A estratégia de Ducci e Eduardo no primeiro programa na TV

Karlos Kohlbach

O horário eleitoral no rádio e na televisão começa nesta sexta-feira (30). É um importante marco na campanha eleitoral. Historicamente, a TV é o meio mais eficaz pelo qual o eleitor entra em contato com as propostas dos políticos, apesar do avanço cada vez mais visível das redes sociais. Até porque quem tem mais tempo de televisão fica, em tese, mais conhecido — condição importantíssima numa disputa eleitoral. Portanto, a força da televisão numa eleição pode catapultar ou até mesmo sepultar uma candidatura.

Aliás, a propaganda eleitoral na televisão é a aposta de muitos candidatos — principalmente daqueles que ainda não performaram tão bem nas pesquisas de intenção de voto. Mas esta possibilidade de falar diretamente com os eleitores não é garantida à todos.

A eleição municipal de 2024 será a primeira já submissa às novas regras eleitorais que alteraram a distribuição do tempo na propaganda entre os candidatos. A nova diretriz é objetiva: apenas siglas com 12 deputados federais ou que tenham atingido 2% dos votos válidos em pelo menos nove estados na eleição de 2022 terão horário eleitoral.

Em Curitiba, dos 10 candidatos à prefeitura, quatro não vão aparecer na televisão: Cristina Graeml (PMB), Felipe Bombardelli (PCO), Roberto Requião (Mobiliza) e Samuel de Mattos (PSTU). Do outro lado, Eduardo Pimentel (PSD) tem quase um latifúndio dentro da divisão do horário eleitoral na TV — fruto de uma coligação articulada pelos palácios 29 de Março e Iguaçu, com participação especial e decisiva do governador Ratinho Junior. Dos 1o minutos de programa eleitoral, Eduardo tem 4 minutos e 42 segundos de propaganda — quase igual ao tempo de todos os adversários somados.

O que o Blog Politicamente viu nos comerciais de Eduardo e Luciano Ducci?

O Blog Politicamente teve acesso com exclusividade aos primeiros programas que serão exibidos na televisão no primeiro dia de horário eleitoral gratuito de dois dos principais candidatos na corrida eleitoral: Eduardo Pimentel e Luciano Ducci. Os demais concorrentes preferiram não “dá spoiler”. O blog optou por divulgá-los após a exibição no horário eleitoral.

Os comerciais são fruto do desenho estratégico e muito bem pensado pela equipe de comunicação e marketing da campanha do PSB e PSD. Do lado de Ducci, o comando é do publicitário e marqueteiro Maurício Ramos, que já assinou, dentre outros trabalhos, a campanha de Ratinho Junior em 2012, quando o governador disputou a prefeitura de Curitiba — sendo superado por Gustavo Fruet (PDT). Do lado de Eduardo, estão o publicitário Juca Pacheco, da G-PAC, quem idealizou e executou as bem sucedidas campanhas de Rafael Greca de 2016 e 2020, e João Debiasi, que foi secretário do governador Ratinho e de Jorginho Mello, de Santa Catarina, e agora coordena a comunicação da campanha do PSD.

Os filmes de Ducci e Eduardo são de “primeira linha” e têm em comum a plasticidade. São muito bem roteirizados, produzidos e editados, além de priorizar imagens externas em pontos bastante conhecidos de Curitiba. E são apoiados em informações cirurgicamente colhidas em rodadas de pesquisas qualitativas. Mas as semelhanças param por aí. As estratégias são bem distintas — o que já era esperado. A começar pela programação: no primeiro dia, a campanha de Eduardo vai investir num único vídeo — que será veiculado tanto ao meio-dia como às 20h30. Já Ducci preparou dois comerciais — talvez até por contar com metade do tempo do adversário.

Comecemos pelo filme de Eduardo Pimentel. Ele é dividido em cinco partes. Na primeira delas, Juca Pacheco e Debiasi contam como a gestão Greca/Eduardo herdaram a prefeitura de Curitiba de Gustavo Fruet. É a primeira de muitas aparições de Rafael Greca, que num cenário bucólico, fala numa cidade “abandonada”, com R$ 4 mil em caixa, classificada pelo Tesouro Nacional na categoria C, com falta de remédios nas pratelerias, ônibus sucateados, dentre outras mazelas.

