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Por Karlos Kohlbach
Um aúdio de Whatsapp obtido com exclusividade pelo Blog Politicamente nesta sexta-feira (18) mostra que a candidata a prefeita de Curitiba Cristina Graeml (PMB) de 2024 é bem diferente da Cristina Graeml jornalista de 2020. E, mais, o conteúdo pode afastar a pretensão dela de contar com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na reta final do 2º turno em Curitiba. O áudio foi enviado pela candidata no mês de março de 2020 a um dos seus muitos contatos. Cristina Graeml tinha na época um pensamento completamente diferente do que apresenta hoje sobre a pandemia da Covid-19 e também sobre Jair Bolsonaro — na época, presidente do Brasil.
“A gente está vendo o que a imprensa está fazendo, a gente está vendo a vibração negativa, essa coisa de política, de tudo de novo. A gente sabe que o Bolsonaro é burrão, mas o Ministério está dando um show, as medidas tomadas aqui no Brasil estão sendo elogiadas pelo mundo inteiro, só que a minha preocupação é que a população não se deu conta”.
O Blog Politicamente esclarece que o áudio de Cristina Graeml foi repassado na íntegra por uma fonte e não contém qualquer corte ou edição. Mas o Blog optou por divulgar apenas este trecho acima (também sem qualquer corte ou edição) pelo fato de constar questões pessoais da candidata.
É preciso contextualizar e voltar ao cenário fúnebre que o mundo atravessou durante a pandemia. No Brasil, ela teve início em 26 de fevereiro de 2020 com a confirmação do primeiro caso na cidade de São Paulo. Em Curitiba, foi em 12 de março daquele ano. O ministro da Saúde de Bolsonaro era o médico e ex-deputado federal Luiz Henrique Mandetta, que conduziu o país nos primeiros passos de uma travessia sombria que deixou mais de 700 mil brasileiros mortos — 8.935 só em Curitiba.
Em abril, menos de dois meses depois do início da pandemia, Bolsonaro demitiu Mandetta por divergência na condução da política sanitária do ministro contra a covid-19 — principalmente sob dois aspectos: a questão do isolamento social e o uso da cloroquina para o tratamento da doença provocada pelo coronavírus, mesmo não havendo comprovação da eficácia do medicamento. A gestão de Mandetta foi marcada pela defesa das medidas de isolamento social e da orientação para que a população seguisse as orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde) — postura muito parecida da adotada pelos secretários de Saúde, Beto Preto, em nível estadual, e por Márcia Huculak, que comandou a secretaria de Curitiba. Bolsonaro era contra o isolamento e não foi um ou dois os casos em que o presidente da época provocou aglomerações, desrespeitando a orientação do Ministério da Saúde.
Ainda sem qualquer perspectiva de vacina para frear o contágio e a letalidade do vírus, a OMS orientava um lockdown para evitar a circulação da Covid-19 e o colapso do sistema de saúde. Preocupada com um abalo na economia, assim como os entes estadual e federal, a Prefeitura de Curitiba restringiu acessos, mas não totalmente, o que provocava um efeito sanfona: os casos arrefeciam, mas depois os números de casos e óbitos escalavam. Na época, alguns serviços/atividades foram elencados como essenciais. Mas o Brasil e Curitiba pararam de vez com a decretação de alguns lockdown`s em 2021.
No aúdio, de março de 2020, Cristina Graeml se mostrava favorável à condução do ministro Mandetta. Chegou a elogiar dizendo que o ministério estava dando um show com medidas tomadas que estavam sendo elogiadas no mundo todo. A candidata, em um dos debates em 2024, afirmou que ela e toda a família tomaram todas as vacinas da Covid. Mas o discurso mudou radicalmente, chegando a flertar com uma postura negacionista da pandemia.
Num vídeo feito meses depois do envio do áudio, em 2 de agosto do mesmo ano, a jornalista colocou em xeque os dados sobre a pandemia ao citar que o portal da transparência do Registro Civil indicava uma queda acentuada de mortes por Covid na época, enquanto a trajetória de óbitos seguia constante — o que depois foi desmentido pelo portal Aos Fatos.
“Não é verdade que números do Portal da Transparência do Registro Civil indicam que a curva de mortes pela Covid-19 esteja caindo de forma acentuada no país desde meados de julho, como afirma a colunista da Gazeta do Povo Cristina Graeml em vídeo postado nas redes do jornal em 2 de agosto. Consulta feita por Aos Fatos na plataforma dos cartórios nesta segunda-feira (17) mostra que não houve queda considerável no volume de óbitos diários da doença nas datas citadas e que a trajetória ainda se assemelha a um platô”.
A avaliação de Cristina Graeml sobre Bolsonaro também mudou da água para o vinho. Se, em 2020, o Capitão Bolsonaro foi chamado de “burrão” pela condução da pandemia, em 2024, a candidata é só elogios ao ex-presidente — um dos fatores que a levou ao 2º turno da eleição em Curitiba. E, nos últimos dias, ela tem aguardado uma declaração pública de apoio de Bolsonaro — que tem se mantido calado sobre a disputa em Curitiba, já que Paulo Martins, do PL, ocupa a vice de Eduardo Pimentel. Resta saber agora como Bolsonaro e seus eleitores/seguidores vão reagir a mudança de comportamento de Cristina Graeml.
Ela já anunciou que se for eleita prefeita de Curitiba vai nomear a médica mineira Raíssa Soares como secretária de Saúde da capital. Durante a pandemia, Raíssa Soares foi secretária da Saúde de Ponto Seguro, na Bahia, e defendia o uso de hidroxicloroquina — motivo pelo qual ela ganhou o apelido de Dra. Cloroquina. Ela recomendava ao Governo Federal que enviasse ao município baiano mais caixas do medicamento e desestimulava a população a tomar a segunda dose da vacina anticovid.
A atuação de Raíssa Soares não rendeu somente o apelido, mas também a exoneração do cargo de secretária de Saúde de Porto Seguro, em decreto assinado pelo prefeito Jânio Borges, no dia 1º de novembro de 2021. O Ministério Público da Bahia entrou com ação de improbidade administrativa contra a médica e pediu que ela fosse retirada da função. Para o MP, a médica Raíssa Soares “incentivava o uso de uma medicação que não ajuda a enfrentar a Covid-19”.
O Blog Politicamente não conseguiu contato com a candidata Cristina Graeml (PMB) para comentar o áudio. O espaço segue aberto para manifestação da candidata.