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Por Karlos Kohlbach
A convenção do PSD do pré-candidato Eduardo Pimentel, neste sábado, reuniu, como era previsível, centenas e centenas de pessoas — muitas delas servidores municipais e estaduais, mas também apoiadores que levaram bandeiras e adereços. Alguns rostos com passagem por convenções de Beto Richa e Luciano Ducci — quando eram prefeitos e disputaram a reeleição.
O início do evento foi marcado por tumulto e confusão, justamente pelo número de pessoas no lugar. Ninguém se entendia. Deputados, prefeitos, secretários narraram dificuldades em ingressar no local.
Parte da imprensa, a base de muito custo, conseguiu captar algumas palavras das autoridades presentes. Muitos sequer tiveram acesso às “estrelas” da convenção. Num chiqueirinho montado para os profissionais da imprensa trabalharem, alguns veículos exercitaram a prática de leitura labial para tentar entender uma ou outra frase, tamanha era a distância. Sem ouvir nada, o que chamou a atenção no momento da entrevista foi o resultado do tratamento capilar do chefe da Casa Civil, João Carlos Ortega, que desfilou a nova cabeleira.
Uma apoiadora de Eduardo Pimentel com o cartaz que exibia um tatu, numa referência ao bairro Tatuquara, conseguiu adentrar o tal chiqueirinho das autoridades. Fora isso, pouco se ouviu das muitas autoridades presentes — do governador Ratinho Junior, ao prefeito Rafael Greca, Eduardo Pimentel e muitos deputados e secretários de estado.
Passado o perrengue e vencida a etapa de falar, ou tentar falar, com a imprensa, as estrelas percorreram o salão num corredor humano até chegar ao palco. Lá em cima, mais deputados, secretários, prefeitos… e o ex-governador Paulo Pimentel, avô de Eduardo, que foi uma estrela à parte. Lúcido, discursou, arrancou risadas, disse que Eduardo aprendeu muito com Greca e Ratinho e pediu ao neto para que, na prefeitura, supere Rafael Greca — numa analogia do “aprendiz que supera o mestre”.
Aliás, Greca foi quem monopolizou o microfone — para surpresa de zero pessoas. Carismático, discursou por mais tempo fazendo uma espécie de prestação de contas de pouco mais de sete anos e meio de mandato. E durante a fala, mandou alguns recados — marca desta convenção do PSD. A prefeitura parece que assimilou o golpe desferido pelos adversários políticos nesta fase de pré-campanha que apontou para o problema de falta de vaga em creches na cidade.
Greca aproveitou o evento político para anunciar que na próxima semana vai aumentar a oferta de 10 mil vagas de creches em Curitiba. “Já separei o dinheiro e preparei o edital”, adiantou, numa clara resposta a oposição e numa tentativa de esvaziar críticas ao tema durante a campanha eleitoral.
Não foi o único recado passado na convenção. O principal deles é que “Eduardo está preparado”. Este deve ser o mote da campanha desenhada por Juca Pacheco e João Debiasi, num enredo de acúmulo de experiência na prefeitura e no governo do Estado, através da secretaria das Cidades, que o torna preparado para administrar o Palácio 29 de Março. Jingle, vídeo, telão — em tudo estava a palavra “preparado”.
O evento marcou ainda a unidade em torno dos palácios Iguaçu e 29 de Março. As máquinas públicas estão juntas em torno de Eduardo Pimentel. Greca e o vice Paulo Martins também fizeram questão de passar a ideia de que as rusgas políticas ficaram para trás — foi o pedido feito por Ratinho durante uma recente reunião com os dois no Palácio Iguaçu. Se não for um sentimento verdadeiro, eles atuaram bem.
Um até elogiou o outro no palco.. quem diria. Paulo Martins falou antes do prefeito e rasgou elogios ao agora “ex-traidor”. “A história de vida do prefeito Rafael Greca é confundida com a história de Curitiba. Se Curitiba se encarnasse em uma pessoa, seria no Rafael Greca”, disse, dizendo que já o apoiou em outros tempos. Paulo Martins só não ganhou nota 10 porque citou Jair Bolsonaro no discurso — quando Greca fez cara de paisagem enquanto muitos aplaudiam.
