O bastidor da disputa eleitoral de 2026 pega fogo não só aqui no Paraná, com a concorrência pelo Palácio Iguaçu e pelas duas vagas ao Senado Federal, como também no cenário nacional. E tem pesquisa saindo do forno toda a semana, de mais de um instituto, com os mais variadores recortes e cenários — alguns até bastante inimagináveis.
O fato do governador Ratinho Junior (PSD) buscar a viabilidade eleitoral para a eleição do Palácio do Planalto, tem feito com que os paranaenses sejam consultados com frequência até insistente sobre o quadro eleitoral.
A bem da verdade, os eleitores estão mais preocupados com a alta dos alimentos e a taxa de inflação e juros, que corroem o poder de compra, do que com qualquer processo eleitoral. E as sondagens eleitorais mostram, na pesquisa espontânea, que a esmagadora maioria não sabe em quem votar. Muito natural, a mais de um ano e meio da eleição.
Mas no Centro Cívico, a divulgação de pesquisas provoca reações e até frouxos intestinais.
A Paraná Pesquisa trouxe diferentes cenários com a corrida pelo Palácio Iguaçu. Uns comemoraram, outros nem tanto. Mas os recados foram dados.
Sergio Moro
Em todos os panoramas pesquisados, o senador Sergio Moro (União Brasil) lidera até com certa folga, muito em função da popularidade alcançada com a atuação como juiz federal da Lava Jato e pelo pleito de 2022 quando conseguiu derrotar o candidato de Ratinho e do então presidente Jair Bolsonaro.
Em 2024, não conseguiu, nem de longe, transferir votos para o candidato a prefeito de Curitiba Ney Leprevost (União Brasil) que trouxe Rosangela Moro, cônjuge do senador, para a vice esperando contar com os apoiadores de Sergio Moro. Eles não vieram. O senador fez escolhas políticas equivocadas nos grandes centros urbanos, tendo conseguido eleger aliados apenas em Ponta Grossa, com a reeleição de Elizabeth Schimidt, e em Londrina com Tiago Amaral — embora este estivesse já cercado por Ratinho e Bolsonaro. Terá de tentar compor um time de lideranças políticas para 26.
Mas os números lhe são favoráveis e Sergio Moro vai em busca de viabilizar a candidatura — principalmente dentro do União Brasil onde o clima, hoje, é bélico com promessa de desfecho após as festividades carnavalescas. Pode ser um divisor de águas a depender da decisão de Antonio Rueda.
O ex-prefeito da capital Rafael Greca foi um que torceu o nariz para as pesquisas. Não gostou muito do que viu. Em sondagens anteriores, o desempenho fora melhor, mas os dados atuais refletem o descolamento do trabalho diário no Palácio 29 de Março. Oscilação bastante normal.
A locomoção, bastante necessária numa disputa pelo governo para correr os quatro cantos do Paraná, preocupa. A perda da esposa e conselheira, Margarita Sansone, e o recente afastamento de Giovani Gionédis para tratamento de saúde, deixaram Rafael Greca menos afiado do tino da conjuntura política — dependendo agora, quase que tão somente, do eterno assessor Lucas Navarro para ajudar na estratégia para 26.
Greca, que é o principal “perseguidor” de Moro, aposta todas as fichas no convite de Ratinho para compor o secretariado como um trampolim para chegar ao 3ºandar. Ele ouviu do chefe da Casa Civil, João Carlos Ortega, durante um almoço no Palácio Iguaçu, que o chamamento virá, mas não há certezas sobre a cobiçada Secretaria das Cidades que esteve tão mais perto e hoje parece mais longe. Cultura? Turismo? Comenta-se que estas podem ser as pastas ofertadas, resta saber se Greca aceitará ou se vai romper com o PSD.
Alexandre Curi
Alexandre Curi que apresentou o cartão de visita durante a posse na presidência da Assembleia Legislativa, com mais de 300 prefeitos, ficou animado com o resultado da pesquisa. Os mais próximos do neto de Anibal Khury contam que o planejamento previa chegar aos dois dígitos nas pesquisas para o governo do Estado apenas em julho. Objetivo já alcançado com a intensidade de exposição que o cargo, principalmente a posse, lhe trouxe. Assim como atraiu ciúmes de um naco do Iguaçu.
Será preciso avançar na popularidade, principalmente, nas grandes cidades, já que habilidade e costura política ele traz no DNA. É cada vez mais nítida a proximidade e o entrosamento do time de Curi com a turma de Ratinho, principalmente os da República de Jandaia. Mas falta o aval do capitão do time, que ainda não veio. As pesquisas colocam ele e Rafael Greca com viabilidade e densidade eleitoral dentro do PSD — com uma diferença, o ex-prefeito pode “espirrar o taco” a qualquer momento.
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Não se viu queima de fogos na chacrinha do Seminário, mas no reduto político de Ricardo Barros foram ouvidos estampidos de rojão e rolha de champanhe com as performances de Cida Borghetti na disputa pelo Iguaçu, depois de sete anos que deixou o palácio, e do deputado federal Pedro Lupion para o Senado — que debuta na ideia da Câmara Alta. Um prato cheio para Ricardo Barros fazer o que sabe de melhor: articulação política.
