O PT do Paraná vem colecionando dissabores com o Governo Federal capitaneado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sem nenhum representante no 1° escalão do governo petista e com seríssimas dificuldades de emplacar aliados em postos chaves, o PT nativo tem começado a demonstrar insatisfação.
É bem verdade que, por ora, não é uma ação coletiva, mas as estocadas de alguns filiados têm chegado no entorno de Lula. Só para ficarmos em desgostos mais recentes — petistas do Paraná assistiram de camarote a indicação do Centrão de André Pipetone para a diretoria financeira da Itaipu. Ele foi nomeado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para a mesma função e agora reconduzido por Lula.
Pedágio — Ontem (3), mais um dissabor. Assistiram, alguns impávidos, o vídeo em que Lula aparece ladeado pelo governador do Paraná, Ratinho Júnior, e do ministro dos Transportes, Renan Filho, “comemorando” o recebimento da delegação das rodovias paranaenses — o passo que antecede a publicação dos editais de dois lotes de vias que serão leiloadas.
Dentro do PT há uma ala que criticou o evento ocorrido em Brasília relembrando o video divulgado na reta final do segundo turno da eleição presidencial de 2022 em que Lula defende um pedágio com tarifa de R$ 5 — o que contemplaria só manutenção das rodovias concedidas. Como a modelagem não será esta e o preço do pedágio ficará acima dos “cincão”, petistas têm dito que “venceu o pedágio do Ratinho e Bolsonaro”.
A afirmativa não é totalmente verdadeira. O PT paranaense obteve avanços importantes que chegaram na atual modelagem — com aporte financeiro a partir de 18% de desconto no valor da tarifa. O modelo desenhado pelo ex-ministro de Infraestrutura, Tarcísio Freitas, no governo bolsonarista, previa desembolso financeiro das pedageiras a partir de 1% de redução do pedágio — o que poderia provocar pequeno índice de redução.
Visitas indigestas — A falta de diálogo entre Governo Federal e PT do Paraná é outro tema de desgaste. Nesta quinta-feira (4) Requião Filho foi as redes sociais, mais uma vez, reclamar da surpresa da bancada do PT do Paraná de ver um ministro de Lula no Palácio Iguaçu, cumprindo agenda com Ratinho. É a terceira vez — a primeira com o ministro da Justiça Flávio Dino, depois com a titular da pasta da Saúde Nísia Trindade e hoje com Margareth Menezes que responde pelo ministério da Cultura.
Em tom de brincadeira, mas com mágoa aparente, teve petista dizendo que os petistas do Paraná já podem pedir gol no Fantástico — já que foi a terceira vez visita de um ministro de Lula no Paraná. O próprio presidente, desde que eleito, não pisou mais na terra das araucárias. Na campanha, por aqui esteve por duas vezes.
Agendas raras por aqui — A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que sempre fez a interlocução com Brasília tem cumprido agendas por quase todos os cantos do país — mas no Paraná a presença é cada vez mais rara.
As reclamações, como pode ser lido, são diversas e há motivos, de fato, para insatisfação — principalmente da bancada do PT. O deputado Arilson Chioratto, que preside o partido no Paraná, se vira nos 30 tentando apaziguar as estocadas cada vez mais frequentes.
Questão de honra — Diante das batalhas “perdidas”, o PT nativo agora concentra suas forças na questão da privatização da Copel. Pretendem ir até o presidente Lula para evitar a venda de ações da estatal paranaense munidos até de dossiês.
Alguns acreditam que a saída é fácil. Basta Lula revogar o decreto publicado por Bolsonaro em que altera as regras para a privatização de empresas públicas. O governo paranaense fez o dever de casa: abriu uma consulta à União e aprovou uma lei na Assembleia Legislativa que transforma a Copel em uma corporação — o que permite a renovação de concessão de geração de energia destas três hidrelétricas. Este processo está em andamento — para desagrado petista.
A Copel virou questão de honra. Mas o desfecho pode, ser mais uma vez, desolador. O PT chegou a escalar Roberto Requião como “garoto propaganda” da luta pela Copel, mas vaidades petistas afastaram o ex-governador do front da luta.