E a partir daí, já entrando na segunda parte do filme, vem a “tropa de choque” da campanha. A entrada de Eduardo Pimentel no comercial narra o trabalho de “transformação e reconstrução” — citando o ajuste fiscal, o “freio de arrumação” feito na parte administrativa e previdenciária, que permitiu uma “nova Curitiba”. Fica de lado a música com acordes de melancolia para entrar em cena sons vibrantes sempre acompanhados de letterings dando destaque para os principais feitos.

É o momento de explorar a experiência de gestão do candidato do PSD, o que é referendado pelos seus principais cabos eleitorais: Greca e o governador Ratinho Junior que debuta no comercial. Serão figurinhas mais do que comum nas inserções ao longo da programação das TVs e nos filmes do PSD até o dia 3 de outubro. Greca cita Eduardo, além de vice, secretário de Obras de Curitiba. Ratinho destaca a atuação do “pupilo” na poderosa e estratégica Secretaria das Cidades do Paraná. Nesta parte, um velho conhecido dos curitibanos e dos paranaenses volta às telas: Paulo Pimentel — ex-governador e avô de Eduardo.

Eduardo qualifica seus apoiadores: Greca é o professor, Ratinho o parceiro de primeira hora e Paulo Pimentel a referência moral. “Tá bem acompanhado hein Eduardo?”, grita o lettring.

A quarta parte do filme traz conceitos e o slogan da campanha, captado numa das muitas pesquisas qualitativas com os eleitores curitibanos. “Eduardo, tá preparado”. Frase dita e repetida pelos depoimentos que enchem a tela. É o momento da aparição de Márcia Huçulak, ex-secretária de Saúde de Curitiba que conduziu os curitibanos durante a pandemia da Covid-19. A aparição da atual deputada estadual traz a figura feminina para a campanha de Eduardo.

Na quinta e última parte, a propaganda tem o objetivo de resgatar a autoestima do curitibano e a garantia da continuidade do trabalho de Rafael Greca, que no vídeo diz ter cumprido sua missão: “entregar uma cidade melhor do que eu peguei” e depois provoca: “e você acha que eu ia entregar [a prefeitura] na mão de qualquer um? Claro que não”.

“Vou governar seguindo o caminho do Greca, foi o caminho que me trouxe até aqui”, diz Eduardo Pimentel.

A estratégia do filme de Ducci

Com praticamente metade do tempo de propaganda do candidato do PSD, Maurício Ramos optou por dois comerciais diferentes no primeiro dia. O primeiro, que será veiculado ao meio-dia, traz o roteiro esperado numa campanha eleitoral: a apresentação do candidato. Mas a “mesmice” é logo interrompida com a tônica do que será a campanha do PSB. Ducci não é a estrela do comercial. Digo, não é a única. Goura Nataraj, deputado estadual do PDT como vice na chapa, é onipresente na propaganda eleitoral — assim como tem sido nos eventos de rua e nas redes sociais. Como se fossem dois os prefeituráveis.

O vídeo começa com os dois, debaixo de uma grande araucária, conversando. E a partir daí os dois narram em primeira pessoa suas trajetórias pessoais e políticas — cumprindo a “exigência” de apresentar ao eleitor a história de vida. Com muitas fotos do arquivo pessoal, Ducci começa dizendo ser servidor público de carreira de Curitiba, num aceno ao funcionalismo municipal, se colocando como um de vocês, passando pela formação acadêmica de medicina — profissão compartilhada pela esposa Marry e os dois filhos.

O candidato começa então a apresentar a experiência profissional, citando o mandato de deputado federal e de secretário de saúde de Curitiba — época em que “fez o Mãe Curitibana” — a eleição de melhor prefeito do Brasil dentre as capitais. Depois, é a vez da autodescrição de Goura, destacando ser pai dedicado de duas meninas e deputado ativista de causas como mobilidade, meio ambiente, agricultura urbana, alimentação consciente, direitos humanos e acessibilidade. O comercial termina com ambos, novamente conversando, com o propósito de fazer uma revolução na cidade com o viés mais inclusivo e “cuidando das pessoas que mais precisam” — que deve ser um dos mantras da campanha.

