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O laudo produzido pelos peritos do Instituto de Criminalista do Estado do Paraná comprovam que foram apagados registros da câmera de segurança instalada no salão da Associação Esportiva Saúde Física Itaipu (Aresf), em Foz do Iguaçu, onde o guarda municipal e o tesoureiro do PT Marcelo Arruda foi assassinado, no dia 9 de julho, pelo agente penitenciário federal Jorge José da Rocha Guaranho.
O Blog Politicamente teve acesso ao laudo de 24 páginas assinado por cinco peritos criminais que fizeram a análise do DVR, que é o equipamento de gravação de vídeo que registrou a morte do petista. A perícia solicitada consistia na extração de imagens referentes ao período entre 23h00min do dia 09/07/2022 e 00h30min do dia 10/07/2022.
O laudo foi solicitado pela delegada chefe da DHPP (Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa), Camila Cecconello, que investigou o caso por designação da Secretaria da Segurança Pública do Paraná. Ao encaminhar o equipamento, a delegada fez quatro quesitos para os peritos.
Em um dos questionamentos, a delegada quer “que sejam identificados todos os LOGS e identificações de acesso às imagens do DVR efetuadas na data de 09/07/2022”. LOGS são os acessos ao equipamento.
Na resposta, os peritos afirmam que houve uma “limpa”. “Ao analisar as configurações do equipamento identificou-se que o serviço de acesso remoto P2P estava ativado e que às 08h57min02seg do dia 11/07/2022 ocorreu um evento de “Limpar” que apagou todos os registros de eventos do aparelho anteriores a esta data. Logo, pela análise dos logs presentes não foi possível afirmar se houve acesso às imagens na data de 09/07/2022”.
De acordo com o laudo, “Às 08h57min02seg há o evento “Limpar” realizado pelo usuário “admin” que indica a remoção dos registros de eventos do aparelho. Portanto, como houve a limpeza dos registros de eventos, não é possível determinar os acessos realizados ao aparelho na data de 09/07/2022” — dia em que Marcelo Arruda foi assassinado. “Verificou-se que o serviço P2P (peer-to-peer) estava ativado. Este serviço permite acessar remotamente o aparelho DVR”.
Sem adulteração — Os peritos ainda atestam no laudo que “não foram encontrados indícios de adulterações” nas imagens e, respondendo aos quesitos 2 e 3, que não foi possível realizar a leitura labial “de todos os indivíduos que aparecem nas imagens das 23h40min36 até 23h41min50seg” e “e todos os indivíduos que aparecem nas imagens internas e externas do local, das 23h51min36seg até 23h52min”.
Ao elencar os quesitos 2 e 3, Camila Cecconello buscava com a perícia decifrar o que foi falado em dois momentos do crime registrados pela câmera de segurança. O primeiro, na área externa, em que há uma discussão entre Marcelo Arruda e Guaranho minutos antes do petista aparecer jogando terra de um canteiro em direção ao carro.
Outro momento em que os peritos não conseguem fazer a leitura labial é quando Guaranho retorna ao local da festa e começa a discutir com Marcelo Arruda antes de fazer os disparos.
Morte misteriosa — O resultado do laudo pode ter relação com a morte de Claudinei Coco Esquarcini, no dia 17 de julho. Ele era um dos diretores da Aresf e seria o responsável pelo monitoramento das câmeras e poderia ter fornecido senhas de acesso às câmeras de segurança do local onde o petista estava fazendo a festa de aniversário.
O Blog Politicamente teve acesso a imagens de câmera de segurança que mostram que, por volta de 13h, Claudinei andava sozinho minutos antes de se jogar de um viaduto no Centro da cidade de Medianeira, distante cerca de 60km de Foz do Iguaçu. Em respeito à família, o Blog preferiu não exibir as imagens.
O Caso — Marcelo Arruda foi morto na noite de sábado (9). Ele completava 50 anos e comemorava o aniversário cujo tema era o PT e o ex-presidente Lula, quando Guaranho invadiu a festa e fez disparos contra o tesoureiro do PT. Marcelo Arruda reagiu e acabou baleando Guaranho, que foi levado ao hospital, onde permanece internado. Em recente entrevista, o advogado de Guaranho disse que o policial penal federal “não tem memória alguma do crime”.
Cerca de 15 dias depois do crime, a Polícia Civil do Paraná concluiu o inquérito dizendo que não houve motivação política no assassinato de Marcelo Arruda. Jorge Guaranho foi indiciado por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e causar perigo comum.
No dia 20 de julho, o Ministério Público do Paraná denunciou Guaranho por homicídio duplamente qualificado e mencionou motivações políticas no caso. Os promotores consideraram que o crime ocorreu por motivo fútil, decorrente de “preferências político-partidárias antagônicas”. No mesmo dia, na verdade horas depois do oferecimento da denúncia, o juiz Gustavo Germano Francisco Arguello, da 3 Vara Criminal de Foz do Iguaçu, aceitou a acusação contra Guaranho.
Oficial — O Blog Politicamente tentou entrar em contato com a delegada Camila Cecconello, mas ela está de férias. A Secretaria de Segurança Pública do Paraná foi procurada para se manifestar sobre o laudo. Por nota, a Sesp informa “que a Polícia Científica está elaborando todos os laudos periciais solicitados, que estão sendo concluídos dentro dos prazos legais. Como o caso está em fase judicial, o titular da ação penal é o Ministério Público, portanto não cabe à SESP se manifestar sobre detalhes do processo”.