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Por Carol Nery e Karlos Kohlbach, atualizada às 18h35
Em uma eleição na qual a ideologia política é tão exacerbada, uma Certidão de Filiação Partidária da Justiça Eleitoral pode dar trabalho para a candidata a prefeita Cristina Graeml (PMB) explicar ao seu eleitorado de direita sobre o envolvimento do vice, Jairo Aparecido Ferreira Filho (PMB), com partidos de esquerda não muito tempo atrás. O Blog Politicamente teve acesso ao documento que mostra que Jairo já foi filiado ao PCdoB (Partido Comunista do Brasil) que tem ideologia política diametralmente oposta à de Cristina. (Confira certidão ao final)
Jairo foi filiado ao PCdoB entre 6 de abril de 2018 e 15 de outubro de 2019 — a propósito, há exatos cinco anos ele deixava a legenda. Para quem ainda tem a eleição de 2016 fresca na memória vai lembrar que o então candidato Ney Leprevost disputava o 2º turno contra Rafael Greca quando recebeu o apoio do PCdoB e foi alvo de uma ofensiva por conta da “aproximação” dos comunistas — um dos motivos pelos quais pessoas próximas ao atual deputado estadual do União Brasil creditam a derrota no pleito.
A certidão vem à tona no dia seguinte ao debate entre Cristina e seu opositor, Eduardo Pimentel (PMB), que se enfrentaram na TV Band Curitiba pela primeira vez após a definição do segundo turno das eleições municipais. Ambos se posicionaram como candidatos de direita, tentando afastar o rótulo de relação com a esquerda.
Conforme a certidão, Jairo foi filiado ao Partido Comunista do Brasil (PC do B) de 6 de abril de 2018 a 15 de outubro de 2019, antes de se filiar ao Partido Liberal (PL), do ex-presidente Jair Bolsonaro, de 24 de junho de 2023 a 6 de abril de 2024. Antes do PCdoB, Jairo foi filiado ao PSDB por dois período entre 2003 e 2019. Depois, foi do Partido Novo, entre 2019 e 2023. Até que se filiou ao Partido da Mulher Brasileira (PMB), em 6 de abril deste ano, no qual deu as mãos a Cristina e concorre à vice-prefeitura da capital.
Na eleição presidencial de 2018, o PCdoB integrou a coligação de Fernando Haddad (PT), que disputou o Palácio da Alvorada contra o então presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). A vice da chapa do petista era Manuela D’Ávila, do PCdoB. Trocando em miúdos, significa que, em 2018, o vice de Cristina fez oposição ideológica a Jair Bolsonaro, que nestas eleições recomenda o voto em Cristina Graeml, apesar de ter declarado, no primeiro turno, apoio a Eduardo Pimentel, candidato do governador Ratinho Junior (PSD).
Cristina tem cortado um dobrado para contornar polêmicas em torno da vida pregressa do vice, desde meados do primeiro turno das eleições. Uma delas é sobre um processo que Jairo responde, no qual é cobrado em R$ 1 milhão por uma idosa que vive em São Bernardo do Campo (SP). Jairo teria recebido R$ 400 mil e prometido rendimentos de 2,5% ao mês à suposta vítima.
Apesar da candidata Cristina afirmar que Jairo não tem condenação, uma sentença do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) de menos de dois meses atrás condenou o vice do PMB a devolver R$ 90 mil em um processo de quebra de contrato. A condenação foi em primeira e segunda instância, contudo, como se refere a um processo cível, o fato não interfere nos direitos político dele.
Além de tudo isso, o Partido Cidadania acusa Jairo Aparecido Ferreira Filho de omitir bens ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e pediu investigação por parte da Justiça Eleitoral. Representado pela presidente Mirella Neves Ferraz, o partido alega inconsistências no registro de candidatura de Jairo, por ter apresentado declaração de bens incompleta à Justiça Eleitoral, e pede a instauração de procedimento investigativo para apurar eventual configuração de crime de falsidade ideológica eleitoral. Ainda não há um posicionamento da Justiça Eleitoral — que já autorizou pedido semelhante envolvendo Cristina Graeml.
O Portal Divulga Cand, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mostra como únicos bens do candidato do PMB duas cotas de igual valor, que somam R$ 20 mil, das empresas Jairo Aparecido Ferreira Filho | Sociedade Individual de Advocacia e Xcelere Inteligência Empresarial Ltda. Segundo o Cidadania, no entanto, há mais três registros ativos e um suspenso e que não foram declarados à Justiça, que somariam mais R$ 495,5 mil a este valor.
Conforme a ação à qual o Blog Politicamente teve acesso nesta terça (15), o Cidadania apresentou quatro registros de Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica. Nos anexos, o partido alega que Jairo omitiu da Justiça Eleitoral o fato de ser diretor da Cooperativa TJ de Mineração da Região do Amazonas. A empresa de extração de minério de metais preciosos tem cadastro ativo desde novembro de 2020 e R$ 10,5 mil de capital social.
Jairo também aparece como administrador de dois CNPJs diferentes para uma mesma empresa, a Leilão Money Ltda. O primeiro, de novembro de 2021, suspenso (com pedido de baixa indeferido) e capital social de R$ 100 mil, e outro de fevereiro de 2022, este ativo e capital social no valor de R$ 220 mil.
Por fim, o vice de Cristina está como proprietário de uma empresa que leva seu nome e que tem como nome fantasia Ferreira Locadora de Veículos. Como levantou o Cidadania, este CNPJ é ativo desde 2011 e o capital social soma R$ 165 mil.
Por telefone, o vice de Cristina negou ao Blog Politicamente que tenha sido filiado ao PCdoB e que tenha omitido bens no registro de candidatura.
“Sobre este negócio de eu ter sido filiado ao PCdoB, de verdade, eu desconheço esta informação. Duvido que de maneira consciente isso tenha acontecido. Em 2018, eu fiz uma campanha assídua e fervorosa para o Bolsonaro. Nunca votei no PT na minha vida, na esquerda na minha vida. Eu sempre me posicionei à direita no espectro político. Desconheço demais esta informação. Na verdade é uma bagunça este mundo partidário e talvez isso é que faça notícias sobre essa e até documentos como esse. O pessoal pega seu CPF e faz o que quiser com ele. Ainda mais quem não tem escrúpulos”, declarou.
Sobre o registro de bens, Jairo afirmou que não omitiu nenhum bem. “Quando eu disse que ia ser candidato, liguei para minha contadora e falei: ‘Declara, faz tudo que tem que ser feito de acordo com o que a lei manda, de maneira muito transparente’. Porque é assim que a gente tem que jogar o jogo. Se a gente quer mudar o sistema, a gente precisa seguir as leis”, disse.
O candidato declarou que acredita em um “erro operacional, sem dolo, sem nada, de fato. Até porque, gostaria muito de estar com muitos bens, para poder declarar e, de repente, eram tantos os bens que, eventualmente, eu tenha esquecido de tantos bens que eu teria. Mas, infelizmente, não é o caso. Afinal de contas, tivemos aí esse cenário de pandemia, que atingiu tantas e tantas pessoas, empresários, e eu fui uma vítima, sobretudo da gestão que foi estabelecida aqui em Curitiba”, afirmou.