Por Carol Nery
A pergunta que reverbera nos palácios Iguaçu e 29 de Março, desde a manhã desta terça-feira (1º), gira em torno do impacto da campanha do candidato Eduardo Pimentel (PSD) por conta do caso de coação sofrido por servidores da prefeitura de Curitiba — caso revelado pelo Portal Metrópoles. A revelação de um áudio atribuído ao superintendente da Secretaria Municipal de Administração, Gestão de Pessoal e Tecnologia da Informação, Antônio Carlos Pires Rebello, no qual servidores teriam sido coagidos por ele a doar recursos para a campanha de Pimentel, tem potencial para causar estragos.
A estratégia da prefeitura foi agir rápido. Quer dizer, reagir. Poucas horas depois que o áudio veio à tona, Greca assinou o decreto de exoneração de Rebello — que recebia um salário bruto polpudo de R$ 21.282,30. Além disso, o caso será internamente investigado pela prefeitura de Curitiba.
A exposição do caso chega na véspera da eleição municipal e da coleta de pesquisas de intenções de votos — previstas para sair no sábado (5). Se a campanha de Pimentel “passou ilesa” às críticas dos adversários até agora, de certo modo a situação abre brecha para um desgaste político na campanha encabeçada pela turma do governador Ratinho Junior e do prefeito Rafael Greca.
Isso porque há chances da exploração do tema pelos concorrentes de Pimentel, talvez como uma última cartada, em especial pelo candidato a prefeito Ney Leprevost (União), que já vem mencionando nos debates entre os candidatos sobre uma eventual “perseguição” da atual administração contra os servidores.
Prefeitura nega coação e diz que servidor usou de “julgamento pessoal”
No áudio revelado, Rebello afirma que teria recebido a “incumbência” de informar aos servidores concursados e com função gratificada que eles teriam que comprar convites para um jantar de campanha de Pimentel. O tal evento aconteceu no dia 3 de setembro, no restaurante Madalosso, com valores que variaram de R$ 750 a R$ 3 mil. Foi um evento de campanha, um jantar de adesão promovido pelo diretório estadual do PSD.
Rebello, como citou o Metrópoles, teria orientado que os funcionários fizessem pagamentos via pix de contas bancárias de parentes ou amigos próximos, para que não fossem identificados os funcionários da Prefs. Todos os repasses foram feitos para o PSD. A coluna do Portal conta que identificou 11 deles, que teriam sido feitos por nove parentes dos servidores.
A prefeitura negou que tenha partido qualquer orientação por parte da campanha do vice-prefeito. Por meio de assessoria de imprensa, a administração informou ao Blog Politicamente que Rebello usou de “julgamento pessoal” para tomar a atitude, “sem orientação ou anuência da Secretaria de Administração, Gestão de Pessoal e Tecnologia da Informação, ou de outra instância da Prefeitura”. Segundo a nota da prefeitura, os fatos serão internamente apurados. Ou seja, o funcionário comissionado, de forma isolada, teria resolvido cobrar seus colegas concursados para contribuir com a campanha de Pimentel.
Além disso, na prestação de contas que consta na Justiça Eleitoral, o Diretório Estadual do PSD acusou ter recebido 11 depósitos via Pix no valor de R$ 3 mil de parentes de servidores, cujos repasses foram entre os dias 30 de agosto e 2 de setembro — véspera do jantar. A coluna do Metrópoles, porém, não revelou a identidade dos parentes que fizeram os depósitos, para preservar os servidores coagidos.
O Blog Politicamente procurou Antonio Carlos Pies Rebello, mas não conseguiu falar com o agora ex-funcionário da prefeitura de Curitiba. O espaço segue aberto para manifestação.
Leia a nota da prefeitura de Curitiba na íntegra:
“A Prefeitura de Curitiba repudia toda e qualquer atitude que possa configurar ameaça ou constrangimento a servidores públicos no exercício de suas funções. O prefeito Rafael Greca decidiu exonerar o superintendente de Tecnologia da Informação, Antonio Carlos Pies Rebello. De todo modo, os fatos serão apurados com o rigor necessário, respeitando o devido processo legal.
A Prefeitura esclarece ainda que a atitude do servidor em questão teve como base seu julgamento pessoal, sem orientação ou anuência da Secretaria de Administração, Gestão de Pessoal e Tecnologia da Informação, ou de outra instância da Prefeitura.
Desde o início do ano, todos os servidores municipais foram amplamente orientados sobre a legislação eleitoral vigente, conforme a Lei Federal 9.504/1997 e o Decreto Municipal 2.448/2023. Tais orientações foram detalhadas por meio de uma cartilha enviada por e-mail em fevereiro, abril e agosto, alertando para as regras claras que devem ser cumpridas durante o período eleitoral, assegurando o atendimento à população e evitando o favorecimento a candidatos”.