Euler quer homenagear policiais que prenderam Maria Letícia
O vereador Professor Euler (MDB) apresentou dois projetos na Câmara Municipal de Curitiba em que solicita votos de Congratulações e Aplausos para dois soldados da Polícia Militar: Anderson Pereira e Roberta Valério Oliveira de Jesus. Para quem não liga o nome à pessoa, estes dois policiais foram os que atenderam a ocorrência do acidente de trânsito provocado pela vereadora Maria Letícia (PV) e prenderam a parlamentar em flagrante por desacato e suspeita de dirigir sob efeito de álcool.
Os dois projetos foram protocolados um dia depois que o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara de Curitiba rejeitou o parecer feito pelo vereador Professor Euler que recomendava a cassação do mandato de Maria Letícia por quebra de decoro parlamentar — justamente pelo desacato e abuso de autoridade contra os policiais militares. Foram os depoimentos do soldado Anderson Pereira e da soldado Roberta Valério Oliveira de Jesus que convenceram Euler da prática de desacato.
O Conselho de Ética acabou aprovando, por maioria, o parecer do presidente do colegiado, vereador Dalton Borba, que previa a suspensão das prerrogativas regimentais do mandato de Maria Letícia por seis meses. Um dia depois, Euler apresentou os projetos que homenageia os dois policiais. Estas duas propostas podem ser apreciadas na sessão desta segunda-feira (29).
Explicação — Na justificativa de homenagem aos soldados da PM, Euler cita que “apesar de terem sido desacatados, chamado de lixo, de assediador, de covarde, e ter ouvido ‘esses bostas não devem ter nem o ensino médio’, os dois policiais em momento algum deixaram de agir com profissionalismo. Ao contrário, os dois policiais militares mostraram preparo e autocontrole, tratando com educação e respeito inclusive quem o desacatou insistentemente”.
Depois que se livrou do processo no Conselho de Ética, Maria Letícia se manifestou nas redes sociais e voltou a criticar o trabalho dos policiais militares. A parlamentar afirmou que foi humilhada e reafirmou que a atuação da Polícia Militar foi truculenta. Alguns vereadores, ouvidos pelo Blog Politicamente, classificaram os projetos como uma reação de Euler ao resultado do processo no Conselho de Ética.
“A punição branda imposta à vereadora, contrariando o meu relatório pela cassação, pode passar à sociedade a impressão de que os errados da história foram os polícias. E, definitivamente, não foram. Eles agiram rigorosamente dentro da lei o tempo todo”, disse Euler. “Cabe à Câmara Municipal, formada pelos representares eleitos dos cidadãos curitibanos, reconhecer o trabalho destes dois policiais e não permitir que narrativas inventadas ataquem a honra e atividade deles e de toda a Polícia Militar”.
Crítica — O advogado Guilherme Gonçalves, que defende Maria Letícia no processo no Conselho de Ética, disse ao Blog Politicamente que estranhou a seletividade da homenagem. “O vereador Professor Euler homenageia um soldado que sequer pode depor porque, de forma oportunista, resolveu processar a Vereadora Maria Letícia – e demonstrando ou desconhecimento jurídico, ou má-fé digna dos piores momentos da Lavajato, ainda usou depoimentos unilaterais desse soldado para atacar Maria Letícia”, disse
Pior, cita o defensor, “homenageia os dois policiais que jogaram Maria Letícia, com 64 anos, num porta-mala de uma Duster – mas, tal qual esses soldados, ‘esquece’ de homenagear o responsável pelo comando do BPTran naquela noite, o Tenente Fagundes, que acompanhou o atendimento do caso. Será que foi porque esse graduado integrante da PM do Paraná desmentiu, em seu depoimento, o desacato – inclusive mostrando que o BO era incorreto, pois não registrou sua presença no acidente, e ainda contrariou a fala de um dos soldados, que disse ter registrado o desacato por orientação de seu superior?”, questiona Gonçalves.
“A verdade é uma só: a vontade de ganhar popularidade fácil com ataques moralistas e desqualificadoras da política já é tática velha, normalmente usadas por quem age com preconceito e, nesse caso, misoginia. E normalmente que usa esse tipo de expediente não tem credibilidade alguma, e esconde praticas piores. Será o caso do Vereador Euler? Com a palavra, a Justiça Eleitoral”, completou o advogado.