Jornalista por formação, Paulo Martins improvisou na fala e arrancou gargalhadas quando, se dirigindo a Eduardo Pimentel, largou: “quando vencermos a eleição e estarmos os dois no gabinete do prefeito, então lá o Paraná Clube será maioria”, fazendo referência a não muito numerosa torcida do tricolor da Vila Capanema.
O vídeo do ex-chefe da Lava Jato no Ministério Público Federal, Deltan Dallagnol, transmitido no telão foi o recado para as investidas de Sergio Moro (União Brasil) que tem a esposa como vice de Ney Leprevost — talvez o principal adversário do candidato dos palácios — que tentou refazer, sem sucesso, a dobradinha dos tempos da Lava Jato. Ele reforçou o apoio dele e do Novo para a chapa Eduardo/Paulo.
Deltan enalteceu o povo curitibano no apoio aos feitos conquistados pela Lava Jato e elogiou Paulo Martins pela afinidade da atividade política e o combate instransigente ao PT e ao govenro Lula. “Curitiba não pode cair nas mãos do PT e da esquerda”, disse Deltan, que está curtindo os últimos dias de uma miniférias ao lado da família antes do início da campanha eleitoral.
Falando em esquerda, para frear um possível apoio de parte do funcionalismo da saúde municipal ao médico e ex-prefeito Luciano Ducci, o PSD escalou a deputada Márcia Huçulak — que foi a mais votada na capital em 2022. Sem citar nome de adversário, falou que a informatização da saúde, proposta por rivais, já é uma realidade em Curitiba. “Eles estão atrasados uns 30 anos”. A cada palavra de Huçukak, Greca se derretia pela ex-secretária de Saúde.
Ao tomar o microfone e se locomover com visível dificuldade ao púlpito, Greca “tomou conta” da convenção. Aos elogios de Paulo Martins, retribuiu destacando a atuação do correligionário de Bolsonaro quando era deputado federal. “O Paulo Martins arrumou verbas para o hospital do Cajuru e para a recuperação de Curitiba, que estava falida”, afirmou, num outro recado aos ex-prefeitos que buscam novamente administrar Curitiba.
O prefeito acenou ao chefe do Palácio Iguaçu, a quem pretende ajudar na gestão a partir de janeiro de 2025, ao falar que Ratinho é um nome presidencial em 2026 — para sorrisos do governador. Ao fim do discurso, chamou Ratinho e Eduardo e como dois padrinhos abençoaram o pré-candidato do PSD. “É um momento de crisma. Que Deus lhe dê um coração de prefeito”, desejou Greca. O governador disse que Eduardo Pimentel é como um avião e que agora é hora de fazer esta máquina decolar.
A grande estrela da convenção falou por último. Enalteceu a família, os dois principais cabos eleitorais, acenou ao funcionalismo e aos partidos aliados, assim como aos pré-candidatos à Câmara de Curitiba, e se disse preparado para assumir a prefeitura. Pimentel foi quem mandou o recado mais direto aos adversários. “Depois que nós (ele e Greca) arrumamos tudo (na prefeitura) eles querem voltar. Não vão voltar. Nem eles nem os oportunistas políticos, os demagogos”.
Diante de uma convenção recheada de recados e indiretas, algumas curiosidades chamaram a atenção. Apesar do apoio quase maçico da base governista na Assembleia Legislativa, o presidente da Casa, Ademar Traiano, não foi à convenção. Talvez pela mácula dos Acordos de Não Persecução Penal e Cível assinados com o Ministério Público num caso de corrupção que o livrou de responder criminalmente — assunto questionado a Eduardo Pimentel numa sabatina.
A presença de Santin Roveda, secretário da Justiça de Ratinho, também é curiosa. Não pela aparição na convenção do PSD, mas pela ausência no evento de Ney Leprevost — já que ele foi indicado pelo União Brasil para comandar a pasta no Palácio Iguaçu.