. Era tarde demais.

Cerca de dez dias antes do primeiro turno das eleições e ainda com uma ampla parcela de eleitores indecisos, a campanha eleitoral começou a ganhar novos contornos e os últimos levantamentos começaram a mostrar um avanço de Cristina Graeml. A aproximação do “Furacão Cristina” acendeu um alerta nos corredores do governo e da prefeitura, fazendo com que o cenário praticamente garantido tivesse que ser repaginado com novas estratégias, pois tinha personagem novo surgindo. E poderia ser pior, já que alguns acreditavam que ela poderia terminar o 1º turno da eleição na dianteira. Seria um abalo psicológico na campanha do PSD.

Foi então que veio a decisão de, enfim, lançar um vídeo com o apoio de um visivelmente “desconfortável” Bolsonaro nas redes sociais de Eduardo, no fim de semana que antecedeu o pleito. Uma declaração do ex-presidente que nem mesmo citava o nome de Eduardo Pimentel e fora gravada em Porto Alegre semanas antes — período em que não havia certeza se seria necessário usá-lo na campanha. Era uma, se não, a grande cartada final da campanha do vice-prefeito para frear Cristina.

Ela reagiu. Pegou um avião e desembarcou em São Paulo, atrás do — naquele momento — maior ator político destas eleições municipais no país, o ex-coach e então candidato a prefeito Pablo Marçal (PRTB). O desempenho eleitoral de Marçal ameaçava até o protagonismo de Bolsonaro como figura central da direita/extrema direita. Marçal e Cristina gravaram um vídeo de apoio mútuo que ganhou as redes sociais e que rendeu à jornalista o apelido “Marçal de saias” pela imprensa paulista.

Cristina surpreende ao garantir participação no 2º turno

No dia 6 de outubro, às 17h, o temor da turma de Ratinho e Greca se confirmava a cada parcial da apuração. Para surpresa de muitos, Eduardo e Cristina logo passaram a ser os protagonistas daquela apuração. E, para maior surpresa ainda, por muito pouco Cristina não terminou o primeiro turno das eleições na frente de Eduardo. Foram apenas 21,8 mil votos de diferença: ele com 313.347 votos (33,51%) e ela com 291.523 votos (31,17%). Cristina colocava seu nome na história da eleição de Curitiba.

Candidata Cristina Graeml em coletiva no TRE-PR após apuração das urnas no 1º turno (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

 

A campanha de Eduardo Pimentel juntou os cacos, engoliu seco o desempenho da “novata” e promoveu mudanças em postos chaves. Sai a turma da Prefs do comando da campanha e assume o time do Palácio Iguaçu. Era hora de rever “certezas” e calçar as sandálias da humildade para entender o comportamento eleitoral do curitibano e a partir daí traçar uma nova comunicação. Eduardo começou a disputa do 2º turno atrás de Cristina nos tracking`s. A candidata do PMB ainda surfava a onda do 1º turno.

De “desconhecida”, que não conseguia participar de debates e entrevistas, ela passou a estar “na boca do povo” — para o bem ou para o mal, diga-se — disputando em grau de igualdade contra um candidato que teve e tem ao seu lado um apoio maciço de grandes e influentes grupos políticos. O desempenho nas urnas no 1º turno já consagrava a outsider Cristina Graeml como vitoriosa, mas, ao mesmo tempo, colocou a alça de mira na própria testa. Não só dela, mas de todo o entorno daqueles que caminhavam ao lado dela.

Não demorou para pipocar processos cíveis e criminais envolvendo o agora ex-presidente do PMB, Fabiano dos Santos, o vice de Cristina, Jairo Aparecido Ferreira Filho, e de Eduardo Pedrozo — coordenador da campanha da candidata. As mesmas redes sociais que impulsionaram Cristina foram usadas para disseminar os “companheiros” da candidata. Somente no último debate, promovido na antevéspera da eleição pela RPC, Cristina Graeml percebeu que estava passando mais tempo se defendendo do que apresentando suas propostas para governar Curitiba. Era tarde demais.

Estratégias mal pensadas, como invocar o nome da falecida mãe de Eduardo, durante o debate, para levantar uma questão de gênero sobre os ataques sofridos no 2º turno, parecem ter minado a imagem da candidata do PMB junto ao eleitorado curitibano. E as pesquisas eleitorais divulgadas na véspera do pleito, captaram este sentimento ao inflar o índice de rejeição dela. Ciente do derretimento, uma última cartada foi dada: divulgar o suposto apoio de Bolsonaro, que, publicamente, nunca veio.

Bolsonaro se cala sobre apoio no 2º turno

Com dois concorrentes da direita, Bolsonaro se viu em uma situação de não abraçar nenhum dos candidatos, nem mesmo veladamente, como no primeiro turno, quando sugeriu que Cristina postasse a reprodução de uma videochamada entre ambos no qual o ex-presidente afirmava torcida pela candidata do PMB e a liberava para postar nas redes sociais, apesar de apoio declarado ao adversário, sabidamente por questões estratégicas por parte do PL, com olhos mirando já as eleições de 2026.

Ratinho Junior, Paulo Martins, Jair Bolsonaro e Eduardo Pimentel (Foto: Reprodução)

 

A vinculação com Bolsonaro foi a aposta de Cristina durante toda a disputa eleitoral — inclusive com o uso de um “holograma” de papelão do ex-presidente em eventos de campanha na última semana, sem falar nas postagens impulsionadas nas redes sociais e que faziam referência ao “Capitão”. Enquanto isso, o caixa da campanha de Cristina engordava. Até o último dia de campanha deste segundo turno, as doações chegaram a nada menos do que R$ 1.045.381,67, segundo dados disponibilizados até o fim da manhã desta segunda-feira (28) pelo DivulgaCand.

Este foi todo o valor ao qual Cristina teve acesso para poder trabalhar, além de contar com duas centenas de voluntários. Ela não teve a possibilidade de contar com R$ 3 milhões do fundo eleitoral, que aliás disponibiliza verba a todos os partidos, independentemente de tamanho ou representação, por questões jurídicas e que não foram regularizadas em tempo pelo PMB.

Rejeição a Cristina cresce na reta final

Sem Bolsonaro como avalista, Cristina adotou a mesma estratégia do adversário e partiu para a desconstrução de Eduardo Pimentel. “Perdigueiros” correram para cartórios em busca de ações e processos contra o entorno do candidato do PSD. Qualquer material que pudesse render comerciais. A campanha de Cristina apostou em cápsulas intituladas “Pane no Sistema” para reforçar o discurso do anti sistema. A rejeição de Cristina Graeml acabou passando dos 50%. Era o efeito colateral da estratégia colocada em curso.

Nesta guerra entre a experiência de oito anos de Eduardo na prefeitura, ao lado de Rafael Greca, com pleno apoio de Ratinho, e promessas de renovação por parte da estreante Cristina Graeml, a maioria do eleitorado curitibano optou por manter Eduardo no Palácio 29 de Março, agora no comando como prefeito da cidade, com 57,64% dos votos válidos, enquanto 42,69% depositaram as fichas em Cristina.

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