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O Tribunal de Justiça do Paraná (TJ) terá pela primeira vez na história uma mulher comandando a instituição — após 57 homens presidentes, a desembargadora Lídia Maejima vai a ocupar a partir de 2025 o cargo mais alto da cúpula do Judiciário do Paraná. É um feito e tanto. Na bolsa de apostas, ela não era apontada como favorita. Os mais cotados eram os desembargadores Jucimar Novochadlo e Ramon de Medeiros Nogueira, este último era o candidato do atual presidente, desembargador Luiz Fernando Tomasi Keppen. Mas em votação sigilosa, a traição não é privilégio só da política partidária.
Lídia Maejima passou para o segundo escrutínio com 33 votos — apenas um a mais que Ramon de Medeiros Nogueira e atrás de Novochadlo que alcançou 40 votos. No 2º turno, ela mais que dobrou de tamanho chegando aos 74 votos — atraindo eleitores dos demais concorrentes, dentre eles os de Joeci Machado Camargo, que é a atual 1ª Vice-Presidente, que recebeu 20 votos.
O Blog Politicamente conversou com alguns desembargadores e fontes ligadas ao Judiciário paranaense após o resultado do pleito. O resultado impressionou muito magistrado com anos de toga. Alguns entenderam como um recado e comentam que a gestão de Lídia Maejima pode representar um choque de realidade. Ela, que foi juíza por muito tempo em Londrina, é tida como “cintura dura, juíza caneta pesada, mas, muito respeitada”. “Seríssima e independente. Acabou a política!!!”, reagiu uma das fontes ouvidas, citando, por exemplo, que ela abre mão do veículo que é cedido aos desembargadores pelo TJ paranaense. Um magistrado com mais de duas décadas de Casa cita que a nova presidente tem pulso e posições muito firmes.
Apesar do pouco traquejo político, pessoas próximas a ela abriram diálogo com algumas alas dentro do tribunal na virada — o que explica o desempenho no segundo escrutínio.
A unanimidade ficou por conta da surpresa do resultado. Ninguém esperava. Teve advogado com bom trânsito entre os 3 Poderes que, de tão certo da vitória de Ramon de Medeiros Nogueira, ofereceu um almoço para alguns magistrados nesta segunda-feira (11) no escritório dele no Centro Cívico, esperando pela eleição que não veio. Aliás, alguns consideram que pesaram contra ele o pouco tempo de magistratura (menos de 10 anos) e o fato de ser oriundo do Quinto Constitucional destinado a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/PR). De fato, alguns votantes torcem o nariz para candidatos que não galgam a missão de judicar em comarcas do interior e passar pelo périplo de chegar a capital do Estado.
Há quem também relacione à derrota de Ramon de Medeiros Nogueira à abertura do cofre do TJ para liberação de pagamentos remuneratórios/indenizatórios feitos recentemente pela atual gestão. É uma hipótese. Uma recente reportagem do jornal Estado de São Paulo mostrou que foram repassados mais de R$ 27 milhões aos magistrados à titulo de Gratificação por Acúmulo de Função (GAF) e Adicional por Tempo de Serviço (ATS) — benefícios estes, legais, que são regulamentados por atos da própria instituição.
Poucos arriscaram entender a derrota de Novochadlo — principalmente pelo placar elástico. Tido como um desembargador bastante sério e trabalhador, um dos motivos seria a pouca interlocução com algumas alas do TJ e a falta do approach com os votantes, principalmente, na segunda etapa da eleição.
O feito da desembargadora Lídia Maejima é histórico por vários prismas. Não só pelo viés de gênero — que aliás era uma demanda reprimida pelos corredores do TJ. Aliás, outra conquista “delas” foi a eleição da desembargadora Ana Lúcia Lourenço para a corregedoria — também de forma inédita uma mulher ocupa tal função. Foram eleitos ainda nesta segunda-feira os desembargadores Hayton Lee Swain Filho como 1º vice-presidente e Fábio Haick Dalla Vecchia o 2º vice-presidente, Fernando Wolff Bodziak como Corregedor Geral, para a Ouvidora Geral foi escolhido o magistrado Ruy Alves Henriques Filho e José Américo Penteado de Carvalho como Ouvidor.
Numa nota divulgada pelo TJ, a desembargadora Lídia Maejima comentou a eleição.
“Externo a todos, indistintamente, os meus sinceros agradecimentos pela confiança que depositaram em meu nome para dirigir o nosso egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Terminada a eleição, o momento é de união e diálogo institucional. Tenho plena consciência da redobrada responsabilidade que recai sobre meus ombros não só pela missão de dirigir o quarto maior tribunal do nosso país, mas também por ser a primeira mulher a receber esta nobre missão. Reafirmo a todos que meu único propósito, ao me dispor a dirigir este tribunal, é o de fazer o melhor pelo nosso judiciário para consequentemente proporcionar a melhor prestação jurisdicional para o povo do estado do Paraná”
Por meio de uma nota, o presidente da Amapar (Associação dos Magistrados do Paraná), o juiz Marcel Ferreira dos Santos, felicitou a mais nova cúpula do Tribunal de Justiça do Paraná assim como a nova composição do Órgão Especial e Conselho da Magistratura. “Desejamos sucesso e uma gestão profícua para todos os eleitos, certos de que exercerão suas funções com responsabilidade e comprometimento em prol de uma Justiça cada vez mais justa e eficiente”.
Quem também se manifestou numa rede social foi o Grupo Antígona, primeiro coletivo de juízas no Brasil composto por mais de 200 magistradas ativas e inativas do Tribunal paranaense, que saudou a nova presidente.
“1/11/2024: Esse dia é simbólico, histórico e marca o início de uma nova era, uma era em que as mulheres podem se ver representadas também no exercício de cargos de liderança”
A posse de todos os eleitos ocorrerá no primeiro dia útil do mês de fevereiro de 2025.