Guto Silva
Guto Silva, secretário de Planejamento, é mais um do PSD que sonha com a benção de Ratinho para virar governador. Com um diferencial, mais do que os outros, além da consagração, ele precisa estar fisicamente junto a Ratinho — que talvez tenha que se dedicar a rodar o país num plano nacional.
Guto Silva hoje talvez se arrependa de ter aberto mão da base eleitoral que o elegeu em 2018 deputado estadual, mas era o combinado com o chefe para assumir a poderosa Casa Civil no primeiro governo Ratinho. Em 22 chegou a sair do PSD, se filiar ao PP, e ensaiar uma candidatura ao Senado. Foi “desaconselhado” e se manteve como secretário. Vai precisar muito da articulação de Ratinho para viabilizar a candidatura. Sozinho não conseguiu eleger nem o prefeito de Pato Branco, sua cidade natal.
Sem falar na resistência do nome dele de parte do governo, leia-se time Ortega e o núcleo duro de Ratinho, que não topam a candidatura de Guto Silva.
Darci Piana: “o novo”
A novidade mesmo na pesquisa de Murilo Hidalgo foi testar o nome de Darci Piana, vice-governador, junto ao eleitorado. E não foi por acaso. Piana já avisou que não pretende disputar a eleição em 26, mas seria uma tábua de salvação para Ratinho fugir da “escolha de sofia” dentre os aliados do PSD. Além disso, cairia como uma luva numa estratégia cada vez mais repetida no Iguaçu: se o plano de Ratinho não prosperar no cenário nacional, ele volta forte como candidato em 2030 — com o impedimento legal de reeleição de Piana.
Os números da pesquisa não corroboram esta tese, mas com a aprovação na casa de 80%, Ratinho pode apostar em Piana e abrir a vaga do vice para um dos aliados — montando uma chapa puro sangue.
A candidatura de Piana, porém, contradiz com o discurso dito e repetido por Ratinho aos veículos nacionais, de que é hora da geração dele (80-90) assumir o protagonismo político e contribuir com o Brasil. Piana chegará em 2026 com 84 anos, colocando por terra o discurso de renovação.
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Do campo da esquerda, o único nome colocado para jogo pelo Paraná Pesquisa foi o de Ênio Verri — diretor da Itaipu Binacional. O desempenho ficou aquém do esperado, 6,7% no melhor cenário, talvez associado pelo péssimo momento político do presidente Lula com sucessivas quedas de popularidade que o deixam atônito e sem reação no Palácio do Planalto. A aposta do PT do Paraná deve se concentrar mesmo em Zeca Dirceu.
Senado Federal
Falando em Zeca Dirceu, vamos aos recados das pesquisas pela disputa ao Senado Federal. Colocado como uma opção, caso dê tudo errado na articulação nacional, Ratinho é disparado o grande favorito para levar uma das duas vagas. De dentro de casa ou da sede da rádio, ambas em Santa Felicidade, Ratinho só precisa de um celular para fazer os vídeos e de wifi para enviá-los para a produtora “dar um tapa”. Com 80% de aprovação, Ratinho só não será eleito senador se não quiser. E hoje ele não quer.
Filipe Barros (PL) e Cristina Graeml (Podemos), ainda desfrutando do recall do bom desempenho nas urnas em Curitiba, aparecem bem ranqueados na intenção de voto. Os dois devem travar um embate interessante já que dialogam com o mesmo público da centro direita até a extrema direita.
Filipe Barros sai na frente porque deve ter como principal cabo eleitoral o ex-presidente Jair Bolsonaro — a depender de como chegará o Capitão em 2026. É possível que ele tenha apoio também de Ratinho Junior — se o acordo firmado em 24 for cumprido e o grupo político trabalhar para eleger um do PL e outro do PSD.
Deltan Dallagnol, sempre lembrado nas pesquisas, estaria disposto a travar uma guerra jurídica para comprovar sua elegibilidade — já que apesar de ter o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), estaria apto à enfrentar as urnas já que teve o registro da candidatura indeferido. É a grande aposta do Novo e assim como Filipe Barros e Cristina Graeml vai em busca dos votos da Direita.
Muitos candidatos da Direita pode trazer dois resultados: a conquista das duas vagas ou um racha que abra caminho para o petista Zeca Dirceu, que terá de buscar a convergência das diferentes alas do PT em torno de seu nome ao Senado.
Requião e Curi lideram em um dos cenários
Roberto Requião e Alexandre Curi também foram colocados no rol de candidatos à Câmara Alta. Eles, inclusive, chegam a lideram em um dos cenários sem Ratinho Junior na briga — superando Filipe Barros e Cristina Graeml. Neste recorte, Requião apareceu na dianteira.
Sensação de Déjà-vu? Na última eleição de Curitiba, o ex-governador chegou a liderar a pesquisa juntamente com Eduardo Pimentel. Terminou o pleito com pouco mais de 17 mil votos ou 1,8%. Um dos políticos que mais disputou e venceu eleições no Paraná vive deste histórico político.
O desempenho de Curi ao Senado… bom, Alexandre Curi está pensando no Palácio Iguaçu, não em Brasília. Até porque o time do presidente da Assembleia tem certeza que ele, com o apoio de Ratinho, vence Moro nas urnas.