Operação do Gaeco prende duas advogadas em Curitiba; delegado é alvo de busca

Atualizado às 17h28

Duas advogadas foram presas na manhã desta quarta-feira (30) em Curitiba por agentes do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) que deflagraram três operações simultâneas que investigam suspeitos de envolvimento em crimes de homicídio e corrupção relacionados a um líder de uma facção criminosa voltada ao tráfico de drogas e outros crimes no estado do Paraná e Santa Catarina. Um policial penal e um delegado da Polícia Civil do Paraná foram alvos de mandados de busca e apreensão cumpridos na residência e no local de trabalho dos investigados.

Mais cedo, o Blog Politicamente informou que o policial penal havia sido detido, mas a informação correta é que ele foi alvo de busca e apreensão, não tendo, assim, mandado de prisão contra ele. As duas pessoas detidas pelo Gaeco foram duas advogadas que foram encaminhadas para o Complexo Médico Penal (CMP), na cidade de Pinhais.

Os nomes dos investigados estão sendo mantidos em sigilo, mas o Blog Politicamente apurou com uma fonte que o alvo da busca foi o delegado Francisco Caricati — que era chefe do Departamento de Polícia Penal do Estado do Paraná (Deppen) e atualmente da expediente na Delegacia de Trânsito da cidade de Maringá. Ao todo, o Gaeco cumpriu 17 mandados de busca e apreensão e dois de prisão temporária — expedidos pelos juízos da 4ª e da 5ª Vara Criminal de Curitiba e da 2ª Vara Criminal de São José Pinhais.

Os mandados foram cumpridos no âmbito de três operações distintas — Noturno, Pêndulo e Dolus, mas apuram situações conexas. A primeira delas apura um homicídio praticado no interior da Casa de Custódia de São José dos Pinhais, em outubro de 2022, que teria sido ordenado pelas lideranças da facção criminosa por suspeitas de traição da vítima ao grupo criminoso. A operação Pêndulo é voltada a apurar o pagamento de propina para o ex-chefe do Depen e do então diretor da Cadeia de Custódia de São José dos Pinhais em troca de conceção de regalias ao líder da facção criminosa. Ainda dentro desta investigação, o Gaeco apura a interferência de agentes públicos em manobras para evitar a transferência do preso para um presídio federal.

 

Foto: Reprodução RIC/TV

 

Já a ação batizada como Dolus investiga a suposta oferta de vantagem indevida feita pelo líder da facção criminosa, por intermédio de seus advogados, para servidores do Deppen, com o fim de escolher em qual unidade prisional estadual ele seria conduzido após ter sido preso, além de fornecer regalias enquanto estava detido.

O Blog apurou ainda que as três operações deflagradas nesta quarta-feira como ponto de convergência Marcos Silas Neves de Souza apontado como líder de uma organização criminosa. Ele foi preso em 2021, em São Paulo, quando tentava fazer uma cirurgia plástica. A Polícia Federal considera que Marcos Silas era um dos maiores traficantes de cocaína do Brasil e que lavava o dinheiro do tráfico comprando imóveis de luxo no litoral de Santa Catarina. Para se ter uma ideia do poderio econômico do traficante, a PF identificou 260 apartamentos pertencentes a Marcos Silas.

 

Foto: Reprodução RPC/TV

 

A partir da prisão de Marcos Silas é que os crimes apurados pelo Gaeco teriam sido cometidos. O caso foi denunciado pelo jornalista Ricardo Vilches numa série de reportagens da RIC TV sobre facções criminosas — que chegou a ser censurada pela Justiça do Paraná a pedido do delegado Francisco Caricati.

Uma dos reportagens da série exibiu um relatório interno do Departamento de Polícia Penal do Estado do Paraná em que detalhava um suposto esquema de pagamento de propina, no valor de R$ 1 milhão, por um traficante ao ex-diretor do órgão Francisco Caricati. Esta denúncia constava num relatório elaborado em 2022 pela Agência de Inteligência do departamento, mas nunca tinha sido investigada. Só após a série da RIC TV é que o caso passou a ser investigado pela Secretaria da Segurança Pública numa sindicância, que foi concluída e encaminhada para as autoridades competentes — entre elas o próprio Gaeco, através do Ministério Público.

Ainda com base em informações deste relatório de inteligência, o traficante teria sido ouvido por agentes do Deppen e teria dito que foi “traído” pela gestão de segurança da unidade prisional, da época — já que ele teria pago R$ 1 milhão para não ser transferido para uma penitenciária federal, de segurança máxima, e permanecer detido numa ala do presídio de São José dos Pinhais em que teria mais regalias, como o uso de aparelho celular na cela.

Marcos Silas acabou sendo transferido para um presídio federal de segurança máxima em Campo Grande (MS), em 2022, por determinação judicial.

Outro lado: No fim da tarde desta quarta-feira, os advogados que representam o delegado Francisco Alberto Caricati informaram que não tiveram acesso à investigação “motivo pelo qual, neste momento, não irá se pronunciar”. Na época da série de reportagens da RIC TV, o delegado Francisco Caricati negou qualquer tipo de irregularidade durante a gestão no Deppen, questionou a veracidade do relatório de inteligência e afirmou que a denúncia contra ele era falsa.

 

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