Com “os candidatos” já apresentados, o segundo filme que vai ao ar nesta sexta, no período da noite, é dividido em duas partes: a primeira enaltece a cidade de Curitiba, dizendo que é linda e que pode ficar mais. Mais educada, mais segura e mais inclusiva. De forma resumida, o comercial volta a destacar as qualidades e características pessoais e profissionais de cada um, intercalando Ducci e Goura.

Mas a segunda parte da propaganda já elenca as propostas de Ducci e Goura, sempre os dois juntos, para o eleitor. O maior foco é na saúde. A promessa é o Hospital e Pronto-Socorro Municipal para urgência e emergência com 400 leitos, a ampliação da Maternidade do Bairro Novo que vai se transformar em Hospital da Mulher Curitibana, a criação da ala 80+ do hospital do Idoso e o novo “Mãe Curitibana” com vaga automática na creche “zerando a fila” por vagas na educação infantil.

Na parte de mobilidade, Ducci deixa de lado, por hora, a ideia do Metrô em Curitiba e adota o Super VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos) como novo eixo de transporte urbano que vai ligar, em minutos, o Centro ao aeroporto em São José dos Pinhais através da Avenida Comendador Franco. Maurício Ramos explica que a Ponte Estaiada, erguida quando Ducci era prefeito, permite a passagem do trem já que não há coluna de sustentação. Ainda na parte de transporte, a proposta é da volta da tarifa domingueira a partir já de janeiro de 2025 — com uma mudança: ao invés de R$ 1, será tarifa zero “para ativar o comércio e a área cultural da cidade”, cita o marqueteiro.

Na parte de segurança, a intenção é transformar a Guarda Municipal em Polícia Municipal Comunitária “perto de quem precisa”. Apresenta ainda a proposta de casa popular com sistema de luz solar para reduzir a conta de luz “de quem ganha menos”. O vídeo é finalizado com o mantra: “vamos fazer uma Curitiba que cuida das pessoas”.

“Vamos fazer uma Curitiba que cuida das pessoas”

O que “faltou”?

Obviamente que num filme, seja ele de 4 minutos ou de 2, são priorizados temas estratégicos e inerentes à campanha eleitoral — tanto do PSD quanto do PSB. Não dá para “colocar tudo”, portanto, não dá para dizer que “faltaram coisas”. Mas algumas “ausências” na primeira interação com o curitibano pela propaganda na televisão chamam a atenção.

No comercial de Eduardo, não há qualquer menção ao vice Paulo Martins (PL) — o que fica ainda mais evidente quando se compara com o filme de Luciano Ducci, com a onipresença de Goura. Não há menção também à esposa e filhos de Eduardo — o que tem aparecido nas redes sociais. E dos cabos eleitorais que ele contará na campanha, o ex-presidente Jair Bolsonaro ficou de fora. Temas que devem ser explorados em comerciais e inserções futuras — já que são muitas ao longo da campanha. Existe ainda uma repetição estética e de conceito gráfico das campanhas de Greca de 16 e 20 — que, embora vitoriosas, não trazem novidade à quem assiste.

Como a estratégia de Ducci foi dividir dois filmes num único dia, a ausência em ambos os comerciais é de qualquer menção e/ou referência ao PT e ao presidente Lula — o que, certamente, será feito ao longo da campanha.

Com a palavra, os “artistas”

Maurício Ramos, marqueteiro que assina a campanha de Ducci, destaca a interação dos dois prefeituráveis. “É uma campanha de fusão da experiência do Luciano Ducci com o sentimento de esperança no futuro trazido pelo Goura”.

“A gente está confiante que com o início dos programas e inserções mostrando tudo o que foi feito até aqui e as propostas que garantirão a consolidação do legado deixado pelo prefeito Greca nos próximos anos a campanha terá um crescimento exponencial”, disse João Debiasi.

O marqueteiro Juca Pacheco afirma que eles estão “trazendo uma campanha leve, dinâmica e que o curitibano vai se ver e se identificar. Estamos muito seguros e empolgados com os resultados”.

 

 

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