Governo “enquadra secretários” durante reunião no Iguaçu

Em reunião no Palácio, Governo deu o recado bastante claro aos secretários: ou ajusta a agenda com os deputados ou "tá fora"

Passava das 19h desta terça-feira (25) quando alguns secretários de Estado começaram a deixar o Palácio Iguaçu. Saiam do 2º andar da sede do Poder Executivo, alguns com sorriso amarelo, após uma tensa reunião na sala do GGI (Gabinete de Gestão Integrada) comandada pelo chefe da Casa Civil, João Carlos Ortega.

Foi um encontro com uma pauta indigesta. Na semana passada, o deputado Hussein Bakri, líder do governo Ratinho Junior na Assembleia Legislativa, soltou o verbo reclamando abertamente da atuação política de alguns dos secretários. O “desabafo”, que pedia respeito ao Poder Legislativo, surtiu efeito.

Um dos presentes disse ao Blog Politicamente, que nunca viu uma fala tão dura de Ortega, que tinha, claro, o pleno aval do governador para subir o tom com o time de secretários. Aliás, Ratinho não estava — já tinha encerrado o expediente e dado o play nas curtas férias com a família pelos Estados Unidos. Mas antes de embarcar, alinhavou o discurso com Ortega.

O chefe da Casa Civil estava ombreado pelo vice-governador Darci Piana e por Darlan Scalco — chefe de gabinete de Ratinho. Mas foi Ortega quem puxou o sermão no 1º escalão do governo. O recado foi bem claro: “ou ajusta ou tá fora”. A ordem do Palácio Iguaçu é para respeitar os deputados e dividir os “louros” com o legislativo — e não tem mais agenda de secretário, com anúncio de obras e recursos ao lado de prefeitos, em dias de sessão na Assembleia.

Foto: Arquivo AEN

A foto desta matéria é ilustrativa. Ninguém arriscou fazer uma chapa. Mas o secretariado de Ratinho Junior estava quase todo completo. Guto Silva, que comanda a pasta do Planejamento, estava num compromisso em São Paulo. Sandro Alex, da Infraestrutura, foi outra ausência — embora tenha enviado o diretor-geral, José Brustolin Neto, para representá-lo.

Márcio Nunes, secretário de Turismo e um dos principais alvos do descontentamento dos deputados, chegou atrasado, mas foi. No mais, todo o time de Ratinho atendeu ao chamado: Norberto Ortigara, Rogério Carboni, Santin Roveda… Alguns poucos, os secretários que não têm pretensão política, ouviram o “esporro”, mas tinham ciência de que o discurso tinha destino certo e teleguiado.

Apesar do tom duro, houve interação entre os presentes. O secretários indagaram sobre as agendas que são marcadas diretamente pelos prefeitos e como lidar com a chegada inusitada da “prefeitada” na secretaria buscando atendimento. A ordem foi: sempre dar ciência aos deputados e todo e qualquer evento de anúncio ou entrega de obra ou recursos do governo, os parlamentares terão de estar presentes.

E para que não haja qualquer dúvida ou engano, proposital ou não, a Assembleia Legislativa vai encaminhar nos próximos dias à Casa Civil a relação dos municípios que cada deputado estadual representa. “É para acabar toda e qualquer desculpa”, afirmou um secretário ao Blog Politicamente.

Surtiu efeito

No fim das contas, o desabafo de Hussein Bakri, que encontrou eco na base governista, surtiu efeito. Ou pelo menos parece. Vamos ver até quando. Até porque, não foi a primeira reclamação do gênero — e só alguém muito otimista pode acreditar que foi a última.

A Casa Civil já editou até uma orientação ao secretariado sobre a relação com o legislativo em eventos do governo. Nos primeiros meses a situação se acalmou, mas depois desandou de novo, a ponto de Hussein Bakri subir à tribuna, representando os deputados da base, para vociferar:

“Secretários se acham maiores do que o governador. Não respeita figura do deputado. Isso vai acabar ou pelo menos diminuir bastante. Eu vou enfrentar isso com muita força, custe o que custar”, disse Hussein.