O candidato a prefeito de Curitiba Samuel de Mattos (PSTU) entrou com uma ação na Justiça Eleitoral para participar do debate que será promovido pela RPC, afiliada da Globo, na noite da próxima quinta-feira (3). O caso chegou ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Paraná, depois que o juiz Irineu Stein Junior da 145ª Zona Eleitoral de Curitiba indeferiu o pedido para que a TV o inclua no debate. É possível que o recurso seja julgado na sessão desta quarta ou quinta-feira (3) e, dependendo do resultado, pode alterar as atuais regras.
Tradicionalmente, a RPC convida os candidatos de partido que têm representatividade no Congresso Nacional — foi assim, nas últimas eleições. Em 2020, a emissora não fez o debate por conta da pandemia da Covid-19 e em 2008, foi justamente esta regra, que impediu a realização devido ao elevado número de candidatos que teriam o direito — eram 8 naquele ano. Nesta eleição de 2024, a TV inovou e, além dos seis com representação em Brasília, resolveu chamar Roberto Requião (Mobiliza) e Cristina Graeml sob o critério de “histórico político” e resultados das duas pesquisas Quaest — contratadas pela emissora.
Durante a reunião de preparação do debate eleitoral, representantes dos candidatos expuseram discordância da inovação e requereram a participação de todos os 10 concorrentes ao Palácio 29 de Março — em especial Samuel e Felipe Bombardelli (PCO) que ficaram de fora. A emissora justificou que “o convite é facultativa e fomenta o processo democrático e contribui com a informação do eleitor, atendendo ao interesse público”. O entendimento do juiz Irineu Stein Junior foi no mesmo sentido.
“Ademais, além de agir conforme regramento legal, ao estabelecer o critério objetivo a emissora está a exercer o seu legítimo direito de liberdade de imprensa, da manifestação do pensamento e informação jornalística, expressamente garantidos pela Constituição Federal. A extensão do convite ao Requerente seria uma faculdade da Emissora de TV, portanto sem qualquer obrigatoriedade, o que decorre, no exame da inicial, na ausência de obrigatoriedade”.
O impacto da nova regra nas estratégias
Marcado para a próxima quinta-feira, a três da eleição, o debate pode significar uma última chance para os candidatos tentarem alguma estratégia na reta final para conquistar votos dos indecisos. Até porque, a propaganda eleitoral se encerra no dia 3 e a partir do dia seguinte começa a restrição quanto a impulsionamento em redes sociais. Ou seja, dependendo do que acontecer no debate, o candidato terá dificuldades de “dialogar” com o curitibano.
O novo regramento apresentado pela Globo paranaense não caiu muito bem, particularmente, em dois comitês: no de Eduardo Pimentel (PSD) e de Luciano Ducci (PSB), já que a estratégia traçada terá de ser revista por ambos. Na questão do atual vice-prefeito, a entrada de Cristina Graeml no debate global pode atrapalhar os planos dos palácios 29 de Março e Iguaçu nesta reta final da disputa. A última pesquisa com o cenário político eleitoral na capital mostrou um crescimento da intenção de voto na candidata do PMB. Há quem tema, na sede do Executivo estadual e municipal, o desempenho dela na reta de chegada.
Ciente disso, a jornalista colocou em prática a estratégia de colar sua imagem a do ex-presidente Jair Bolsonaro — mesmo sabendo que o “Capitão” já gravou declaração de apoio ao candidato do PSD. Cristina tem dialogado com o eleitor da centro direita se colocando como a verdadeira postulante deste espectro político. Os palácios temem uma eventual onda Cristina Graeml — apesar da diferença grande que tem que tirar de Ducci para chegar num eventual 2º turno.
Ducci, por sua vez, tem lá também seus dissabores em relação a presença de Requião no debate da RPC. Embora Requião não tenha conseguido subir, aliás, dados da pesquisa Radar, revelou que ele está na contramão, o candidato do PSB sabe que o ex-governador é afiado e domina como poucos a oratória. Pelas redes sociais, o candidato do Mobiliza já começou a pedir votos para chegar ao 2º turno — quando ele terá o mesmo tempo de rádio e televisão do adversário, recurso que ele não dispõe na campanha.
Todos os candidatos sabem que o debate da Globo influencia principalmente na decisão de quem ainda está indeciso. Portanto, um deslize, a depender do estrago, pode colocar em risco o trabalho desenvolvido durante a campanha. Ao mesmo tempo, uma “estrelada” pode criar uma onda positiva nos últimos dias da corrida eleitoral.