Cortina de Fumaça foi o nome dado à operação deflagrada nesta quinta-feira (7) pela Divisão Estadual de Combate à Corrupção (Deccor), da Polícia Civil do Paraná, que mexeu com a disputa de dois grupos econômicos gigantescos e bilionários. Dez mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Curitiba, Araucária e no Estado de São Paulo.
Para entender a ação policial é preciso conhecer um pouco da intrincada disputa judicial, envolvendo a recuperação judicial da Imcopa, gigante processadora de soja com sede em Araucária, e o Grupo Petrópolis do empresário Walter Faria. A relação comercial entre as empresas de Walter Faria com a Imcopa começou em 2010, quando a Petrópolis arrendou duas fábricas da empresa no Paraná para produzir bebidas. No entanto, no ano de 2013, a Imcopa pediu recuperação judicial — os créditos desta recuperação passam hoje de R$ 3 bilhões. A partir daí é deflagrada uma guerra judicial.
Vai e vem na Justiça — O capítulo mais recente deste imbróglio aconteceu no início de fevereiro deste ano, um pouco antes do Carnaval. A juíza Mariana Gluszcynski Fowler Gusso, da 1ª Vara de Falências e Recuperação Judicial de Curitiba, determinou que o grupo de Walter Faria retomasse o controle da Imcopa. A decisão saiu na sexta-feira, mas sequer surtiu efeito prático, já que três dias depois, na segunda-feira, foi cassada liminarmente pelo desembargador Tito Campos de Paula, do Tribunal de Justiça do Paraná, sob o argumento que “a alteração do controle societário gera efeitos imediatos no processo de recuperação judicial e no dia a dia das recuperandas”.
Tangenciando esta disputa judicial, a Deccor apurava desde o fim de 2022 a suspeita de empresários e administradores que estariam “jogando contra” o processo de recuperação judicial da Imcopa provocando prejuízos aos credores e, até supostamente, obtendo vantagens indevidas.
“Laranjas” — No papel, quem administra a Imcopa é um emaranhando de empresas que convergem para os nomes de Mauro Piacentini e Fernando Antônio Lauria Nascimento. Mas na prática, as decisões administrativas estratégicas da Imcopa eram submetidas, segundo a investigação, para deliberação de Renato Mazzuchelli, Ruy Del Gaiso e Eduardo Asperti — todos eles sócios da R2C Investimentos, com sede no bairro Pinheiros, em São Paulo, com forte atuação no mercado financeiro. A suspeita, portanto, da polícia, corroborada pelo Ministério Público do Paraná e pela Justiça, é que Mauro e Fernando eram laranjas dos empresários.
Outro fato que chamou a atenção dos investigadores: Mauro é irmão de Sandra Piacentini que é casada com Ruy. Esta relação de parentesco, por si só, já coloca em xeque a administração judicial uma vez que Ruy, segundo a investigação, tem vínculo com uma empresa que é detentora de créditos perante à Imcopa.
Documento da Imcopa em SP — Durante o cumprimento do mandado de busca na sede da R2C, os policiais civis encontraram documentos da Imcopa — o que reforça os indícios de fraude. Na Imcopa, que fica na cidade de Araucária, os policiais não encontraram praticamente nada que pudesse ajudar na apuração do caso. Uma boa fonte do Blog Politicamente contou que além destes documentos foram apreendidos computadores e outros documentos. Mauro e Fernando não foram encontrados em casa pela polícia — assim como Ruy e Renato que estariam fora do país.
Os policiais também estiveram na sede da Vallup Consultoria, num prédio imponente no bairro Centro Cívico, em Curitiba, em busca de documentos, computadores e celulares de Luis Gustavo Budziak e Lucas Laufert Dezordi — peritos que teriam atuado no processo de recuperação judicial da Imcopa para realizar uma perícia contábil. Durante a investigação, os policiais descobriram que os dois peritos são sócios da empresa Trivella M3 Investimentos S.A que, por sua vez, mantém relação societária com a R2C Investimentos.
Afastamento da Imcopa — Além dos 10 mandados de busca e apreensão autorizados pela Justiça do Paraná, com anuência do Ministério Público, foi determinado o imediato afastamento de Mauro Piacentini, Fernando Antônio Lauria Nascimento, Renato Mazzuchelli, Ruy Del Gaiso, Eduardo Asperti e Daniel Augusti Graziano, outro sócio da R2C, do exercício da atividade econômica do Grupo Imcopa.
A Deccor agora vai se debruçar sobre o material apreendido, em especial, dos celulares para aprofundar as investigações.
Outro lado — O Blog Politicamente procurou as pessoas investigadas, que foram alvos desta operação Cortina de Fumaça. A empresa R2C ficou de retornar com uma manifestação sobre o caso, assim como a Vallup que citou desconhecer o teor da investigação e que, por isso, primeiro vai se inteirar da investigação para depois se manifestar.
Na sede da Imcopa, ninguém atendeu aos telefonemas. O advogado Geraldo Gouveia, que atua na ação de recuperação judicial da empresa, descartou qualquer fraude no processo, disse ao Blog Politicamente que a Imcopa foi pega de surpresa por esta operação policial e que a empresa vai se manifestar depois que tomar ciência dos detalhes da investigação.
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