Advogado de Curitiba foi alvo de espionagem da “Abin paralela”

Por Karlos Kohlbach e Carol Nery

A organização criminosa presa pela Polícia Federal na operação Última Milha, acusada de monitorar ilegalmente pessoas e autoridades públicas, invadindo aparelhos e computadores por meio do uso ilegal de sistemas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), tinha como um dos muitos alvos o advogado de Curitiba Roberto Bertholdo — um velho personagem da crônica política e policial do Paraná.

Advogado de Curitiba foi alvo de espionagem da "Abin paralela"
Roberto Bertholdo (Foto: Youtube/TV 247)

 

A quadrilha está sendo investigada desde 2023, suspeita de espionar autoridades e desafetos políticos no governo Jair Bolsonaro. Entre os adversários políticos estava Roberto Bertholdo — que sempre transitou com bastante desenvoltura entre os poderes. Bertholdo já foi preso algumas vezes — a mais recente delas em agosto de 2020, na operação Placebo, por envolvimento com a IABAS, principal organização social envolvida na corrupção da saúde.

Em 2006, Bertholdo foi detido por subornar um ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) a partir de investigações do Ministério Público Federal no caso Banestado. Ao ter a prisão decretada pelo então juiz federal Sergio Moro, que supostamente teve seu telefone grampeado pelo advogado, os dois se tornaram desafetos. O advogado ainda foi acusado pelos crimes de tráfico de influência, compra de sentenças judiciais e lavagem de dinheiro — após ser preso pela Polícia Civil do Paraná. Antes de ir em cana, Bertholdo era conselheiro da estatal Itaipu Binacional e circulava com desenvoltura invejável nos bastidores dos Três Poderes.

Bertholdo foi alvo da “Abin paralela” por ligação com desafetos políticos

Bertholdo foi alvo da “Abin paralela” por uma suposta ligação com o então presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia e com a deputada federal Joice Hasselmann — eleita em 2018 pelo PSL de Jair Bolsonaro.

“O então diretor da Abin, Del. Alexandre Ramagem, determinou a ação clandestina para, em suma, tentar vincular o então presidente da Câmara dos Deputados Deputado Rodrigo Maia, e a Deputada Joice Hasselmann ao advogado Roberto Bertholdo”, descreve o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes na decisão que autorizou a operação da PF — que resultou na prisão de quatro pessoas.

Moraes cita ainda que “a primeira ação clandestina realizada no dia 11/10/2019 se deu com a intenção de relacionar o sr. Giacomo Romeis Hensel Trento e com Roberto Bertholdo. O advogado Roberto Bertholdo foi preso em 28/08/2020 no âmbito da ação penal que investiga irregularidades na área de saúde do Rio de Janeiro”, cita o ministro da Suprema Corte.

O alvo da Polícia Federal preso em casa no Cajuru

Conta uma boa fonte do Blog Politicamente, que a ação dos federais em Curitiba se concentrou no cumprimento da prisão de Richards Dyer Pozzer — considerado pela PF como “um dos vetores de propagação de desinformação” através das redes sociais. Para a PF, Richards fazia parte do “Núcelo Vetor de Propagação”. Para Alexandre de Moraes, “a utilização de vetores de propagação, cooptados e municiados pelo núcleo de estrutura paralela, servia como anteparo para distanciar do ilícito os verdadeiros beneficiários políticos da desinformação”.

Advogado de Curitiba foi alvo de espionagem da "Abin paralela"
Richards Dyer Pozzer (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Richards foi preso em casa, no bairro Cajuru, em Curitiba. Uma fonte do Blog Politicamente diz que Richards preferiu ficar em silêncio durante o depoimento.

O advogado Jeffrey Chiquini, que defende Richards Dyer Pozzer, afirmou em nota distribuída à imprensa, que “trata-se de um senhor, um cidadão comum, engenheiro, casado, pai de família, um mero curioso, que em suas horas vagas, realizava pesquisas em portais de transparência, sobre atividades de pessoas públicas, através de informações públicas, exercendo o direito de cidadania na fiscalização do serviço público, moralidade e probidade da administração pública. Um verdadeiro preso político, acusado por exercer seu papel como cidadão na democracia”, afirmou o defensor.

Até o momento, a PF suspeita que a quadrilha tenha monitorado ilegalmente as seguintes autoridades e jornalistas:

Poder Judiciário: Ministros Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luis Roberto Barroso e Luiz Fux;

Poder Legislativo: Deputado Federal Arthur Lira (Presidente da Câmara dos Deputados), Deputado Rodrigo Maia (então Presidente da Câmara dos Deputados), Deputados Federais Kim Kataguiri e Joice Hasselmann, Senadores Alessandro Vieira, Omar Aziz, Renan Calheiros e Randolfe Rodrigues.

Poder Executivo: Ex-Governador de São Paulo, João Dória, Servidores do Ibama Hugo Ferreira Netto Loss e Roberto Cabral Borges, Auditores da Receita Federal do Brasil Christiano José Paes Leme Botelho, Cleber Homen da Silva e José Pereira de Barros Neto.

Jornalistas: Monica Bergamo, Vera Magalhães, Luiza Alves Bandeira e Pedro Cesar Batista.

 

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