Sergio Moro foi um dos senadores escalados pelo presidente da Câmara Alta, Davi Alcolumbre, para construir o projeto de lei alternativo à anistia do 8 de janeiro — que deve ser apresentado ao Congresso Nacional no próximo mês.
Nos bastidores, comenta-se que Alcolumbre tem tabelado com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, e alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), sob os olhares atentos do Palácio do Planato, para elaboração de um texto que diminua as penas dos réus de menor importância, ao mesmo tempo que pode até aumentar a punição a líderes de tentativa de golpe em 8 de janeiro.
A ministra das Relações Institucionais, a também paranaense Gleisi Hoffmann, declarou nesta quarta-feira (30) numa entrevista à GloboNews, que “se houver um entendimento entre Legislativo e Judiciário, o presidente Lula não vai se opor” — ou seja, o petista iria sancionar o projeto de Alcolumbre, citando, no entanto, que o governo não ter participado desta construção da proposta alternativa.
O projeto não beneficiaria o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros acusados de liderar as ações — pelo contrário. Além de Moro, Alcolumbre escalou Rodrigo Pacheco (PSD) e Alessandro Vieira (MDB). A “convocação” foi primeiramente divulgada pela colunista Bela Megale do O Globo.
O “chamamento” na verdade pode representar uma tremenda saia-justa para Moro. Se de um lado pesa a proximidade com Alcolumbre, muito em função do julgamento do paranaense no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que poderia resultar na cassação do mandato do paranaense, de outro lado tem a questão da reação de Bolsonaro e aliados à ideia de uma alternativa à anistia.
O Capitão e aliados não querem nem ouvir falar em texto alternativo à anistia. Até as pedras do Centro Cívico sabem que o ex-juiz da Lava Jato pavimenta a candidatura ao Palácio Iguaçu e tem feito movimentos de aproximação ao bolsonarismo — visando, claro, a eleição de 26.
A digital de Moro num projeto alternativo à proposta de anistia defendida por Bolsonaro e aliados pode atrapalhar e muito o projeto político eleitoral do senador do Paraná. Moro, que não nutre simpatia do eleitor de Lula, por razões óbvias, pode colher inimizades também dos simpatizantes do Capitão. Muitos deles, aliás, ainda não esqueceram do afetuoso abraço em Flávio Dino durante a sabatina no Senado Federal.
Ao Blog Politicamente, Moro afirmou que só vai comentar o caso se o projeto de lei que trata da anistia for apresentado no Congresso Nacional.
A tendência é que o projeto alternativo seja apresentado pelo próprio Alcolumbre, numa tentativa de dar mais peso político à proposta. O presidente do Senado já teria se reunido com o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, e até mesmo com Alexandre de Moraes — que têm se mostrado menos resistentes à revisão das penas. O principal argumento levado aos magistrados é que a construção de uma saída é necessária para pacificar a relação entre os poderes e virar a página.
Ao colocar Moro nesta posição, já tem gente considerando Alcolumbre “muy amigo” do ex-juiz da Lava Jato. Moro vai ter que adotar outra expressão popular: “me inclua fora dessa”.