Horas depois de deixar a reunião com João Carlos Ortega no Chapéu Pensador, o ex-prefeito de Curitiba, Rafael Greca (PSD), começou a receber ligações e mensagens de aliados e interlocutores do Palácio Iguaçu.
Está em marcha uma ofensiva para tentar convencer Greca a aceitar o convite feito pelo homem forte de Ratinho Junior. Com aval do governador, Ortega ofertou a Secretaria do Desenvolvimento Sustentável, o Turismo e a Cultura. O ex-prefeito não aceitou nenhuma delas e insiste na pasta das Cidades — secretaria que Ratinho quer deixar para Guto Silva.

Uma boa fonte do Blog Politicamente, que acompanha de perto as negociações entabuladas pelo Iguaçu, conta que Greca após ouvir a proposta de Ortega, respondeu: “Cultura eu tenho. Turismo, eu já fui ministro. E Meio Ambiente eu não quero ‘rivalizar’ com a Marilza [Dias]”.
Diante da negativa, a turma da persuasão se dividiu: uns buscam contato direto com Rafael Greca e um outro grupo está atrás de Giovani Gionédis, pois acreditam que o advogado, que atuava como Rasputin no Palácio 29 de Março, tem influência sob o ex-prefeito.
Leia mais: Ratinho já tem nomes para Cidades e Agricultura. E Greca recusa convites
E faz um certo sentido nesta estratégia. Uma fonte com memória aguçada conta que em 2016, foi Giovani Gionédis que convenceu Rafael Greca a aceitar Eduardo Pimentel, então assessor do gabinete de Beto Richa, como vice na chapa que venceria o pleito e se reelegeria em 2020. Greca, relembra a fonte, já tinha decidido e acertado a vice com José Antônio Andreguetto.
Richa, por sua vez, defendeu na época o nome de Pimentel, que era do PSDB, mas Greca insistia na máxima que não queria “um palaciano” como vice, frase repetida durante um encontro na casa de João Alfredo Costa Filho — um dos entusiastas da campanha de Rafael. Foi quando Gionédis entrou em ação.
Sob a ameaça do então governador recolher todo o time, na época imbatível, e depois de ouvir os conselhos do advogado, Rafael Greca desfez o combinado com Andreguetto. Portanto, Giovani Gionédis pode ser sim um importante aliado do Iguaçu.
Café da manhã farto não agradou
Uma das pessoas que conversou com o ex-prefeito de Curitiba nestas últimas 48 horas, conta que ele saiu da reunião com Ortega “p. da vida”. Não só pelo motivo do convite não estar a contento, mas até pelo mise en place montado para receber Rafael Greca. Um farto café da tarde, com bolo, pão de queijo e outras guloseimas, surpreendeu até mesmo o encorpado Rafael.
“Ou acharam que eu estava com fome ou que eu como demais” — reagiu Greca à um interlocutor, não exatamente com estas mesmas palavras, mas neste sentido. Outro momento de desconforto foi quando o ex-prefeito descobriu que Ratinho não participaria da reunião. “A conversa é comigo Rafael”, reagiu Ortega. “O governador não conversa?”, retrucou o ex-prefeito.
Apesar do inconformismo, tem gente acreditando que Rafael Greca pode acabar cedendo. “Lá no fundo, [o Rafael] sabe que [a Sedest] é melhor do que ficar na chuva”.
Esquerda torce e aguarda
Ratinho, por ora, tem o não de Rafael Greca e agora aguarda o resultado da atuação dos articuladores escalados para convencer o ex-prefeito da capital para evitar o trabalho de refazer o desenho do secretariado que ele imaginou e, mais importante, um eventual rompimento político.
E é justamente por esta cisão que partidos de esquerda torcem e aguardam ansiosos. A canhota acredita que o nome de Rafael Greca pode cair como uma luva no projeto para reeditar, assim como em 24, uma frente ampla para disputar o Palácio Iguaçu.
Sem falar num robusto palanque eleitoral para o presidente Lula buscar os votos dos paranaenses na missão de reeleição. Obviamente que, até 26, muito possivelmente, Rafael Greca teria de ser abrigado no Governo Federal — trabalho para a mais recente ministra da articulação política, Gleisi Hoffmann, assim que desandar a relação com o PSD, se é que ela virá.
Portanto hoje, os dois lados disputam Rafael Greca. Cada um com seus objetivos e projetos políticos.