Alvo da Lava Jato, CCR leva leilão do Lote 3 após acerto de contas com a Justiça
A concessionária CCR arrematou o Lote 3 do Sistema Integrado de Rodovias do Paraná após a disputa acirrada na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3. O lance vencedor foi de concessão de 26,6% de desconto para a tarifa básica de pedágio — que é de R$ 0,14 por km. O resultado foi divulgado na tarde desta quinta-feira (12).
A previsão é de que a vencedora assuma as rodovias a partir de 2025 — permanecendo até 2055. A empresa vai administrar quatro rodovias estaduais e três federais, totalizando 569 km, que passam por 22 cidades, e fazem a ligação da região norte do estado com a BR-277, até o Porto de Paranaguá, no litoral. Pelo contrato, o investimento será de R$ 16 bilhões para custear a duplicação de 132 quilômetros, 25 quilômetros de faixas adicionais, 22 passarelas e 24 quilômetros de ciclovia.
A ausência da CCR nos dois lotes anteriores das rodovias do Paraná chamou a atenção, mas nos bastidores era dada como certa a entrada agressiva do grupo na disputa pelas rodovias que cortam o interior do estado. E assim foi.
O acerto de contas após a Lava Jato
Mas a presença da CCR neste e em outros leilões guarda relação direta com a decisão do grupo de acertar as contas com a Justiça. O Grupo CCR foi alvo da Lava Jato em esquema de corrupção com o poder público em troca de contratos e decidiu firmar dois acordos de leniência — um com o Ministério Público de São Paulo e outro com o Ministério Público do Paraná. Foram pagos mais de R$ 800 milhões em indenizações como forma de restituição dos valores desviados aos cofres públicos.
No acordo com o MPF do Paraná, a concessionária Rodonorte, do grupo da CCR, admitiu o pagamento de propinas milionárias a integrantes do governo do Paraná – na gestão do ex-governador Beto Richa. A propina foi paga por 20 anos à agentes públicos e políticos, segundo o MPF, em troca da supressão de obras previstas em contrato e de reajustes de tarifas em seu benefício. A Rodonorte admitiu ainda que deu propina para a agência que regula as concessões de estradas no Paraná.
A CCR confessou os crimes, pagou R$ 750 milhões em multa e reduziu em 30% o valor das tarifas das praças de pedágio que mantinha no estado.
Em São Paulo, a CCR reconheceu que deu cerca de R$ 25 milhões em recursos de caixa dois para tucanos e petistas, mas afirmou que nunca pagou propina. Por conta disso, pagou multa de R$ 81,5 milhões para se livrar de processos na Justiça paulista.
Após acertar as contas com a Justiça, a CCR turbinou a carteira de concessões na área de infraestrutura: arrematou, por exemplo, aeroportos da região Central e Sul do Brasil. No Paraná, administra os aeroportos Afonso Pena, em São José dos Pinhais, do Bacacheri, em Curitiba, além do de Foz do Iguaçu e o de Londrina.